Encontro de Severino com gays incomodou cúpula da Igreja

Mesmo sendo um defensor fervoroso dos princípios católicos, o gesto do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), de receber em seu gabinete um grupo de militantes gays para discutir o projeto que legaliza a união civil de homossexuais incomodou bastante a cúpula da Igreja no Brasil. O cardeal-arcebispo emérito do Rio de Janeiro, Dom Eugênio Sales, não foi o único que criticou o gesto de Severino. O cardeal-arcebispo do Rio, Dom Eusébio Scheid, telefonou para deputados ligados à Igreja Católica para condenar o fato.
Nesta quarta-feira, Severino rebateu as críticas de Dom Eugênio, feitas na Cidade do Vaticano, logo depois de celebrar uma missa em memória do Papa João Paulo II na terça-feira. O cardeal de 84 anos disse que era “errado” o fato de Severino receber “o pessoal do homossexualismo”. Severino argumentou que continua com posição contrária ao que chamou de “casamento gay”. Mas disse que, como presidente da Câmara, não podia ter discriminação.
– Eu não tenho nada a ver com o que ele (Dom Eugênio) diz. A posição dele é dele. Eu sou presidente da Câmara dos Deputados. Neste cargo, tenho que receber todos os segmentos da sociedade brasileira. Não tenho discriminação contra ninguém. Agora, não mudei de posição: se o projeto for votado, vou descer ao plenário e ficarei contra o projeto do casamento gay – desabafou Severino, demonstrando contrariedade com a posição de Dom Eugênio, a quem chama de “aliado”.
O desconforto da Igreja com Severino ocorreu logo depois de um tumultuado encontro que ele teve no gabinete com gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e pessoas que mudaram de sexo cirurgicamente, no dia 16 de março. Na ocasião, ele prometeu desengavetar projetos de interesse deles em tramitação na Casa e agir como magistrado. Saiu aplaudido como novo queridinho de líderes homossexuais do país.
Dom Eusébio telefonou, por exemplo, para o deputado Padre José Linhares (PP-CE), reclamando do fato.
– Mas o Severino não é católico e nosso aliado? Como ele faz isso e recebe este pessoal? – questionou Dom Eusébio para Padre José Linhares, segundo relatou o próprio deputado.