Deixem os pais serem pais

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Nicholas D. Kristof, do The New York Times
Essa é minha profecia sobre o próximo papa: ele permitirá que homens casados se tornem padres.
É simplesmente uma questão de sobrevivência: por todo o mundo, a Igreja Católica está ficando sem padres. Nos EUA, havia um padre para cada 800 católicos em 1965, enquanto hoje existe um para cada 1.400 católicos – e a idade média é de quase 60 anos. Em todos os EUA, com 65 milhões de católicos, apenas 479 padres foram ordenados em 2002.
O resultado é que a Igreja Católica está perdendo terreno em todo o mundo para as igrejas evangélicas e especialmente as pentecostais. No Brasil, que tem mais católicos do que qualquer outro país, os pentecostais estão crescendo tão rapidamente que podem superar os católicos nas próximas décadas.
Ninguém entende mais a desesperada necessidade de clero do que os próprios cardeais. De fato, o próprio João Paulo 2o abriu o terreno para o fim da obrigatoriedade do celibato.
Poucas pessoas percebem isso, mas existem hoje por volta de 200 padres católicos sob uma dispensa especial dada pelo Vaticano para pastores de suas denominações – episcopais, luterano e etc – que já são casados e desejavam se converter ao catolicismo romano (tipicamente porque sentem que suas igrejas estão amolecendo ao ordenar mulheres ou gays).
“Não chega a ser uma questão”, o padre John Gremmels, um desses padres casados, em Fort Worth, me disse do seu status como um pai do jeito tradicional.
O Vaticano também permite que católicos do leste, em lugares como a Ucrânia e Romênia, tenham padres casodos. Isso é parte de um antigo acordo: eles seriam católicos e aceitariam a autoridade do papa, ficando de fora da Igreja Ortodoxa, e em troca poderiam ter um clero casado e rituais na língua local.
Pesquisas mostram que 70% dos católicos americanos acreditam que os padres deveriam poder se casar. David Gibson, autor de “The Coming Catholic Church”, cita o cardeal Roger Mahony dizendo que é razoável levantar a questão e acrescentando: “Nós tivemos um clero casado desde o primeiro dia, desde São Pedro”.
É verdade que São Pedro, o primeiro papa, era casado, e muitos dos apóstolos e primeiros papas. Mas então os cristãos começaram a colocar mais ênfase na castidade, com Tertuliano descrevendo as mulheres como “os portões do inferno”.
Orígenes de Alexandria, o grande filósofo cristão do século três, castrou a si mesmo. E Hugo de Lincoln, um bispo do século 12 que depois foi canonizado, alegou que um ser celeste o favoreceu ao descer dos céus e o castrar, o tornando muito mais em paz.
Na Idade Média, a igreja estava atolada em corrupção e a tendência era os padres deixarem seus bens para seus filhos. Então, nos séculos 11 e 12 as regras do celibato foram formalizadas.
É claro, a igreja às vezes se adapta a cultura local. A cristandade é mais dinâmica na África, mas o clero africano freqüentemente reclama que tentativas de atrair padres esbarram na ênfase cultural de se ter filhos. Na África central há alguns anos, um padre italiano me falou sobre os filhos de um bispo local. Eu achava que ele falava metaforicamente sobre os paroquianos, mas o missionário balançou a cabeça.
“Não, ele tem uma mulher”, o padre falou do bispo. “O celibato é algo que vai contra a cultura daqui. Na verdade, se acharmos um padre que se mantém apenas com uma mulher, nós o promovemos a bispo”.
Ordenar mulheres também seria uma forma excelente de fornecer uma nova fonte de clero. João Paulo escreveu rigorosamente sobre a dignidade e igualdade da mulher, até mesmo apoiando o orgasmo feminino. Um de seus sucessores como papa certamente aplicará esses preceitos de igualdade na igreja e permitirá a ordenação das mulheres. Mas talvez não no próximo papado.
É freqüentemente conhecido que o papa João Paulo 2o escolheu todos menos três dos cardeais que escolherão o próximo papa, mas isso não necessariamente significa outro papa conservador. Apesar de tudo, o papa Pio 12 escolheu todos menos dois dos cardeais que em 1958 escolheram o seu sucessor, o bem mais aberto papa João 23.
Como o meu colega do New York Times, Peter Steinfels, escreve em “A People Adrift”, seu livro sobre católicos: “Hoje, a igreja católica romana nos EUA está na beira de ou um declínio irreversível ou de uma total transformação”. Encarando essa questão em todo o mundo, perdendo terreno para os pentecostais, o próximo papa será forçado a escolher a transformação.


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