Travestis reclamam de termos usados pela imprensa em MS

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Em carta enviada às redações de jornais do Estado, a Associação de Travestis de Mato Grosso do Sul reclama de termos usados em matérias sobre recente assassinato de travesti na Vila Progresso. Alega que são preconceituosos termos como “homossexualismo\”, “opção sexual” e “Parada Gay”. Confira a íntegra da carta:

CT. Nº 00239/06 Campo Grande – MS, 29 de Outubro de 2006.

Exmo Senhor: Diretor de Redação

Prezados Senhores,

A ATMS – Associação das Travestis de Mato Grosso do Sul é uma entidade sem fins lucrativos que tem por objetivo defender os direitos das travestis e de qualquer outro cidadão ou cidadã que por ventura venha sofrer discriminação e/ou violência em função da sua sexualidade ou de sua identidade de gênero feminina, seja profissional do sexo ou não; incluindo assim gays, lésbicas, travestis, transexuais e homens que fazem sexo com homens; e garantir o direito ao exercício da cidadania plena, especificamente o direito de ir e vir, e de livre expressão e manifestação da sua sexualidade. Também visa atender as necessidades dos homossexuais no que diz respeito ao conhecimento das garantias constitucionais e conquista dos direitos, da cidadania e o combate a discriminação e ao preconceito, seja na escola, no trabalho, na igreja e nos serviços públicos, como: segurança, saúde e justiça.

Vimos pelo presente momento, através desta, mais uma vez expressar nosso descontentamento ao que confere as matérias publicadas nos jornais que circularam de forma eletrônica, escrita e falada no âmbito do Estado de Mato Grosso do Sul nesta sexta-feira onde de forma extremamente machista e preconceituosa noticiaram a morte de uma travesti Chamada Lalesca morta a facadas na vila Progresso.

Aproveitando o ensejo, faremos deste momento o nosso espaço para as nossas reivindicações sobre os teores publicados de forma errônea e que, para a categoria das travestis, esse tipo de matéria desatenta só tem nos causado um desserviço aumentando ainda mais o preconceito contra o público das Transgênero (Travestis e Transexuais), sendo assim gostaríamos de registrar nossa inteira insatisfação com os termos usados, por serem estes meramente ultrapassados inapropriados e pouco usados nos dias atuais, tendo em vista que a cultura de um país ou de uma nação é construída ao longo de vários anos e que ano após ano muda-se as terminologias, tratados e leis a fim de que, se possa atender aos anseios e necessidades de todas as camadas populacionais e sociais e não sendo diferente ao que tange as comunidades GLTB,s (Gays, Lésbicas, Transgêneros, Travestis e Transexuais e Bisexuais) que, com o passar do tempo houve uma grande mudança no quadro histórico de todo o mundo por causa das reivindicações feitas dias após dias causando efeitos favoráveis aos GLTB,s inclusive referente às novas terminologias no linguajar e nas palavras usadas na mídia nacional e internacional passando a nos contemplar e contribuir contra os preconceitos e inserindo cada vez mais essa significativa parcela da sociedade, que só no Brasil represente Dezessete Milhões e Novecentos Mil Cidadãos GLTB,s nas demandas inerentes aos novos direitos civis, e constitucionais, já existente o que deveria servir de espelho para os jornalecos sem comprometimento com as causas sociais e que tem apenas o interesse de vender suas matérias baratas e sem o mínimo de respeito pelos povos ou comunidade organizada.

Em todo momento, nos os GLBT´s – Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros temos sido vitima de desrespeito total praticado por pessoas homofóbicas (que tem aversão à homossexualidade) que insistem em praticar atos discriminatórios e pronúncias de baixo calão, chacotas, deboches e brincadeiras de mau gosto pretensiosa e agressiva a pessoa GLBT, como se ser homossexual ou transexual fosse motivo de piadas indecentes, termos chulos e pejorativos sem que se respeite o seu direito enquanto cidadão.

Por esses e outros motivos que a ATMS – Associação das Travestis de Mato Grosso do Sul, vem através desta repudiar as terminologias vinculadas nos meios de comunicação no dia 27 de Outubro do corrente ano.

Qualquer Matéria publicada de forma errada causa efeitos contrários a nossa luta e trabalho pela igualdade de direito e respeito a pessoas humana independente de sua orientação sexual, credo, sexo, cor e/ou religião, e determinadas terminologias têm trazido constrangimentos e agressões físicas durante o momento em que os GLBT´s saem às ruas, bem como vem causando agressões psicológicas aos leitores GLBT´s o que acreditamos não ser o papel, nem o ideal central ideológica, de qualquer jornal ou meio de comunicação deste estado, principalmente os que tem o comprometimento de bem informar e de presteza com as causas sociais

Exigimos de forma a construir uma sociedade mais justa e igualitária livre dos preconceitos e maus tratos, que as matérias jornalísticas não tenha teor que venha a contribuir com os preconceitos e as discriminações ao tempo que as universidades, seja em qual for, o curso tenha o comprometimento de formar profissionais comprometido com o bem estar social a fim de melhorar o convívio em comunidade, e em especial aos que prestam curso de jornalismo tendo em vista que esses disseminas a notícia e que a notícia deve chegar em tempo exato e com clareza prestando um bem a sociedade e não um desserviço nem expondo preconceitos pessoais de quem quer que seja do meio jornalístico.
Citaremos as gafes utilizadas no Jornal e o teor da matéria publicada e iremos corrigir os termo que segue abaixo.
– “Homossexualismo” não, se usa nos dias atuais por ser preconceituoso e usado na época em que a homossexualidade era tida como distúrbio mental, fazendo parte do CID-(Código Internacional de Doenças) sendo que em 1973 a Associação Americana de Psiquiatria, juntamente com o Conselho Federal de Medicina em 1985 e a Organização Mundial da Saúde em 1991 reconhecem a Homossexualidade como fato normal tanto quanto a heterossexualidade. Por esse motivo o sufixo “ISMO” não, mais faz parte de nosso vocabulário nem mesmo da saúde e psicologia que nos reconhece como pessoas normais que somos e com o pleno direito de amar e se relacionar sexualmente.
– “Opção Sexual”, fica claro que não existe uma opção das sexualidades! Assim também como a heterossexualidade e bissexualidade a homossexualidade nunca foi, nem poderia ser, uma opção sexual e sim uma orientação sexual, um desejo por pessoas do mesmo sexo, assim como uma pessoa gosta de leite e outra não, de manga e outra não, assim também a sexualidade acontece, pois ninguém é obrigada a gostar de um único sexo ou do sexo x ou y por isso que alguns gostam do sexo oposto e outros do mesmo sexo sendo que, o termo correto é, se relacionam afetivamente e sexualmente o que não significa que homossexuais não gostem de heterossexuais ou heterossexuais de homossexuais, pois isso reforça o preconceito e na verdade as pessoas devem não somente gostar, mais sim respeitar e amar o próximo a final isso é mandamento divino.

– “O Travesti” também é preconceituoso criando na mentalidade das pessoas uma imagem de simplesmente um homem com vestimentas femininas, quando na verdade a travesti é um ser de alma e gênero feminino com características e ainda mais com identidade de gênero feminino, então não poderia já mais ser chamada de “O travesti” e sim A Travesti, uma travesti, das travestis e por mais que alguns dicionários digam que se trata de homens vestidos de roupas do sexo oposto prestem bem a tenção que eles relatam o artista no caso o Drag Queen que se é um rapaz que se veste no feminino de forma exagerada afim de fazer shows artísticos e não a travesti que vive em sociedade como mulher tem namorado, esposo, vai ao mercado, faz compra, paga as contas, lava, passa cozinha e cuida da casa.

– “Associação dos Travestis” mas uma vez aqui falta à
questão da concordância da identidade de gênero, como poderia ser dos travestis se somos pessoas com identidade femininas? Sem contar que, o registro em cartório e as documentações originais da instituição estão como Associação das Travestis e não Associação dos Travestis.

– “Parada Gay” é obvio que também não concordamos que se noticie a parada da Diversidade que reuniu pouco mais de 15 mil pessoas no centro de Campo Grande como parada gay, pois seria muito pequeno de nossa parte querer que só gays levem a fama do evento que agrega toda a população e sociedade dentre jovens, crianças, senhoras e senhores bem como famílias heterossexuais e homossexuais travestis e transexuais fazendo deste evento um ato de democracia

Clamamos por justiça, queremos que matérias e termos como esses sejam extintas dos vocabulários e cotidianos jornalísticos, Lutamos por uma sociedade justa e onde todos tenham seus direitos assegurados e respeitados enquanto cidadãos, e que os meios de imprensa e comunicação jornalísticas tenha uma postura firme, inclusive de não discriminar pessoas sejam elas quem seja independentemente de sua orientação sexual, cor, raça, sexo, etnia e/ou religião.

Outro ponto em questão trata se do fato do teor das matérias circuladas no dia 27/10/2006 onde noticiava a morte da Travesti Lalesca a tratando como um homem “O Travesti conhecido como Lalesca”

Pelo fato de que eu me encontrava na cidade de Manaus em um evento para travestis da região Norte do país e chegando aqui sem tempo de poder reivindicar dos jornais e do poder público uma atenção especial a fim de elucidar o crime ocorrido que sem duvida é brutal, cruel e que mais uma vez ficará sem resposta da policia e da justiça por se tratar de uma travesti solicitamos uma difusão dos pontos abordados nesta, entre todos, para que possamos garantir a formação de opinião através de cidadãos cientes das causas sociais e dos direitos humanos, e que também ciente das atualidades (que já não são tão recente assim), a fim de propor uma integração dos meios de comunicação para com a luta incessante pelas garantias dos direitos constitucionais de todos e principalmente das minorias.

Certos de possamos contar com a colaboração de vossa senhoria na construção de um país justo e igualitário, ensejamo-lhes protestos de consideração e apreço, ao tempo que nos colocamos para quaisquer esclarecimentos e informações necessárias.

Atenciosamente,

Cris Stefanny

Coordenadora Geral/ATM
Conselheira no Conselho Nacional de Combate à Discriminação
Presidência da República – Brasília – DF
Conselheira estadual do Conselho Estadual de Direitos da Pessoa Humana
Coordenadora do Fórum de ONG/AIDS


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