Escolas – Novo campo de batalha para os direitos gays

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Direita religiosa quer vetar qualquer referência à homossexualidade
Michael Janofsky
Em Nova York
Encorajados pela crescente influência da direita na polícia pública, os oponentes das atividades escolares que visam educar os estudantes sobre a homossexualidade ou promover a aceitação de gays e lésbicas estão começando a contestar tais programas, em escolas, nos legislativos estaduais e no Congresso.
Os alvos principais são os programas de educação sexual que incluem discussões sobre homossexualidade, e clubes pós-aula que reúnem estudantes gays e heterossexuais, duas iniciativas que ganharam anuência de várias escolas ao longo da última década.
Em muitos casos, os oponentes têm sido bem-sucedidos. Em Montgomery County, Maryland, por exemplo, os pais foram à Justiça para impedir um curso de ensino de saúde que oferecia discussão sobre homossexualidade, enquanto em Cleveland, Geórgia, estudantes gays e lésbicas foram impedidos de formar um clube colegial de jovens gays e héteros.
Importantes figuras de ambos os lados da luta disseram que nunca viram a paixão em torno das atividades das escolas públicas tão em alta. Eles concordam que grande parte do motivo é a disposição dos grupos conservadores de enfrentar seus adversários com uma força mais comum em campanhas eleitorais modernas.
“A intensidade da guerra cultural tem aumentado nos últimos anos”, disse J. Michael Johnson, um advogado do Alliance Defense Fund, um grupo conservador que é especializado em questões envolvendo religião.
“As pessoas estão se tornando mais cientes de que têm direitos, e estão se sentindo mais encorajadas para defendê-los. Por todo o país, as pessoas estão dando um basta.”
Mathew D. Staver, presidente e advogado geral de outro grupo conservador, o Liberty Counsel, disse: “Nós estamos preocupados com o esforço para atrair a juventude por meio de doutrinação no estilo de vida homossexual. Os estudantes são uma platéia cativa, e estão sendo visados por grupos que possuem uma agenda”.
Os crescentes conflitos estão centrados em três questões: se as salas de aula são o local apropriado para explorar a questão da homossexualidade, se as escolas devem sancionar atividades extracurriculares nas quais a cultura gay é o foco e se os livros escolares que reconhecem os relacionamentos homossexuais são adequados para crianças pequenas.
Nesta primavera, em um exemplo da resposta conservadora, o Alliance Defense Fund organizou seu primeiro Dia da Verdade nacional para estudantes colegiais desconfortáveis com o Dia Nacional do Silêncio, um evento patrocinado por nove anos pela Rede de Ensino Gay, Lésbica e Hétero para protestar contra a discriminação aos gays nas escolas.
“Nós precisamos apresentar uma resposta ou perspectiva cristã”, disse Johnson, cujo evento atraiu a participação de 340 escolas. Kevin Jennings, fundador e diretor executivo da rede de ensino gay, disse que mais de 3.700 alunos colegiais participaram do evento do seu grupo.
Jennings e outros líderes de direitos gays disseram que a crescente oposição aos seus esforços está acompanhando a tendência previsível provocada por disputas em torno de questões como o casamento gay, que estão transcorrendo no cenário nacional.
“Este é um bando de pessoas que deseja muito remover do discurso público qualquer menção à homossexualidade”, disse James Esseks, diretor de litígio do Projeto de Direitos de Gays e Lésbicas da União das Liberdades Civis Americanas (Aclu). “Eles não querem qualquer menção ao fato de que existem pessoas gays.”
A luta se espalhou por toda parte.
No mês passado em Montgomery County, Maryland, um grupo de pais, alarmados com as revisões feitas no curso de ensino de saúde das séries colegiais para incluir a discussão da homossexualidade e um vídeo ensinando como usar uma camisinha, procuraram a Justiça federal e conseguiram uma ordem de restrição para suspendê-lo. A junta de ensino do condado votou por 7 votos contra 1 pela eliminação do programa, seis meses após aprová-lo por unanimidade.
Grupos conservadores aplaudiram a decisão da junta como uma vitória para a convicção religiosa, e descreveu a estratégia de litígio como um modelo para os distritos escolares de todo país.
“Isto foi enorme”, disse Robert H. Knight, diretor do Instituto da Cultura e Família, que busca aplicar princípios bíblicos à política pública.
Outra batalha envolveu estudantes e jornalistas da East Bakersfield High School na Califórnia. Eles escreveram uma série de artigos para o jornal da escola, nesta primavera, explorando questões gays por meio das experiências dos estudantes.
Mas o diretor, John Gibson, citando preocupação com a segurança dos estudantes que foram entrevistados e fotografados, disse que só aprovaria a publicação se as identidades deles fossem ocultadas.
Os jornalistas se recusaram e, com a ajuda da Aclu, processaram o distrito escolar em 19 de maio, buscando uma ordem de emergência que permitiria que os artigos fossem publicados na edição final do ano, seis dias depois. O juiz do condado se recusou a reverter a decisão de Gibson, dizendo que as questões eram importantes demais para uma decisão imediata.
Christine Sun, uma advogada da Aclu, disse que se as ações de Gibson foram motivadas apenas pela preocupação com a segurança dos alunos, “suas ações são completamente ilógicas”.
“Estes garotos já estão ‘fora’ do campus”, disse Sun sobre os entrevistados dos artigos. “Até o momento não há nenhuma ameaça contra eles, e nem eles e nem seus pais foram notificados pelo diretor ou por qualquer autoridade.”
Gibson não respondeu ao telefonema que buscava comentário.
A guerra também está sendo travada na esfera estadual. Os legisladores do conservador Estado do Alabama estão considerando uma lei que proibiria o Estado de gastar em livros e outros materiais que “promovem o estilo de vida homossexual”.
O não menos conservador Estado de Oklahoma aprovou uma resolução no mês passado pedindo que as bibliotecas públicas restrinjam o acesso das crianças a livros com temática gay. A Louisiana está considerando uma medida semelhante.
Charles C. Haynes, um estudioso sênior do Freedom Forum, um grupo não-partidário de defesa da liberdade de expressão, disse que as questões dos direitos gays envolvendo escolas públicas se tornaram um teste para muitos religiosos conservadores.
“Eles sentem que as escolas públicas estão se adiantando ao país”, disse Haynes. “Eles acreditam que as escolas estão impondo uma visão da homossexualidade que ofende sua fé e não é consistente com nossa posição como país.”
Dois membros da Convenção Batista do Sul prepararam uma “resolução sobre homossexualidade nas escolas públicas”, para ser apresentada no encontro anual da seita neste mês. A resolução implora às igrejas batistas que determinem se as escolas em suas áreas possuem “clubes, currículos ou programas homossexuais” e, em caso afirmativo, encorajar os pais a retirarem seus filhos destas escolas.
“As igrejas e pais precisam estar cientes do que está ocorrendo”, disse Bruce N. Shortt, um advogado de Houston que é co-autor da resolução.
Os clubes pós-aula conhecidos como Alianças Gay-Hétero, que reúnem estudantes que compartilham experiências e preocupações comuns, se tornaram uma fonte de conflito em particular.
A questão tem irritado uma série de comunidades, incluindo Ashland, Kentucky; Klein, Texas; Hanford, Califórnia; e Cleveland, Geórgia, onde foi negada a permissão neste ano para um pequeno grupo de estudantes gays e lésbicas formarem uma aliança na White County High School.
A lei federal geralmente reprova a proibição pelos administradores da formação de alguns clubes ao mesmo tempo que autoriza outros, mas as autoridades escolares de Cleveland disseram aos estudantes que todas as organizações pós-aula seriam abolidas antes da aliança gay-hétero ser permitida.
“Eles apenas estão com medo da mudança”, disse Kerry Pacer, 17 anos, que está liderando o esforço dos estudantes. “Nós vivemos no Cinturão da Bíblia [região do sul dos EUA formada por Estados ferrenhamente conservadores]. As pessoas aqui não querem nada que ameaça mudanças.”
As queixas sobre o empreendimento dos estudantes levou a senadora estadual Nancy Schaefer a introduzir um projeto de lei que exigiria a permissão por escrito dos pais antes que um aluno pudesse se juntar a qualquer clube pós-aula.
O legislativo posteriormente acatou o Departamento de Educação da Geórgia, que agora está considerando uma abordagem modificada que permite que as juntas de ensino locais desenvolvam sua própria política.
Schaefer rejeita o compromisso como fraco demais.
“Eu não sinto que clubes homossexuais tem algo a ver com leitura, redação e aritmética”, disse ela.
Tradução: George El Khouri Andolfato


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