Ativistas Gays americanos veêm apoio de cristãos com desconfiança

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Religiosos dizem ser tolerantes, mas acham que ser gay é pecado
John Leland
Em Ashbury Park, Nova Jersey
De sua cabine de vidro na comemoração anual do orgulho gay nesta cidade, no último domingo (5/6), Bobbie DeVoll teve algumas idéias sobre o grupo da Igreja Evangélica na cabine ao lado. “Eu lhes perguntei se estavam tentando nos mudar”, disse DeVoll. “Responderam que estavam ali porque eles queriam mudar.”
Tim Lucas, pastor de uma conservadora Igreja Baptista, distribui água durante a Parada Gay de Asbury Park, NJ
Era um grupo de 150 a 200 pessoas de uma Igreja Batista conservadora em Basking Ridge, Nova Jersey, e faziam parte de uma iniciativa que o pastor Tim Lucas chamou de Orgulho Gay Encontra a Humildade Cristã.
Em uma tarde quente à beira-mar, eles usavam camisetas azul-claro com o nome de seu ministério, Liquid, e distribuíam garrafas de água. Joseph Satterfield, que participava da comemoração e aceitou uma garrafa de água, observava o grupo com certa suspeita.
“Minha única preocupação é a motivação deles”, disse Satterfield. “Tudo bem que eles estejam aqui, desde que não tentem converter as pessoas. Existe um objetivo secundário por trás da distribuição de água mineral. É com esse objetivo que devemos nos preocupar.”
Igrejas já participaram antes de paradas do orgulho gay, geralmente para apoiar os manifestantes ou para protestar. Mas Lucas esperava que a Liquid, que faz parte de uma Igreja Batista conservadora que considera o homossexualismo um pecado, pudesse adotar uma terceira posição, evitando ao mesmo tempo as censuras de alguns cristãos evangélicos e a aceitação de igrejas mais liberais.
Sem endossar a homossexualidade, ele disse: “Queremos desmantelar a hierarquia invisível do pecado que muitos evangélicos promovem, que coloca os gays e as lésbicas no topo da lista. Esse sentido de correção e superioridade vigora em nossa igreja como um câncer”.
Os organizadores da parada, que se reuniram com Lucas antes do evento, continuavam desconfiados. “Essa idéia levanta sinais de advertência”, disse Laura Pople, presidente da Jersey Pride, organizadora do evento em seu 14º ano. Pople disse que recrutou o apoio de religiosos liberais, mas havia evitado igrejas como a de Lucas.
“A comunidade deles fundamentalmente tem problemas com quem eu sou como pessoa”, ela disse. “Eu não vou mudar. Por isso a pergunta é: existe uma maneira de convivermos? Mas seríamos tolos se não estivéssemos muito precavidos.”
Para membros da Liquid, um ministério alternativo dentro da Igreja Batista de Millington, o evento era uma missão em um novo território. Em uma reunião final de estratégia na semana passada, uma placa escrita a mão no fundo da sala enumerava os motivos da iniciativa, e o primeiro era “Desafiar os estereótipos de ‘cristãos'”.
Lucas usava o cabelo espetado e uma camiseta da Amsterdam Motorcycles. Ele aconselhou os membros da igreja a não entrar em discussões ou tentar converter ninguém.
“Não vamos lá para distribuir panfletos”, ele disse. “Essas pessoas foram marginalizadas e agredidas, muitas vezes por nós. Se elas perguntarem o que você está fazendo lá, simplesmente diga: ‘Estamos aqui para demonstrar o amor de Deus’.”
Por outro lado, disse Lucas, eles poderiam atrair críticas de outros cristãos conservadores, incluindo membros de sua igreja matriz, que não foi convidada para participar.
“As pessoas poderão dizer: ‘Então você acha que eu preciso mudar para que Deus me ame?'”, ele disse. “Ou então: ‘Ah, vocês são uma igreja gay, é? Os batistas estão aceitando o casamento gay?’ Vocês apenas respondam: ‘Não, estou aqui apenas para servir’.”
Se tudo correr bem, disse Lucas, “vamos atrair a ira e a condenação dos religiosos e encontrar mais pessoas no limite, como ocorreu com Jesus. Ele se cercou de prostitutas e coletores de impostos, as pessoas que o establishment religioso reprovava moralmente”.
Lucas, que disse que teve pouco contato com homossexuais antes, agora se descreve como um “ex-homófobo a quem Jesus está mudando”. Quatro anos atrás, quando sua mulher quis convidar um colega gay para jantar, Lucas rejeitou a idéia, usando uma exclamação de desprezo.
Embora ainda acredite que o homossexualismo é um pecado, ele disse: “Tentamos ver a coisa de uma perspectiva bíblica, mas transcendendo-a para discutir as maneiras como estamos todos sexualmente danificados”.
Para a igreja e sua jovem congregação, ele disse, um dos desafios é definir morais absolutas em uma cultura jovem que considera a intolerância o pior pecado.
“A palavra ‘tolerância’ muitas vezes conota um sistema moral difuso, dizendo que todas as crenças são válidas”, ele disse. “Não é nisso que acreditamos. Existem limites que Deus quer que tracemos. Nós aceitamos todas as pessoas, mas isso não quer dizer que aprovemos as opções que elas fazem moralmente em sua vida.”
Na cabine da Liquid no domingo, Chris Newkirk, 35, um revisor de texto e diretor de comunicações da Liquid, liderou um grupo de voluntários que distribuía discretamente garrafas de água. A maioria das pessoas que as aceitava não perguntava o que era a Liquid; algumas achavam que fosse uma boate.
Newkirk disse que ele não costumava contar a amigos, incluindo amigos gays, que fazia parte de uma igreja conservadora. “Para mim isto é um marco, estar nessa comunidade e dizer: ‘Eu sou um cristão que lê a Bíblia'”, ele contou.
Com o passar do dia, Newkirk disse que ficou surpreso com o grande número de pessoas com quem ele falou que eram cristãs, e que muitas delas tinham sido magoadas pela igreja.
“Eu tive um momento com um casal de lésbicas em que pedi desculpas pela cristandade”, ele disse. “Em um sentido é isso que estamos fazendo aqui, mas eu não esperava pronunciar essas palavras. Sou um seguidor de Cristo, mas não um seguidor da cristandade. A cristandade causou muitos danos a muitas dessas pessoas.”
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves


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