The New York Times: Estamos em estado de emergência LGBTQIA+

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Este ano há uma sombra sobre o orgulho. Enquanto a comunidade LGBTQIA+ celebra, somos assediados por um ataque legislativo coordenado.

Houve um aumento notável no número de projetos de lei anti-LGBT desde 2018, e esse número acelerou recentemente, com o ano legislativo estadual de 2023 sendo o pior já registrado.

Segundo a fundação Human Rights Campaign, em 2023 houve mais de 525 projetos de lei apresentados em 41 estados dos EUA, com mais de 75 deles aprovados em 5 de junho. Na Flórida –estado que ficou conhecido por sua lei “Não Diga Gay”–, o governador Ron DeSantis assinou no mês passado uma legislação que proibiu tratamentos de transição de gênero para menores e que os funcionários de escolas públicas perguntem às crianças seus pronomes preferidos.

Como Kelley Robinson, presidente da Human Rights Campaign, disse-me recentemente, o número de projetos de lei assinados provavelmente aumentará: “Há mais 12 que estão na mesa de governadores, então você pode ter quase cem novas restrições contra a comunidade LGBT até o final deste ciclo”.

Por isso, na última terça-feira (6), pela primeira vez em seus mais de 40 anos de história, a Human Rights Campaign declarou estado de emergência para pessoas LGBTQIA+ nos EUA.

Falei recentemente com vários líderes de grupos LGBT e historiadores que documentaram a história da comunidade, e todos eles alertaram para a gravidade do que estamos vivendo. Houve outros períodos de reação contra a comunidade gay, inclusive com a aprovação de legislação opressiva, mas este ocorreu com cálculo e eficácia política alarmantes.

“Esta é uma campanha de terror contra nossa comunidade”, disse Sarah Kate Ellis, presidente e diretora-executiva da Glaad, proeminente organização de defesa da mídia LGBT.

A maneira como esse tipo de terrorismo funciona é que ele não apenas pune a expressão, condena identidades e corta caminhos para receber tratamento, mas também cria uma aura de hostilidade e faz ameaças graves. É como queimar uma cruz no gramado de alguém: é uma tentativa de assustar as pessoas e fazê-las obedecer e se submeter.

Vinte e sete anos da Parada LGBT+

Políticos republicanos que promovem leis anti-LGBT geralmente fingem que sua principal motivação, senão a única, é proteger crianças. Mas essas leis operam na promoção e proteção do frágil patriarcado, na perpetuação dos males gêmeos da homofobia e do heterossexismo e no reforço do policiamento abusivo da identidade de gênero.

Esses políticos jogam para um segmento da população que vê qualquer divergência de seus ideais como desvio. Então eles constroem caixotes. Mas para muitas pessoas, principalmente os jovens, esses caixotes podem se tornar caixões: de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), 1 em cada 5 estudantes gays, lésbicas ou bissexuais do ensino médio tentou o suicídio no último ano. Em 2022, o Trevor Project descobriu que 45% dos jovens LGBTQ consideraram seriamente a tentativa de suicídio no ano anterior.

Esses políticos demonizaram o movimento pela igualdade transgênero e, por extensão, todo o movimento pela igualdade LGBT.

Um dos aspectos mais tristes deste episódio foi ver um grupo pequeno, mas ativo, de pessoas que se declaram liberais –e que se poderia supor que fossem aliados– apoiando e incentivando os argumentos dos transfóbicos. Algumas são feministas que basicamente afirmaram que a inclusão plena de mulheres trans é antifeminista –que é prejudicial ou um ataque aos direitos das mulheres cisgênero.

E alguns na comunidade gay permaneceram chocantemente calados sobre os direitos trans, tratando a questão como uma de soma zero. Em vez de expressar solidariedade, eles veem a luta pelos direitos trans como uma abertura para os homofóbicos apagarem os ganhos suados de gays, lésbicas e bissexuais.

Mas se você é gay e silencia sobre esse assunto, está traindo sua própria causa. O silêncio não vai protegê-lo. Ele apenas vai encorajar seus adversários e expor sua covardia.

Parece bastante óbvio que a comunidade trans é um alvo atraente para os agressores da guerra cultural, porque é um pequeno subconjunto da comunidade gay e um subconjunto ainda menor da sociedade geral.

De acordo com um estudo do ano passado do Instituto Williams da Universidade da Califórnia em Los Angeles, cerca de 1,6 milhão de pessoas com 13 anos ou mais nos EUA, ou 0,6%, identificam-se como transgêneros.

Além disso, numa pesquisa de 2021, quase 70% dos americanos disseram conhecer uma pessoa gay ou lésbica. Apenas cerca de 1 em cada 5 disse conhecer alguém que é trans. Esse número aumentou, mas ainda é pequeno. É quase igual ao número de pessoas que disseram já ter visto um fantasma, numa pesquisa YouGov de 2021.

É nessa atmosfera de desconhecimento e ignorância sobre quem são as pessoas trans que a histeria e a crueldade florescem. A caricatura maléfica que as pessoas evocam em suas mentes sobre pessoas trans é a de um predador à espreita em banheiros e vestiários. Elas imaginam um monstro de Frankenstein de batom para justificar seus ataques.

Os ativistas com quem falei estavam, de certa forma, sofrendo com isso, mas também otimistas de que acabariam prevalecendo. O problema, porém, é que, uma vez que as leis estejam nos livros, pode ser difícil retirá-las. Veja, por exemplo, as leis de criminalização do HIV e contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, que ainda não foram revogadas em alguns estados.

Como disse Michael Bronski, professor de Harvard e autor de “A Queer History of the United States” [uma história queer dos EUA], “posso argumentar o quanto quiser que esta é uma reação draconiana que não é constitucional, mas as leis já estão nos livros”. “Acho que levará décadas para tirá-las dos livros.”

Isso pode significar um futuro próximo de maior polarização no país —alguns estados correndo para oprimir a comunidade LGBT, outros acabando como lugares para se tentar escapar da opressão—, não muito diferente da polarização na era Jim Crow. Na verdade, você poderia chamar esta era de nascimento de Jim Gay.

Fonte: The New York Times

 


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