Saúde sexual das mulheres trans e travestis: ‘Falta de atendimento humanizado acaba afastando pessoas’

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Por Bruna Liu, redação Marie Claire

Quando falamos sobre saúde sexual, incluindo a saúde reprodutiva, é importante entender que vai além de não ter doenças. É sobre se sentir bem em termos físicos, mentais e sociais quando se trata de reprodução e sexualidade.

Isso significa garantir acesso à informação e recursos para um indivíduo expressar sua sexualidade de forma segura e satisfatória, sem ser coagido, violentado ou discriminado. Para ter o direito de decidir se desejam ter filhos, quando e quantos desejam, com total autonomia. O mesmo valor deveria ser aplicado para a população em geral, mas não é o que acontece com as pessoas transsexuais.

Faz apenas um ano que a CID-11 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas de Saúde) da Organização Mundial de Saúde (OMS) entrou em vigor. A nova resolução retirou a classificação da transexualidade como transtorno mental após 28 anos. É um avanço na luta do movimento trans, mas também expõe o motivo de muitas mulheres terem receio quanto a procurar profissionais de saúde.

A jornalista Gabryella Garcia destacou a falta de preparo dos profissionais, incluindo médicos, enfermeiros e atendentes, como um dos principais obstáculos enfrentados pela comunidade trans ao buscar serviços de saúde: “Falta um atendimento mais humanizado, o que acaba afastando as pessoas do sistema de saúde como um todo”.

Outra questão crucial apontada por ela é a inadequação da terminologia utilizada nas especialidades médicas. Ela observa que a definição de “ginecologista” como especialista em saúde da mulher exclui homens trans, que também necessitam desse tipo de cuidado.

Da mesma forma, a terminologia relacionada à saúde masculina, como “andrologista”, afasta as mulheres trans que buscam acompanhamento nessa área. “A terminologia especializada em saúde masculina acaba afastando a mulher trans que precisa desse acompanhamento, seja para questões de fertilidade ou outros fatores”.

Além dessas questões, o preconceito presente na sociedade é um desafio a ser superado. Gabryella enfatiza a falta de avanço nesse aspecto, destacando que casos de transfobia em atendimentos médicos ainda são frequentes.

“A gente ainda sofre muito quando vai buscar um profissional de saúde. Muitas pessoas têm receio e vão na base de indicação também. Você conversa com outra pessoa trans que foi atendida por um profissional que foi acolhedor e vai passando dessa forma”

Ela também menciona a negação de certos exames pelos sistemas de saúde: “Eu mesma, no ano passado, tive câncer no testículo. Quando ia fazer os exames para operatórios, se colocasse o preenchimento do meu cadastro no feminino, mesmo tendo feito retificação, o sistema não liberava para eu fazer o exame que precisava. Então para conseguir fazer esse exame, tinha que mudar meu cadastro e colocar masculino, se não simplesmente não poderia fazer o exame”.

“A luta por uma saúde mais inclusiva e acessível para a comunidade trans demanda a implementação de políticas públicas que incentivem a formação de profissionais de saúde preparados e o acolhimento efetivo dessas pessoas”.

Como cuidar da saúde sexual de maneira adequada?

A ginecologista e médica especialista em Sexualidade Humana, Débora Britto, afirma que com relação às mulheres trans e travestis, muitas diretrizes são as mesmas das mulheres cisgênero, “mas deve-se observar algumas especificidades e ter a sensibilidade de entender que existem barreiras para essa população no acesso à saúde, logo, para aquela pessoa que busca o cuidado, podem existir algumas ansiedades relacionadas à experiências negativas anteriores ou a nunca ter ido à uma consulta”.

Por exemplo: é essencial cuidar da saúde e higiene dos órgãos genitais para uma vida sexual saudável. Mas também é compreensível que muitas mulheres trans possam sentir receio ao falar sobre esse assunto. “As consultas médicas podem ser ótimas oportunidades para ajudá-las a se familiarizar com seus corpos e a reconhecerem possíveis alterações que possam indicar problemas de saúde. Podemos aproveitar o momento de consulta para oferecer um espaço para que a paciente exponha suas dúvidas e sermos ativos e assertivos em um processo de educação em saúde”, declara Britto.

Também é importante garantir o acesso igualitário aos serviços de saúde, incluindo cuidados preventivos gerais e direcionados a prevenção dos cânceres, exames de rotina, atendimento ginecológico e as orientações sobre o acesso às modalidades de afirmação de gênero, como o uso de hormônios e cirurgias de afirmação de gênero, quando desejado.

“Muitas mulheres trans e travestis realizam hormonização para afirmação de gênero e algumas podem ter realizado cirurgias mamárias, como implantes de prótese de silicone ou de redesignação genital. Tais informações podem direcionar a necessidade de exames e cuidados mais específicos. Ter essa informação também direciona a atenção ao exame físico”

 

Quanto a prevenção contra ISTs, a médica explica: “É importante conhecer as práticas sexuais, para que essas mulheres sejam informadas das melhores maneiras de proteção, entre elas o uso de preservativos, vacinas e a possibilidade do uso de Profilaxia Pré-exposição de Risco (PREP) e Profilaxia Pós-Exposição de Risco (PEP). Além disso, é essencial estabelecer limites claros e obter consentimento mútuo em todas as interações sexuais”.

Matéria completa REVISTA MARIE CLAIRE


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