Patriarcado e Gaytriarcado. Uma análise sobre o apagamento da narrativa lésbica no Brasil

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Até bem pouco tempo atrás, as mulheres sequer tinham direto à plena sexualidade, o que dirá à homossexualidade.

Liliane Rocha*

Em agosto há duas datas que marcam o Orgulho e a Visibilidade Lésbica, mais especificamente nos dias 19 e 29. Em meio a tantas discussões sobre diversidade, pode até parecer que essas datas não são necessárias ou que são redundantes. Afinal, já não falamos sobre esse tema em junho por conta da Parada do Orgulho LGBTQIA+?

Bem, para responder a essa pergunta precisamos nos debruçar sobre a história e sobre a luta de direitos dos grupos que compõem a sigla LGBTQIA+. Vejamos, até bem pouco tempo atrás, as mulheres sequer tinham direto à plena sexualidade, o que dirá à homossexualidade. Somente em 1932, as mulheres casadas no Brasil ganharam o direito ao voto, já as demais mulheres somente a partir de 1946. Em 1962, a partir do Estatuto da Mulher Casada, a mulher passa a poder trabalhar sem precisar da autorização do marido.

Em um contexto histórico, no qual mulheres sequer eram em sua plenitude “sujeito de direito”, como falar sobre sexualidade feminina? Sobre homossexualidade? O resultado é uma lacuna na conversa sobre direitos e visibilidade LGBT+ que se estende até hoje. É muito comum, por exemplo, que as pessoas ainda falem “Dia do Orgulho Gay” ou “Parada do Orgulho Gay”, isso se confirma como um reflexo desse período, no qual, até há alguns anos, ao falarmos sobre homossexualidade, a discussão tinha início, meio e fim, na homossexualidade masculina.

Não à toa, até pouco tempo atrás, a sigla utilizada para se referir a esses públicos era GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes), e só recentemente passou a ser LGBT+, trazendo o “L” que se refere a lésbicas como primeira sigla e a importância de um olhar mais atento na questão orientação sexual com a interseccionalidade de ser mulher. E também o “T” para falarmos da importância do debate trans. O “Q” de Queer, o “A” de assexuais e o “I” de intersexuais, e o “B” de Bissexuais.

Focando no mês da visibilidade lésbica, podemos falar que o que ocorre é um pagamento do protagonismo lésbico, por exemplo, quando falamos sobre Stonewall, um marco da luta pelos diretos LGBTQIA+, em que pouco se comenta sobre as mulheres lésbicas que protagonizaram este momento histórico, lembro aqui da Stormé DeLarverie.

Certa vez em uma conversa com uma amiga, militante pelos direitos das mulheres e das lésbicas australianas, ela mencionou a palavra Gaytriarcado, fazendo uma alusão à palavra patriarcado, e mencionando como os homens brancos se unem em uma determinada hegemonia narrativa, seja com marcadores heterossexuais, homossexuais, entre tantos outros.

É a universalização da conversa sobre diversidade sexual, a partir da perspectiva do homem, branco, cisgênero e gay. Deixando em segundo plano, na narrativa, mulheres negras lésbicas, mulheres trans, mulheres negras trans, mulheres brancas lésbicas, bissexuais negras, e por aí se vai.

É óbvio que essa reprodução do status quo não ocorre de forma proposital, ou de forma deliberadamente maldosa, mas é, certamente, somente um reflexo do machismo e do racismo estrutural, e de como esses temas se espalham e reproduzem nas mais variadas discussões, conversas e avanços relacionados à diversidade e inclusão.

O importante aqui é não evitarmos conversas difíceis, nem utilizarmos argumentos frágeis, como o medo de que essa reflexão separe, mais do que aproxime, o movimento LGBTQIA+. Jamais! Não é disso que se trata, mas sim de que dentro do movimento LGBTQIA+, possamos ter as conversas que importam, e possamos liderar debates que nos ajudem a caminhar para uma sociedade mais justa para todas e todos, que seja possível assegurar que o “ninguém solta a mão de ninguém” inclua os mais vulneráveis nessa parcela da população.

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