ONG católica dos EUA gastou R$ 22 milhões para rastrear padres que usam apps de namoro gay

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Por O Globo — Washington

Um grupo de católicos conservadores do Colorado, nos Estados Unidos, gastou cerca de R$ 22 milhões para comprar dados de usuários na internet e identificar o nome de padres que usam aplicativos de encontros voltados para o público gay. A investigação foi levada a cabo pela Catholic Laity and Clergy for Renewal, uma organização não governamental de Denver, e revelada na semana passada pelo Washington Post.

Nem o Grindr nem os outros apps que serviram de base para a investigação da ONG — Scruff, Growlr e Jack’d — compartilharam seus dados com o grupo, mas as informações são vendidas em massa por sites e aplicativos para empresas, para que sejam traçados perfis demográficos de comportamento. Nenhuma lei de privacidade dos EUA proíbe a venda desses dados.

Até o momento, ainda não está claro o impacto da informação dentro do clero. Sabe-se apenas que pelo menos uma dezena de padres foi confrontada. Jayd Henricks, um dos nomes principais da organização, recusou-se a responder às perguntas do Post, mas publicou um artigo de opinião no site First Things, em que dizia se sentir “orgulhoso do projeto”, cujo principal objetivo era “ajudar a igreja a ser santa”.

“Não se trata de padres e seminaristas heterossexuais ou gays. Trata-se de um comportamento que prejudica todos os envolvidos, em algum nível e de alguma forma, e é um testemunho contra o ministério da Igreja”, escreveu no artigo.

Oficialmente, a missão da ONG católica é “capacitar a Igreja para cumprir sua missão”, dando aos bispos “recursos para identificar as falhas na forma como ensinam os padres”.

Algumas das pessoas que participaram do projeto também estiveram envolvidos na divulgação, em julho de 2021, do perfil no Grindr do padre que administrava a Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, Jeffrey Burrill. Burrill, que se recusou a comentar a reportagem do Post, renunciou ao cargo depois que um site de notícias católico, o Pillar, mostrou que ele era um usuário regular do app e tinha ido a um bar gay e uma casa de banho e spa gay. O Pilar não revelou de onde vieram seus dados.

Até agora, as pessoas por trás da saída de Burrill e a extensão do projeto não eram de conhecimento público, nem o fato de que o rastreamento continuou por pelo menos mais um ano após o incidente, de acordo com a reportagem do Post.

Ao jornal americano, duas pessoas de dentro da Igreja Católica que falaram sob anonimato consideraram o projeto um ato de “espionagem e coerção” que prejudicaria a relação entre padres e bispos e a imagem da Igreja Católica. Fora do meio religioso, há quem considere o rastreamento um simples ato de “vigilância contra gays”.

O grupo cruzou os dados de localização dos aplicativos e outros detalhes com a localização de igrejas, locais de trabalho e seminários para encontrar clérigos supostamente ativos nos apps, de acordo com um dos relatórios ao que o Post teve acesso. O uso dos dados é símbolo de uma nova fronteira de vigilância na qual indivíduos privados podem rastrear as localizações e atividades de outros americanos usando informações disponíveis comercialmente.

— O poder dessa história é que muitas vezes você não vê onde essas práticas [de rastreamento de dados]estão ligadas a uma pessoa ou grupo de pessoas específico. Aqui, você pode ver claramente esse link — disse ao jornal Justin Sherman, membro sênior da escola de políticas públicas da Duke University, que se concentra em questões de privacidade de dados. — O número de leis de privacidade de dados no país podem ser contadas em uma ou duas mãos.

O Globo


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