O presidente do Senegal terá duas primeiras-damas.

O vencedor da eleição para presidente do Senegal, Bassirou Diomaye Faye, subiu ao palco com as suas duas esposas, um gesto incomum no país africano.

Faye, um opositor que fez campanha com a intenção de uma mudança radical e uma política pan-africana, quis transmitir uma mensagem a um país de maioria muçulmana onde a poligamia é uma prática religiosa e tradicional amplamente aceita.

Faye é o local de origem de Marie Khone, a primeira esposa do presidente eleito. Eles foram casados há 15 anos e têm quatro filhos. Há um ano, o político se casou com Absa.

O sociólogo Djiby Diakhate afirmou que “esta é uma consagração da tradição da poligamia ao mais alto nível do Estado, uma situação que reflete a tradição senegalesa”.

A poligamia é um tema controverso e a aparição de Faye com suas duas esposas, aplaudida por uma multidão, está no centro dos debates na mídia, na internet e em casa, gerando uma série de reações.

Em um vídeo que viralizou, a cantora Mia Guisse declarou com orgulho: “Ser a segunda esposa me soa melhor do que ser a primeira.”

Na rede social X, o sociólogo Fatou Sow Sarr afirmou que “a poligamia, a monogamia ou a poliandria são modelos patrimoniais determinados pela história de cada povo”.

“Agora estes modelos competem com os casamentos homossexuais”, acrescentou o acadêmico, acrescentando que, em um país onde a prática de homossexualidade pode resultar em prisão de um a cinco anos.

Além disso, afirmou: “Acho que o Ocidente não tem legitimidade para julgar as nossas culturas”.

Muitas mulheres senegalês se opõem à poligamia, que consideram “hipócrita e injusta”. Além disso, um relatório do Comitê dos Direitos Humanos da ONU constatou que essa ação aumenta a discriminação contra as mulheres.

Mudança de protocolo –

A autora senegalesa Mariama Ba criticou duramente a poligamia no seu romance de 1979 “Uma Carta Tão Longa”, no qual descreve o sofrimento e a solidão das mulheres quando os seus maridos decidem ter uma segunda esposa, geralmente mais jovem.

O ex-ministro da Cultura e acadêmico Penda Mbow afirmou que a situação conjugal do novo chefe de governo é algo inédito.

“Isso significa que todo o protocolo deve ser revisto”, destacou.

A poligamia é generalizada no Senegal, especialmente nas zonas rurais.

O islã permite que os homens tenham até quatro esposas, desde que tenham recursos para sustentá-las e passem tempo igual com cada uma.

– “Mensagem potente” –

A estimativa da prevalência da poligamia no Senegal é difícil porque muitos casamentos não são registrados, mas um relatório do escritório nacional de estatísticas de 2013 revelou que 32,5% das pessoas casadas são poligâmicas.

Diakhaté afirma que o presidente escolhido “enviou uma mensagem potente para que outros homens assumam que são polígamos”.

Faye disse aos seus críticos que estava orgulhoso de sua situação conjugal.

“Tenho filhos lindos porque tenho esposas formidáveis. Elas são muito lindas. Agradeço a Deus porque estão sempre ao meu lado”, disse ele durante a campanha.