Livro: O dito e o não dito da experiência humana: “Coisa Amor”, de Pedro Jucá

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Autor cearense, que reside em Curitiba (PR), estreia com livro de contos publicado pela Editora Urutau; escritor começou a ser agenciado pela Agência Riff em 2023

“Um encanto de livro. Recupera o que há de mais genuíno na literatura, que vem a ser o conhecimento e a sensibilidade. À parte de um léxico exuberante e sonoro, e vê-se que foi escolhido a dedo.”

Luiz Antonio de Assis Brasil, escritor e professor de Escrita Criativa, sobre Coisa amor (Urutau)

“Em 15 contos, com variadas formas e estilos, o autor investiga aspectos que constituem a experiência humana e sua condição universal. Memória, infância, sexo, desejo, solidão, relações familiares, loucura, inconsciente, fetiche e arte são alguns dos temas que Pedro Jucá entretece para sondar questões como o que caracteriza a experiência humana, os limites da interação do homem com o mundo e os sentidos do amor.”

Revista Cult sobre Coisa amor (Urutau)

Uma das maiores pré-vendas da história da editora Urutau, “Coisa Amor” (Urutau, 2022, 152 pág.), livro de estreia do escritor cearense Pedro Jucá (@pedrojuca_), é composto por contos que abordam avessos e contradições das relações humanas a partir de situações cotidianas, relacionadas sobretudo com a maternidade, o amor, a sexualidade e o desejo, o inconsciente, a morte, a memória, a loucura e a solidão.

Ao longo dos quinze contos, Pedro Jucá explora o poder da narração para apresentar diferentes facetas de suas personagens complexas, tomando mão, para isso, de diferentes estilos de escrita. Dito e não dito transcorrem através do texto como complementares, enquanto o autor explora os limites de um enigma: onde começa e a que se conforma a experiência do que é propriamente humano?

“São temas que, de alguma maneira, tocam aquilo que temos de mais radicalmente humano – nos dois sentidos: tanto de extremidade, de limite, quanto de início, de raiz. Dizem um pouco da minha maneira de ver o mundo, dizem um pouco daquilo que acredito ser universal a cada um de nós”, justifica o autor. “São questões recônditas, recalcadas, afastadas para uma zona de desconhecimento quase proposital, quase autopreservativa. Os temas não deixam de ser um cutucado forte nessa parte que, muitas vezes, ninguém quer perceber que traz em si”, elabora.

O cuidado com a linguagem é nitidamente percebido em cada um dos contos, oscilando entre uma prosa mais tortuosa, quase barroca, e textos mais simples, ao rés-do-chão. Destacam-se, aqui, três histórias. Em “Passo a Passo”, conto que abre o livro com a frase “Não existe nada mais ridículo e debalde desesperado na vida do que dizer isto: não é justo”, Pedro usa da primeira pessoa para investigar a depressão de uma bailarina que, talvez de propósito, acaba se cortando com uma louça quebrada. Já em “Coisa Amor”, que dá título ao livro, o autor se aproxima do fluxo de consciência para, com linguagem técnica e racional, brincar com os limites do que entendemos por amor: trata-se de química – puro corpo –, de acaso ou de destino? Por último, vale citar o conto “Ela”, que retrata a formação e a derrocada de um patriarca que reconhece, na esposa, o seu grande amor, tendo-a amado como a pôde amar. A narrativa, que é a mais longa da obra, constrói-se em uma prosa de ritmo fluido, simples na forma, mas elíptica no conteúdo, explorando-se ao máximo um jogo de pontos cegos que apenas uma narrativa em primeira pessoa permite desvelar.

 

Para Pedro, a escrita funciona como uma forma de elaborar esteticamente as próprias questões, que, de certa forma, são também questões humanas universais. Ele afirma que escreve de maneira metódica, buscando, sem abrir mão da inspiração, transformar em literatura suas visões, argumentos e sobretudo angústias diante dos fatos da vida e do mundo.

Entre Freud, Ferrante, Kundera e Hatoum

Pedro Jucá nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1989. Formado em Direito pela Universidade Federal do Ceará, atua como Procurador do Estado do Paraná. Mas vive também entre a literatura — é pós-graduado em Escrita Criativa pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e já foi contemplado por premiações como Prêmio de Literatura Unifor, Prêmio Ideal Clube de Literatura e Prêmio Off Flip de Literatura — e a psicanálise. Atualmente reside em Curitiba com seus três gatos: Willow, Hopper e Nimbus. É colunista do portal Curitiba Cult.  Em 2023, o autor passou a ser agenciado pela Agência Riff. 

Pedro se formou leitor como grande parte de sua geração: lendo Harry Potter, da J.K. Rowling, e gibis da Turma da Mônica, de Mauricio de Souza, mas conta que, desde cedo, demonstrou maior interesse por tudo que é considerado “psicológico”, e assim se aproximou de Clarice Lispector e de Machado de Assis ainda na adolescência. Na mesma fase, leu Tércia Montenegro, — que foi sua professora em Fortaleza, sua cidade de origem —, Natércia Campos e Ângela Gutiérrez.

Ao olhar para sua estante do passado, o autor destaca “Dois Irmãos”, de Milton Hatoum, e  seu “eterno preferido”, a “A Insustentável Leveza do Ser”, de Milan Kundera – além de Muriel Barbery, Philip Roth, Ian McEwan e, enfim, Elena Ferrante e sua Tetralogia Napolitana, que, para ele, simboliza a escrita ideal, a prosa em sua melhor forma, em sua forma definitiva.

Como “Coisa Amor” reúne textos que começaram a ser escritos ainda em sua adolescência – e, depois disso, muitas vezes revisados –, esse percurso literário desenha não só as influências literárias gerais, mas também como o escritor chegou até o cerne de seu livro. Pensando conto a conto, o autor multiplica ainda mais sua filiação, ao citar  Alice Munro, Miguel Torga, Cecília Meireles, Caio Fernando Abreu, Natalia Ginzburg e Sigmund Freud.

Pedro encontrou a escrita ainda na infância, antes mesmo de criar o hábito da leitura, mas o desejo de ser escritor só se impôs com mais força após seu encontro com a psicanálise — além do próprio processo de análise, passou, em um primeiro momento, a estudar Freud e Lacan por conta própria, para depois se filiar ao Corpo Freudiano, Seção Fortaleza — que é, como se pode ver pelos temas que o movem em “Coisa Amor”, uma de suas grandes influências.

“Tem uma frase do Edward Hopper que eu amo: “The only influence I’ve ever had was myself”. Pode parecer meio arrogante, mas acho que é uma verdade inafastável. No fundo, no fundo, a gente só vê e entende o mundo através do nosso próprio hardware (sentidos) e, quando muito, do software (linguagem), que nos é algo dado, transmitido. No final, toda escrita é um exercício solitário. Tudo meu parte, de alguma maneira, de mim, só de mim. E acredito que, por mais que se negue, todo processo criativo se dá, em maior ou menor medida, sob essa lógica.”

Confira trecho do conto “Passo a Passo”, em “Coisa Amor” (pág. 22):

“Mas não, nada disso aconteceu. As histórias mais tristes são também as mais prosaicas, as que sequer alcançam o status de tragédia. Desprovidas de potência ficcional, nem à catarse servem […]” 

Confira trecho de “Coisa Amor”, conto homônimo (pág. 32):

“Na cabeça da moça, muito dentro da cabeça da moça, através de pele, osso e meninges, um primeiro ponto se iluminou e, num pulso, propagou uma pequena corrente de lampejos que, neurotransmitida, atingiu um outro ponto que também se iluminou e atiçou um terceiro, que acordou um quarto, que ecoou em infinitos e simultâneos outros axônios e dendritos, pululando e cointegrando, em cinzentas e brancas massas, uma complexa e acesa malha em rede, que fez eclodir inundante desde inúmeras membranas e por todo canto uma torrente de pequenos códigos flutuantes, dopaminas, endorfinas, adrenalinas e serotoninas que se combinaram numa quantidade muito exata e que, enquanto o rapaz se despedia dela prometendo voltar a a encontrar no dia seguinte e conferindo a ela, porque guiava seu corpo inteiro ora suprido de toda falta a uma muito específica direção que era a direção dele, um sentido, traduziam-se, entre entranhas, como amor.”  

 

Confira trecho do conto “Years of Solitude”, em Coisa Amor (pág. 41 e 42):

“Um rosto envelhece não só de tempo, mas também do testemunho que dá de tudo o que sofreu, de cada espanto, de cada choro. E, se dá esse testemunho, é porque se resigna em não poder voltar a ser o que era. O rosto de Luiz António, contudo, parecia querer me dizer sempre o contrário. Às vezes, num lampejo, sua feição de menino coruscava em seu rosto de homem, e a trágica doçura que havia nisso quase obliterava o seu real sentido, que era o de um protesto, de uma irresignação profunda e dolorida demais para que eu — e talvez ele mesmo — pudesse entender.”

 

Compre “Coisa amor” via editora Urutau: www.editoraurutau.com/titulo/coisa-amor   

 

Siga Pedro Jucá no Instagram (@pedrojuca_): www.instagram.com/pedrojuca_ 

 

com.tato – curadoria de comunicação

Assessoria de imprensa do escritor Pedro Jucá

Jornalistas responsáveis: Karoline Lopes e Marcela Güther


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