Mulheres trans lutam e reivindicam espaços no mercado de trabalho

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Raphael Santana

“Carregamos no nosso próprio corpo a bandeira de luta e, por isso, temos essa negação ao mercado de trabalho”. O relato de Thiffany Odara bem que poderia ser o de Paola, Luísa, Suzy, Flávia, Lara, Viviane e tantas outras mulheres transexuais que buscam visibilidade, além dos seus corpos marginalizados.

De acordo com um levantamento conjunto da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Grupo Gay da Bahia (GGB) e Agenda Bahia do Trabalho Decente/Setre, de 2019, mais de 30% das empresas evitaram a contratação de LGBTIs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Intersexuais).

“Não existe um dado preciso, mas, ao menos, 90% das mulheres trans ingressam no mercado da prostituição por falta de oportunidades. As vagas que surgem são para setores do comércio e call center, mas a maioria fica mesmo na informalidade”, observa a presidente da Antra, Keila Simpson. Segundo ela, as oportunidades são, em geral, para trabalhos sem contato visual com o consumidor.

Eu não tenho vergonha de ser um corpo marginal. Eu só queria que as pessoas entendessem que, mesmo meu corpo sendo marginal, eu posso ser um corpo marginal com garantia de direitos

Thiffany Odara, pedagoga

Ainda segundo o levantamento, quase 70% dos trabalhadores já presenciaram situações de discriminação pela orientação ou identidade sexual no ambiente de trabalho. Mesmo diante das adversidades, Thiffany Odara, 30 anos, garantiu vaga em uma universidade pública e concluiu a graduação no curso de pedagogia da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Hoje, ela atua como educadora social e redutora de danos no Centro de Promoção e Direitos de Defesa LGBTI da Bahia, da Secretaria de Direitos Humanos.

“As estruturas sociais do nosso país, forjadas com práticas cis hétero normativas e excludentes, mostram como as trans são invisibilizadas e marginalizadas” analisa Thiffany. Ela relata que conseguiu trabalho graças ao projeto voltado para direitos humanos, mas, enquanto educadora, é barrada em seleções de emprego em escolas particulares e outras instituições.

“Eu não tenho vergonha de ser um corpo marginal. Eu só queria que as pessoas entendessem que, mesmo meu corpo sendo marginal, eu posso ser um corpo marginal com garantia de direitos”, reivindica.

assessora parlamentar na Assembleia Legislativa do Estado da Bahia (Alba), Paulett Furacão, de 33 anos, é uma das que ‘gritam’ por políticas públicas. “Há uma demanda do segmento. Precisamos de políticas efetivas de inclusão, como cotas, para garantir a esses corpos marginalizados no mercado o trânsito nos espaços sem sofrer preconceito”.

Ela se coloca na condição de privilegiada pela possibilidade de frequentar ambientes em que a maioria das mulheres trans tem o direito negado. “Eu me sinto solitária no núcleo de trabalho por saber que muitas das minhas colegas sequer têm o ensino fundamental completo. Quando você nega o direito a um corpo, você, com certeza, será afetado”.

Representatividade

No que se refere à inclusão de mulheres trans no esporte, pode apostar que o nome de Tiffany Abreu está no olho do furacão. Polêmica atrás de polêmica, julgamentos de atletas leigas sobre a participação ou não de mulheres trans em competições oficiais e preconceito, muito preconceito.

Desde que passou a atuar na Superliga Feminina de Vôlei, em 2017, com autorização da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) e Federação Internacional de Vôlei (FIVB), o que apareceu de ‘entendedor do assunto’ não dá para mensurar. Apesar das posições contrárias, a jogadora é firme.

“Eu sou muito bem recebida onde vou, recebo muito carinho do público e tenho um tratamento muito bom no ambiente de trabalho”, avalia a jogadora. Segundo a atleta, a única dificuldade enfrentada na modalidade é manter o alto nível. Quando o assunto é crítica, Tifanny criou uma tática simples para se blindar: “evito ler mensagens e assistir aos vídeos na internet”.

A sensação de acolhimento vivida por Tiffany é quase que exclusiva da atleta. Segundo dados da Antra, por meio do Dossiê e da Violência Contra Travestis e Transexuais Brasileiras em 2019, 99% das pessoas LGBTI afirmaram não se sentir seguras no país. No ano passado, a violência contras as pessoas trans chegou, em média, a 11 casos diários no Brasil.

Pedido

O mês de homenagem às mulheres cis gênero é também celebrado pelas mulheres trans, que fazem coro ao pedir: “Parem de nos matar” e “queremos uma sociedade mais justa e igualitária”.

A Tarde UOL


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