Glamour Garcia: “O Brasil sempre chacoteou e desvalorizou os artistas trans”

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Atriz celebra papel representativo em ‘A Dona do Pedaço’, atual novela das 9.

por MARINA BONINI

Conquistar um papel em uma novela das 9 tem um significado ainda mais especial para Glamour Garcia. A atriz, de 30 anos, está eufórica não só com a oportunidade de interpretar Britney em A Dona do Pedaço, como de poder ser uma representante das atrizes transexuais. A primeira aparição da personagem foi a cena final do capítulo de quarta-feira (29).

“O espaço que a gente conquista como profissional é sempre muito importante, mas para uma pessoa trans é ainda mais. Não estou apenas inserida no mercado de trabalho, como representando as mulheres trans. Sou uma profissional que tem um posicionamento e espaço, que foram conquistados ao longo de anos dentro de uma trajetória, trabalhando com muitos artistas e trocando experiências em grupos de teatro, no cinema e etc”, conta ela, que ficou mais conhecida por sua atuação na série Rua Augusta.

Chegar até aí não foi tão simples para a atriz, nascida em Marília, interior de São Paulo. Formada em Artes Cênicas Universidade Estadual de Londrina, no Paraná, ela conta que mesmo dentro do meio artístico existe preconceito com transexuais.

“A verdade é que o Brasil nunca valorizou os seus artistas trans, sempre chacoteou e desvalorizou. Arte em geral nunca valorizou o artista trans! Estou em uma novela das 9, que tem muito alcance. Agora tenho um espaço e tenho que aproveitar. Estou muito animada. Vai ser um momento delicioso”, avalia.

Glamour Garcia (Foto: Reprodução)

“Quando fui para Londrina estava em uma fase já transacionada, mas muito diferente. Eu era muito jovem e muitas mudanças iam se acentuar ainda no meu corpo. Não era tão simples o começo. Quando você está se descobrindo, se permitindo, socializando e buscando direitos, esse corpo pode ser muito vítima de preconceito e impedimentos. A sociedade cria impedimento para que as mulheres trans se capacitem e trabalhem em outras áreas. O que mais tem é mulher trans capacitada! Mas ainda existe esse olhar, inclusive na classe artística, de que a pessoa trans incomoda, que não tem que estar ali e que tem poucas opções de trabalho para ela”, relembra.

Mostrar para outras mulheres trans que elas podem ser o que quiser é um sonho para Glamour, que relembra a infância e adolescência sem muitas referências.

“Na minha infância e adolescência não tinha muita referência. Tinha no Brasil a Roberta Close, mas ela mesma foi seguir carreira fora do Brasil. Hoje até entendo que talvez ela estivesse em um momento mais introspectivo. Por muitos anos não tive outras pessoas trans na minha volta para trocar ideias. É uma situação complexa.”

Na trama, Britney abordará a readequação de gênero com humor e com o apoio da família. “As novelas trabalham mais com a realidade do que com rótulos. A Britney tem um lado melodramático e está inserida em um núcleo cômico. Cada uma dessas linguagens tem a sua importância e contexto. Não é rir da desgraça, mas aprender com ela e construir um meio melhor para ser e para criar”, diz.

Glamour Garcia (Foto: Reprodução)

Na sua vida, Glamour conta que, assim como sua personagem, também foi apoiada pelos pais quando decidiu que deixaria de ser Daniel para ser Daniela. “As coisas eram diferentes na minha época. Tinha menos informação e o processo foi mais longo do que na vida da Britney. Mas, assim como ela, fui super recebida na família. Espero que com a minha personagem o assunto se torne cada vez mais recorrente e que as pessoas sejam mais receptivas como os pais da Britney”, conta ela, que se inspirou no nome que tinha de um fotoblog no começo dos anos 2000 para criar o nome artístico.

REDESIGNAÇÃO SEXUAL
Passar pelo processo de redesignação sexual ainda é um sonho para Glamour. Mas a cirurgia não deve acontecer tão breve. “Não passei pela cirurgia ainda, só pelo processo de readequação social e existencial. Pretendo passar, mas neste exato momento não tenho agenda. A questão de trabalho e saúde são superimportantes. Tem que realizar uma etapa primeiro e depois a outra.”

LUTA PELAS CAUSAS LGBTQIA
A luta pela criminalização da homofobia também é uma preocupação para ela. Neste ano, a maioria dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) votou pela criminalização da transfobia e homofobia. “Acredito que é importante ficar frisando de forma sensível que pessoal são violentadas e brutalmente assassinadas pela transfobia e homofobia. É sim crime hediondo.”

Glamour Garcia (Foto: Reprodução)
Glamour Garcia (Foto: Reprodução)

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