Gay e de origem indígena, ator brasileiro lança filme e milita contra preconceitos em Hollywood

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O curta-metragem ‘Desconstruindo Val’ foi feito todo em inglês; para pagar o sonho hollywoodiano, que custou mais de US$ 10 mil, o artista trabalhou mais de 14 horas por dia lavando pratos e limpando chão

A inspiração veio da vida real, de relatos de amigos e da própria experiência compartilhada com atores e minorias do mundo inteiro que procuram brilhar na ensolarada Hollywood. O brasileiro de origem indígena Diogo Pinto da Silva criou a personagem Val Brazil há mais de uma década, mas só agora conseguiu colocá-la em um filme. O curta-metragem “Desconstruindo Val” tem lançamento marcado para 28 de março e, devido à pandemia, será um evento on-line.

Natural do Mato Grosso do Sul, gay, de origem indígena, latino, imigrante, Diogo busca através de seu trabalho trazer visibilidade para as minorias e lutar contra preconceitos, algo com que precisou aprender a conviver desde muito pequeno.

Vivendo nessa “La La Land” onde todos estão batendo nas portas dos grandes estúdios, o ator brasileiro bancou o filme para tentar abrir seu próprio espaço e para obter experiência junto a profissionais do mercado de Hollywood.

O filme foi feito todo em inglês. Além de atuar interpretando Val e de ter produzido o filme, Diogo também assina o roteiro no qual Val Brazil é uma performer brasileira que sonha com o estrelato na meca do cinema. “Val é uma pessoa que não é talentosa, mas ela tem esse sonho. É ingênua e acho que esse é o carisma da personagem. É óbvio que irá passar por louca, porque ela é esquisita, pra frente, espontânea”, explica.

Há seis anos morando em Los Angeles, Diogo conta que utilizou fragmentos da vida real para escrever a ficção.”Eu me deparei com situações de colegas, que trabalham aqui como massagistas e que têm histórias interessantes sobre os clientes. Tem um personagem no filme que é contratado para ficar abraçado e fazer companhia a Val Brazil, é algo realmente acontece”, diz.

O brasileiro enumera outros episódios que serviram de base para seu filme: “Eu tenho um amigo que foi contratado para ir na casa de um cliente escutá-lo tocando piano e tomar champanhe. Eu fiquei deslumbrado com esse universo e pensei: ‘eu preciso escrever algo sobre os brasileiros que trabalham como massagistas'”.

Diogo conta que, com pitadas de ficção para deixar a trama mais atraente, um personagem, que é o predador da história, usa Val como objeto sexual. Segundo ele, essa figura foi inspirada no perfil comum de americanos que contratam serviços e que, muitas vezes, se aproveitam da fragilidade das pessoas estarem em terras estrangeiras.

“Essa parte romântica da Val, de ser imigrante, de buscar espaço em Hollywood, eu tirei de mim e coloquei nela para deixar mais orgânico e humano. Essa é a história de muitas pessoas, não só de brasileiros”, completa.

Diogo em Hollywood e com sua mãe Foto: Arquivo pessoal
Diogo em Hollywood e com sua mãe Foto: Arquivo pessoal

Em busca de cada centavo

Para pagar o sonho hollywoodiano, que custou mais de US$ 10 mil, Diogo trabalhou pesado, muitas vezes mais de 14 horas por dia, lavando pratos, limpando chão, fazendo compras em supermercado e como motorista de aplicativo. Foi ele quem pagou a produção, edição, equipe e todos os outros custos do filme.

“Eu coloquei o roteiro no carro e o deixei lá por um ano inteiro para que quando eu estivesse dirigindo de madrugada, olhasse para ele para lembrar que estava fazendo tudo isso porque eu precisava guardar dinheiro para fazer esse filme. Eu trabalhava até o Uber dizer: ‘você precisa descansar’. Quem trabalha neste meio sabe que quando a gente está mais de 12 horas sem parar de trabalhar o aplicativo começa a parar de funcionar.”

Foi trabalhando como motorista que conseguiu também informações do mercado de cinema em Hollywood. Segundo ele, os passageiros compartilharam dicas preciosas. Em outro trabalho temporário como garçom, Diogo conheceu a americana Brandi Self, diretora do filme e com quem assinou o roteiro.

Lutas e representatividade

De família muito pobre, a mãe de Diogo nasceu na aldeia Terena de Cachoeirinha, em Miranda, Mato Grosso do Sul. O ator conta que desde pequeno sofreu discriminação por ser indígena. Quando tentou fazer faculdade e não tinha dinheiro, ele lembra que queria conseguir uma bolsa através de cotas, mas se envergonhava diante de tanta marginalização.

“Só tinha bolsa para indígena nas áreas de agricultura, administração, matemática… ou seja, a gente nem podia seguir o sonho na profissão que quisesse”, conta Diogo. Mais tarde, ele conseguiu se formar em jornalismo, porém, mais uma vez, sentiu discriminação ao tentar trabalhar em frente às câmeras.

“A discriminação veio para mim de uma forma tão silenciosa que eu demorei a perceber. As crianças tiravam sarro de mim desde quando eu era pequeno. No dia do índio, berravam no meu ouvido. Eu tinha vergonha do meu nome, da minha família e das minhas origens. Foi muito difícil aceitar que eu teria que ir embora se eu quisesse fazer alguma coisa.”

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