Uma das apresentadoras mais incríveis da televisão norte-americana completa 60 anos hoje.
Sim, sou gay.
Foi há quase 21 anos que a atriz e apresentadora Ellen DeGeneresestampou a capa da revista Time com a frase acima. Aos 39 anos, ela foi uma das primeiras mulheres que escolheu ser vista e resistir, em um mundo que, de forma violenta e radical, insiste em dizer que ela não tem esse direito. À época, ela disse: “Eu fiz isso pela minha própria verdade”. Hoje, data em que ela completa 60 anos, Ellen já foi até condecorada por Barack Obama e é considerada um símbolo de força para a comunidade LGBT.
Em determinado momento de sua entrevista à Time, em 1997, o repórter pergunta a ela: “Por que agora?”. Ellen responde: “Eu não acho que eu poderia ter feito isso antes. Não acho que as pessoas aceitariam tão prontamente quanto agora. Nesse momento eu me sinto confortável comigo mesma, e não tenho que ter medo de algo prejudicando minha carreira. Agora estou no controle disso. Ninguém pode me machucar agora.”
Confiante e sem medo do que poderia acontecer, semanas após a repercussão gigantesca da capa da Time, Ellen falou sobre o assunto em entrevista à Oprah Winfrey, ao lado de sua namorada na época, a atriz Anne Heche. “Eu decidi que isso não era algo do qual eu teria vergonha a minha vida inteira”, disse. “Eu esperava ser atacada. Eu esperei tudo isso. E esse foi o meu medo por muito tempo, de perder tudo, minha casa e minha carreira”, continua.
Ellen tinha se tornado conhecida pelo sitcom homônimo de sucesso da ABC, em que ela era protagonista. Após as entrevistas à Time e Oprah, foi no episódio The Puppy, que Ellen Morgan (interpretada por DeGeneres) impactou mais de 44 milhões de pessoas ao pronunciar a mesma frase da capa da Time, em um diálogo com a atriz Laura Dern:
“Isso é tão difícil, mas eu acho que eu percebi que eu sou… Eu não consigo nem dizer a palavra. Por que eu não consigo dizer essa palavra? Por que eu não consigo simplesmente dizer… O que está errado? Por que eu preciso ter tanta vergonha? Por que eu não consigo simplesmente dizer a verdade e ser quem eu sou? Eu tenho 35 anos de idade e tenho tanto medo de contar às pessoas. Susan… Eu sou gay.“
A declaração de DeGeneres poderia ter sido vista como um grito de liberdade, mas parte das milhares de pessoas que assistiram ao show não encararam assim. Segundo a Vanity Fair, nas semanas seguintes à veiculação do episódio, a ABC recebeu uma série de reclamações, incluindo um abaixo assinado, afirmando que o episódio havia sido “uma tentativa ruidosa de promover a homossexualidade”.
A revista também destaca que a equipe de produção do seriado recebeu ameaças de morte, mensagens de ódio à Ellen e Oprah e algumas produtoras chegaram a recusar trabalho para Laura Dern em Hollywood. Ela interpretava Susan, par romântico de Ellen na série.
Devido à repercussão negativa, pouco mais de um ano depois a série foi cancelada. Mark Driscoll, produtor-executivo, lembra a Vanity Fair, disse claramente à época que o programa perdeu audiência por ser uma série que conta a história de uma “mulher que é lésbica e não tem vergonha disso, diferente de ser sobre uma mulher que, ‘por acaso’ se descobre homossexual”.
Em 2017, quando a exibição deste capítulo específico da série completou 20 anos, Ellen disse, na abertura de seu talk show que esta situação “foi a coisa mais difícil que já aconteceu na minha vida”, mas que “não mudaria nada, porque isso me trouxe até aqui, o que é uma alegria”. Ela continua: “E o fato de vocês estarem aqui [na plateia]e me também estarem dispostos a me receber na casa de vocês todos os dias, quando ninguém pensou que isso nunca mais iria acontecer, significa muito para mim”.
Desde então, Ellen foi protagonista de outro seriado chamado The Ellen Show, que foi veiculado entre 2001 e 2002 e, finalmente, em 2003 ganhou seu próprio talk show – que está no ar até hoje e é um dos programas que traz recordes de audiência na televisão norte-americana: The Ellen DeGeneres Show.
Em seu programa, além de receber celebridades entrevistá-los de forma irreverente, ela levanta discussões sobre temas caros à sociedade como: bullying, aquecimento global, direitos das mulheres e direitos LGBT.
Além dessa conquista, ela já apresentou uma cerimônia do Oscar (como esquecer a famosa sefie?), dublou pesonagens de sucesso como Dory, em Procurando Nemo, casou-se com Portia de Rossi e ganhou a Medalha da Liberdade, entregue por ninguém menos que Barack Obama.
Um artigo da Hollywood Reporter aponta que vida de Ellen realmente mudou após o The Puppy. Cerca de 21 anos depois, ele continua sendo relevante na história da televisão norte-americana. Em 2017 ele pode não produzir as mesmas reações do passado, mas “DeGeneres sempre confrontou os padrões estabelecidos da maneira mais calorosa e menos agressiva possível”. É um episódio que é igualmente sobre a aceitação tanto da Ellen atriz, quanto da personagem — por si mesma, pelos telespectadores, pelos colegas de elenco, pela “instituição” televisão, finaliza o artigo.
Uma inspiração e tanto.
http://www.huffpostbrasil.com/2018/01/26/como-ellen-degeneres-abriu-um-caminho-para-lgbts-na-televisao-norte-americana_a_23344496/