Como apoiar alguém que se assume LGBTQIA+?

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jornalista Fay Barrett conta sua experiência de se assumir LGBTQ+ e consulta um comitê de especialistas renomados para descobrir a melhor forma de apoiar quem tenta contar essa “novidade”. Seja seu filho, sua filha, um irmão, uma irmã, um ex ou uma ex, veja como reagir da melhor forma possível quando alguém se assume, aos 17 ou aos 70 anos.

“Começou a contagem regressiva. Hoje é o dia D. Eu estou prestes a sair da trincheira para enfrentar a artilharia.”

Eu escrevi isso em meu diário sete anos atrás, à noite, um dia antes de me assumir para meus pais.

Eu tinha muito medo da transformação que essa simples frase, “eu sou gay”, poderia causar em minha vida e, potencialmente, na minha relação com meus pais, para sempre.

Meus medos eram infundados. Meus pais me deram a resposta dos sonhos. As lágrimas rolavam pelo meu rosto e o instinto da minha mãe foi de me abraçar. Minha mãe se lembra de ter dito: “Eu e seu pai amamos muito você e, se você está feliz, não temos nenhum problema com isso. Nós receberemos bem em nossa vida qualquer pessoa que você escolher”.

Quando alguém resolve se assumir, há um medo evidente da rejeição. Então, como você pode garantir que um filho ou um adulto que faz parte da sua vida se sinta apoiado? Para descobrir, eu falei com a coach de relacionamentos Ali Hendry, com Chloe Foster, psicoterapeuta do Sussex Rainbow Counselling, e com minha querida mãe.

A escritora Fay Barrett (foto aqui quando adolescente) disse que seus pais deram a
A escritora Fay Barrett (foto aqui quando adolescente) disse que seus pais deram a “resposta dos sonhos” quando ela finalmente se assumiu aos 30 anos. (Imagem fornecida)

Escute com atenção

Ali, que atua como coach de relacionamentos na comunidade queer, afirma que o medo da rejeição antes de se assumir é muito comum no universo LGBTQ+. “Muitas pessoas que se tornaram desabrigadas ou suicidas, ao contar sua história, apontam um momento em que se sentiram rejeitadas ou sem apoio de sua família.”

Alertando os pais para não fazer de seus filhos “mais um para as estatísticas”, Ali define o processo de um jovem se assumir como um “momento fundamental, no qual você pode ter um impacto positivo sobre o futuro de seu filho”. Lembre-se de que seu filho “pode ser

hipersensível e estar atento a qualquer indício de rejeição”.

Ali aconselha a “ouvir para escutar”, mais que “ouvir para falar”. Muitas vezes, estamos mais pensando na nossa resposta do que compreendendo as palavras de alguém.

O conselho da minha mãe é o seguinte: “Mantenha o diálogo. Esteja sempre disponível, mesmo que vocês estejam a quilômetros de distância. Deixe claro que você está do outro lado da linha. Não importa se forem 2 da manhã. Você está disponível mesmo que seu filho já tenha crescido. Você ainda é sua mãe”.

Confie e acredite

Acreditar é uma palavra importante para a terapeuta Chloe Foster. “A melhor forma de apoiar uma criança ou um jovem que está se assumindo gay, bissexual ou outra categoria do espectro LGBTQI+ é acreditar no que ele diz. Debater ou questionar a sua identidade não é correto. Essa criança ou jovem precisa do seu amor e do seu apoio.”

A informação pode ser nova para você, mas já está na cabeça daquele jovem há um bom tempo. “Reconheça que vocês estão em pontos diferentes na jornada de aceitação”, acrescenta Ali.

O momento de “sair do armário” do seu filho adolescente é uma chance para você ter um impacto positivo no futuro do seu filho, dizem os especialistas. (Getty Creative)
O momento de “sair do armário” do seu filho adolescente é uma chance para você ter um impacto positivo no futuro do seu filho, dizem os especialistas. (Getty Creative)

Respeite o direito de ser fluido

Muitas pessoas mudam a forma como se identificam ao longo da vida: hétero, gay, bissexual, não binárie, trans, pansexual, assexual etc. Como você pode ajudar alguém que está vivendo a fluidez sexual?

A sugestão de Chloe é se lembrar de que a identidade sexual é fluida para muita gente.

“Não somos as mesmas pessoas, com as mesmas atrações, aos 14 e aos 19 anos. Quando um jovem muda o rótulo pelo qual se identifica, isso não quer dizer que o anterior fosse falso, mas sim que ele está tentando descobrir, ao longo do tempo, qual é a palavra certa para se definir.”

Ela sugere encarar esse processo positivamente. Isso vai aumentar a confiança entre vocês e deixá-lo confortável para compartilhar o desenvolvimento de sua sexualidade.

Assumindo-se depois de adulto

Muitas pessoas assumem sua sexualidade durante a adolescência, mas nem sempre é assim. Pode ser difícil ouvir de uma pessoa que você sempre conheceu como heterossexual que ela é gay. Quando eu me assumi, aos 34 anos, alguns dos meus amigos mais próximos tiveram dificuldade em aceitar que eu não tivesse compartilhado meu “segredo” antes.

Chloe ressalta a necessidade de ser levado a sério: “Como vivemos em uma sociedade heteronormativa, é muito mais difícil para as pessoas gays e bissexuais entenderem quem elas são e compartilhar isso”.

De acordo com ela, você pode se sentir enganado, mas tente entender por que ela levou tanto tempo para contar. É como se a pessoa estivesse tentando lidar com sua sexualidade e tivesse medo da sua reação.

Assumindo-se no trabalho

Se um colega de trabalho se assumir para você durante um cafezinho ou por uma chamada no Zoom, lembre-se de que isso não é tema de fofoca, aconselha Chloe. Em vez disso, pergunte como você pode oferecer seu apoio.

Ali aconselha a respeitar o tempo da pessoa e deixar que ela conte as coisas voluntariamente. Só faça perguntas caso ela te convide, “caso contrário, pode parecer que você a está provocando ou sendo invasivo”.

Saiba que nem sempre é o caso de a pessoa “sair do armário” na adolescência. (Getty Creative)
Saiba que nem sempre é o caso de a pessoa “sair do armário” na adolescência. (Getty Creative)

Quando um ex se assume

Compreensivelmente, muitas pessoas ficam confusas quando um ex se assume. Então, aquele relacionamento era uma mentira? Qual seu papel nessa mudança de identificação? Ali lembra que, apesar de ser comum se sentir enganado, nervoso ou feito de bobo, lembre-se de que a questão não é você.

“Tente perceber que as ações do seu ou da sua ex não são direcionadas para você ou de alguma forma ligadas a você. Veja essa nova informação como algo 100% ligado a essa pessoa. Ao mesmo tempo, as suas próprias reações a essa informação são totalmente válidas. Procure desassociá-las de uma tendência a atribuir relações de causa e efeito.”

Como diz Chloe: “Ninguém pode ser a causa de outra pessoa ser bissexual ou gay. Tente sentir-se feliz pelo fato de a pessoa estar mais satisfeita, agora que ela pode ser franca sobre quem ela realmente é.”

Vínculos familiares

Encerro este texto com a sabedoria da minha bela mãe, que nos lembra da importância de nos amarmos uns aos outros incondicionalmente.

“Não tem como eu dizer ‘eu não posso lidar com isso, saia daqui’, porque eu não sei quantos anos ainda tenho pela frente. Eu quero passar esses anos dando à minha filha o amor que sempre dei, cuidando dela, apoiando-a e aproveitando a vida que temos juntas.”

Eu gostaria que todo mundo que se assume tivesse o mesmo apoio amoroso que eu recebi. Mas, seguindo esses conselhos, você pode fazer a diferença quando alguém mais precisa.

Br.Vida


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