Feira de Empreendedorismo LGBT busca fomentar o setor

0

Fábio Bittencourt | Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE

Atualmente diretor de expansão para a América Latina do aplicativo de relacionamento homoafetivo Grindr e morando em Los Angeles, na Califórnia, Estados Unidos, Fernando Sandes ainda era estudante de ciência da computação na Universidade Federal da Bahia quando, em 2016, criou a Viajay – startup de turismo e entretenimento gay no Brasil. O negócio por aqui segue firme e até ganhou uma versão americana, o Visitay. Sandes jura que ainda não ficou rico, mas espera um dia chegar lá.

“O objetivo é ajudar com informações e serviço para que o viajante homossexual possa tirar melhor proveito”, afirma.

Não é de agora que a oferta de produto e/ou serviço LGBT saiu do “armário”, mas é cada vez maior o número de empreendimentos voltados para este público – ou “friendly” – bem como de empresas atentas à questão da diversidade em suas relações. Com o objetivo de fomentar o segmento, discutir empregabilidade e renda, a Superintendência Regional do Trabalho da Bahia (SRT-BA) vai realizar, em abril, em Salvador, a I Feira de Empreendedorismo LGBT.

De acordo com o analista da SRT-BA Antônio de Pádua, o objetivo é “criar vitrine para dar visibilidade às capacidades criativas e inventivas da população LGBT”. Segundo ele, a data não foi definida, “mas será na segunda quinzena”.

“As políticas de estímulo ao empreendedorismo do estado brasileiro já contam com uma curva de aprendizado bastante consolidada. As (políticas) de microcrédito produtivo orientado e a rede de assistência e orientação do Sebrae são casos de sucesso amplamente reconhecidos. Entretanto, precisamos pensar como podem ser adaptadas e revisadas para lidar com as questões relativas à identidade de gênero. Para que sejam mais amigáveis à população LGBT”, afirma.

No Brasil não existe pesquisa – nem oficial nem patrocinada – que trate do assunto –, mas a Organização Mundial do Turismo (OMT) estima que 20% do globo seja gay, bissexual, travesti e/ou transgênero, afirma o presidente da Câmara de Comércio e Turismo LGBT, Ricardo Gomes. Segundo ele, dados da mesma OIT apontam que o turista gay gasta até 30% mais que o heterossexual e que existem 50% mais passaportes ativos entre pessoas desse grupo.

“Mas temos um problema grave que é o de não dispormos de pesquisa ou dados sobre o assunto (sobre o perfil, renda, hábito de consumo), mesmo com um acordo há cinco anos junto ao governo, de levantarmos recursos para este tipo de mapeamento, devido à importância econômica do tema. Pesquisa é muito cara, o país é grande. Existe nos Estados Unidos, em vários países. Há 11 anos a Argentina trabalha isso. Lá se pode dizer que 20% do turismo é LGBT”.

Amigos da comunidade

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Bahia, o número declarado de casais do mesmo sexo no último Censo 2010 no estado é 3.031, sendo 1.779 do sexo feminino e 1.252 do masculino. Em Salvador o número foi de 1.881 – 1.020 do sexo feminino, 861 masculino. “Muitos não declaram (ser homossexual). Além do mais, um estudo dessa natureza requer um esforço tremendo, novas metodologias e abordagens por parte dos entrevistadores”, conta Gomes.

O empresário Ricardo Brasil e a mulher não imaginavam que se tornariam “grandes amigos” da comunidade gay de Salvador ao inaugurar, cerca de 16 anos atrás, a creperia La Bouche, na Barra. Melhor dizendo, no “beco” da extinta Off Club, primeira boate “GLS” (sigla atribuída na época) da capital baiana. Com até 90% da clientela LGBT, ele se diz “apaixonado por essa galera”.

“Aconteceu de maneira inesperada. Nosso objetivo sempre foi promover a boa culinária, concursos gastronômicos, serviço diferenciado e boa música. E temos o reconhecimento do público, que é bastante exigente, fiel, todo mundo classe A. É uma mistura perfeita. Tenho irmão gay, tia lésbica, e a premissa é que a pessoa tem de ser íntegra e de boa conduta. As escolhas, essas são algo pessoal”, fala.

Se não é um hotel “colorido”, o Praia da Sereia, em Itapuã, é “amigo” do gay, explica o gerente do estabelecimento, Daniel Vidal. Segundo ele, uma parceria com o Viajay fez aumentar a ocupação e o faturamento do local. “Aqui, todos são bem-vindos, são pessoas e devem ser tratadas com respeito. Este é um público cativo, que volta com mais frequência. E o que toda empresa quer é fidelizar”.

“Essa (o empreendedorismo LGBT) também é uma atividade comercial como outra qualquer, que requer planejamento, entender bem a necessidade do público, suas peculiaridades. É conhecer o produto, o serviço; focar no atendimento. Saber o que se está propondo, o formato, canal de vendas. E investir; investir em pesquisa de mercado, comunicação. Fazer um bom uso das redes sociais”, fala a analista do Sebrae Viviane Brasil.

Para a presidente da Associação Brasileira LGBT, Symmy Larrat, “existe uma cadeia produtiva LGBT se formando”. “Porque o mercado formal de trabalho é violento, violador, que por vezes não respeita a orientação sexual e a identidade de gênero da pessoa. Então, muito LGBT está partindo para o empreendedorismo, para a economia solidária. Por outro lado, existe um movimento por parte de empresas que já se apresentam amigáveis. Então, tudo tende a aumentar”.

 

Atarde.uol


Deixe um comentário ou dica do que gostaria que pudéssemos trazer de novidade para vocês. E se curte nosso CANAL faça uma doação de qualquer valor para que possamos continuar com esse trabalho.

PIX: (11) 98321-7790
PayPal: [email protected]

TODO APOIO É IMPORTANTE.

Compartilhar.

Sobre o Autor

DEIXE UM COMENTÁRIO

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.