Universidade dos EUA cria moradias especiais para comunidade LGBT

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UOL Educação

 

Ariel Kaminer
Do New York Times 

 

Membros da fraternidade Delta Lambda Phi, predominantemente GLS

 


Há dois anos, Tyler Clementi, um calouro gay da Universidade Rutgers,
cometeu suicídio após saber que seu colega de quarto ridicularizou sua
sexualidade e convidou amigos para espiá-lo com outro homem. Esse
terrível episódio chamou uma atenção nacional nada bem-vinda para a
universidade. Antes conhecida como uma escola estadual grande e diversa,
Rutgers passou a ser associada a homofobia e crueldade.

Mas hoje, estudantes gays, lésbicas, bissexuais, transgênero e aqueles
que os apoiam podem escolher quatro opções de moradia especializada,
três delas novas, variando de um serviço que as une com colegas de
quarto de mentalidade semelhante, até a Perspectivas Arco-Íris, um piso
em um dormitório organizado em torno de interesses comuns.

 

Eles agora podem contar com apoio dos 130 funcionários e membros do
corpo docente que foram treinados como contatos oficiais do campus, ou
com os estudantes de um novo programa de treinamento para “aliados”,
cuja sessão inaugural já está com lotação máxima. A edição deste ano de
um manual que lista os recursos do campus para “questões homossexuais”
tem 92 páginas.

 

E nesta semana, a Campus Pride (orgulho do campus), uma organização que
avalia as escolas com base em suas políticas inclusivas, deu ao campus
principal da Rutgers, em New Brunswick, a cotação máxima, cinco
estrelas. Dentre as 32 categorias possíveis nas quais uma escola pode se
distinguir, a Rutgers teve sucesso em 31.


A Rutgers tem uma longa história de inclusão; quando a Liga Homofila de
Rutgers foi fundada em 1969, por exemplo, ela era apenas o segundo
grupo estudantil do gênero no país. Mas desde a morte de Clementi em 22
de setembro de 2010, a universidade tem aumentado seus esforços,
estimulada por uma comunidade que se expressa intensamente no campus,
uma administradora cheia de energia e uma necessidade urgente de
controle de danos.



Mesmo alguns dos estudantes ficaram surpresos pela força da política de inclusão da Rutgers.

Em 2011, pouco antes do início de seu primeiro ano na Rutgers, Nicole
Margolies estava falando com um supervisor quando disse: “Eu sou
transgênero, e não sei o que fazer a respeito. Para onde eu vou?” Nick,
como o estudante é conhecido agora, temia que nem mesmo sua entrada
seria autorizada no campus. Em vez disso, ele disse, quando ele chegou
lá, o nome na porta de seu quarto no dormitório tinha sido atualizado.
Seus professores o tratam como “ele”. E todos o fazem se sentir normal.
Ele diz que se espantou.

 

ALIADOS

 

No centro de toda essa atividade está Jenny Kurtz, a chefe do Centro
para Educação de Justiça Social e Comunidades GLS da Rutgers. Falando
rápido como uma metralhadora, ela soa como uma estudante especialmente
cafeinada. Mas com seus cabelos loiros, óculos escuros enormes e salto
alto, ela mais parece uma agente júnior de Hollywood e se destaca
facilmente em um campus descontraído de bonés e jeans.

Kurtz disse que uma das maiores prioridades de seu trabalho era “criar
aliados” –pessoas cujas identidades não correspondessem às iniciais em
seu portfólio, mas que se consideram amigas da causa ou causas, e querem
saber mais sobre como ajudar.



Esse esforço, que somado aos outros projetos do centro, sai de um
orçamento discricionário de US$ 70 mil neste ano (em comparação a US$
40.500 no ano anterior à morte de Clementi), parece ser extremamente
bem-sucedido. Além da procura por programas de treinamento, ela disse
que não consegue produzir broches de “aliado” rápido o bastante; tão
logo ela recebe mil, as pessoas os pegam e pedem mais.



Além dos próprios estudantes gays e transgênero e do círculo
concêntrico daqueles que se posicionam ativamente como aliados, não se
sabe até onde a mensagem do centro se espalhou. Kurtz disse que ainda
não encontrou nenhuma pessoa que não desse apoio. Mas Rutgers é, afinal,
uma universidade de 59 mil alunos espalhados por vários campi.


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  • A residência universitária oferece um andar específico para membros da comunidade LGBT


Stefan Koekomoer, um aluno de estudos medievais que se formou no ano
passado, disse ter ouvido vários comentários e xingamentos homofóbicos
ao longo dos anos.

“Eu quase fui atrás de dois sujeitos porque estavam ridicularizando e
apontando” para um amigo gay, ele disse. Koekemoer, que é heterossexual,
disse que ele próprio às vezes era xingado, mesmo durante as aulas.
Robert S. Goopio, o presidente da Delta Lambda Phi, uma fraternidade
predominantemente gay da Rutgers, disse que “a cultura era diferente há
alguns anos”. Desde a morte de Clementi, ele especulou, “muita gente que
pode ser homofóbica provavelmente não dirá, por causa das consequências
que elas veem que podem acontecer”.

Parte dessa mudança também pode refletir um espaço de tempo notável na
história da sexualidade americana. Há dois anos, o presidente Barack
Obama ainda não tinha endossado o casamento de mesmo sexo e o Estado de
Nova York ainda não o tinha legalizado (Nova Jersey ainda tem uniões
civis). A política “não pergunte, não diga” das forças armadas ainda não
tinha sido derrubada, e o Exército ainda não tinha promovido uma
general assumidamente lésbica.

E Dharun Ravi, o estudante que espiava Clementi, ainda não tinha sido
condenado por invasão de privacidade e intimidação preconceituosa,
apesar de sua pena de 30 dias de cadeia ter sido criticada por alguns
defensores de direitos dos gays como leniente demais.

Nesse breve espaço de tempo, ser um estudante universitário gay passou a
significar algo leve e crucialmente diferente do que quando Clementi
chegou ao campus.

“Eu sou de South Jersey, que é uma área bem homofóbica”, disse Andrew
Massaro, um calouro e membro da Delta Lambda Phi. “Mas quando cheguei
aqui, eu percebi que as boas novas estavam se espalhando, e espalhando
depressa.”

O resultado é uma universidade onde, segundo alguns estudantes, a
presença altamente visível de estudantes gays, lésbicas, bissexuais e
transgênero se tornou uma parte básica e comum da vida no campus.


 


Seu espaço

 

A Perspectivas Arco-Íris inclui não apenas estudantes que, por causa de
sua identidade sexual e de gênero, se sentem deslocados em um
dormitório tradicional. Ela também inclui estudantes heterossexuais que
gostam de companhia.

Assim, Jeff Thomas, um calouro, mora ali com sua namorada –o que seria
contra as regras em um dormitório tradicional, onde os estudantes só
podem dividir um quarto com outros do mesmo gênero legal. E Nick
Margolies, do segundo ano, mora lá com um colega de quarto do sexo
masculino, algo que também seria contra as regas pelo mesmo motivo. A
Delta Lambda Phi agora conta tanto com seu primeiro membro transgênero
quanto com seu primeiro membro hétero.



Leonard Haas, um membro da fraternidade, disse que já ouviu um insulto
na Rutgers enquanto andava pela rua de mãos dadas com outro homem. Mas
como Haas se sente tão à vontade como gay na Rutgers, e como aquele
comentário destoava demais da recepção calorosa que ele teve, ele a
ignorou.

“Eu estou feliz”, ele disse. “Eu estou em um lugar legal, então não importa.”



 

 

Tradutor: George El Khouri Andolfato

 

 


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