Padre mais popular da França confessa pecados

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Quinta, 27 de outubro de 2005, 12h56
Padre mais popular da França confessa pecados e apóia reformas
Tom Heneghan
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Uma das personalidades mais populares da França — um padre de 93 anos que defende os sem-teto — lançou um livro no qual apóia a ordenação de mulheres e homens casados e confessa ter violado o seu voto de castidade.
O abade Pierre passou tanto tempo liderando as listas de popularidade no país que no ano passado pediu para se tornar “hors concours”, a fim de dar espaço a outros. Em seu livro “Meu Deus… Por Quê?”, ele diz também que Jesus Cristo pode ter sido casado com Maria Madalena.
Suas opiniões liberais são um acinte às conclusões de um sínodo com mais de 250 bispos encerrado na semana passada, no Vaticano, com a sonora reafirmação do celibato clerical masculino.
O abade Pierre disse que seu voto de castidade não acabou com seu desejo sexual. “Sucumbi a isso em raras ocasiões, mas nunca tive uma relação mais longa, porque não deixei que o desejo sexual criasse raízes”, confessou, dizendo ter traído a si mesmo.
O lançamento do livro virou manchete na França e atraiu comentários conflitantes de analistas católicos.
“É lamentável que a mídia ressalte duas ou três questões em um livro que é um profundo testemunho de fé”, disse Marie-Caroline de Marliave, porta-voz da conferência episcopal francesa. “Sua fé é muito real, mas isso é um desserviço.”
“Personalidades como o abade Pierre e Madre Teresa dão credibilidade à Igreja”, comentou o reverendo Alain de la Morandais, figura assídua para temas religiosos na TV francesa. “E daí se ele teve algumas fraquezas da carne? Talvez seja isso em parte que deu tanta compaixão a ele.”
O abade Pierre disse conhecer bons padres que vivem maritalmente com mulheres com quem não são casados. “Estou convencido de que a Igreja precisa de padres casados e padres celibatários que possam se dedicar totalmente à oração e aos outros”, afirmou.
Além disso, escreveu que nem João Paulo 2. nem Bento 16 “apresentaram jamais um só argumento teológico decisivo mostrando que a ordenação de mulheres no clero seria contra a fé”.
A doutrina, segundo ele, “é mais sociológica que teológica”. “É muito provável, e eu diria desejável, que a Igreja evolua para esse ponto nas próximas décadas.”
Ele elogiou a união civil de homossexuais, mas criticou os direitos de adoção para os gays. Segundo ele, o papa Bento 16 surpreenderia os católicos se permitisse que homens casados mais velhos se tornassem padres e que divorciados que voltam a se casar possam comungar nas missas.
O casamento de Jesus com Maria Madalena — uma antiga teoria, trazida novamente à tona pelo sucesso do romance “O Código Da Vinci” — é algo possível, mas não provado, segundo o abade. “Não acho que isso faça qualquer diferença para o fundamento da fé cristã.”
O abade Pierre — “Abbé Pierre” para os franceses — colaborou com a Resistência Francesa contra o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial e começou a fazer campanha pelos sem-teto em 1949. Criou uma rede de albergues para miseráveis, chamada Emmaus, que atualmente tem filiais em 38 países.
Conhecido por sua longa barba branca, Pierre lidera as pesquisas de popularidade na França desde 1989, só perdendo ocasionalmente para o jogador Zinedine Zidane, o líder inconteste agora que o velho padre retirou seu nome.
Aos 93 anos, o abade ainda chega com sua cadeira de rodas sempre que há uma tragédia com os mais desprotegidos. Foi assim em agosto, quando um incêndio matou 17 imigrantes em um prédio de Paris.
Reuters