Lucas Mendes: Viva o Gay

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Me refiro ao Talese, Gay Talese, 74 anos e 50 de um casamento que resistiu a um livro sobre o comportamento sexual americano – Thy Neighbor\’s Wife ( 1980).

Gay Talese invadiu a intimidade de homens e mulheres, viveu num campo de nudistas e, para efeito de pesquisa, foi proprietário de dois salões de massagens que ofereciam muito mais do que finais felizes.

Filho de imigrantes italianos, pai alfaiate e mãe lojista, foi aluno medíocre mas desde criança ficou fascinado pelas histórias que as clientes contavam para a mãe quando vinham comprar vestidos. Aprendeu a escreve-las.

De repórter de jornaleco conseguiu entrar no New York Times onde passou dez anos e saiu para escrever longas reportagens e perfis na revista Esquire. Gay, um apaixonado por ficcionistas russos e americanos, nunca escreveu uma ficcão.

A paixão dele é pelas histórias reais. Da gente comum, Gay Talese consegue extrair o incomum e o extraordinário e, com o mesmo talento, revelas as medidas ordinárias e cotidianas dos ricos e poderosos.

Um perfil dele sobre Frank Sinatra, Frank Sinatra Has a Cold, em 1966, sem nunca entrevistar o cantor, é considerado um marco na história do Novo Jornalismo.

O escritor Tom Wolfe, a quem muitos atribuem a paternidade do Novo Jornalismo, diz que o verdadeiro pai é Gay Talese.

Talese recusa a paternidade e nunca conseguiu parir um livro em menos de nove meses.

Suas pesquisas sao lendárias. A do seu último livro, A Writer\’s Life,
consumiu cinco anos de pesquisa e mais cinco de redação.

Sofre na lapidação da palavra certa:- ‘sozinho, produzindo prosa o dia inteiro sou como um paciente passando pedras nos rins\”.

Mas esta coluna não é sobre o novo livro de perfis do Talese nem o próximo, onde vai dissecar o próprio casamento. É sobre o affair de mais de 50 anos de Gay Talese com Nova York.

Estamos entrando na órbita do 11 de setembro, hoje a mais marcante das datas da cidade, o mais tenso e sombrio dos aniversários.

Pelos seus personagens menores e marginais, nenhum escritor vivo tomou o pulso de Nova York com mais precisão do que Talese.

Os quase três mil mortos no 11 de setembro vão ser lembrados e seus nomes recitados em cerimônias públicas.

Numa das suas melhores reportagens, Talese escreveu sobre Potters Field onde duas vezes por semana uns 300 novaiorquinos pobres e solitários são enterrados em covas anônimas.

Gay Talese não tem nada de melancólico nem solitário. Há muitos anos, numa entrevista, ele me disse que seu maior prazer era a conversa com os amigos em volta da mesa de um restaurante e sua maior felicidade era viver em Nova York. Viva o Gay .

 

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