Keila Simpson se torna 1ª travesti Doutora Honoris Causa do Brasil: ‘Apenas o início’

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Título foi outorgado à presidente da ANTRA de maneira unânime pelo Conselho da UERJ. Keila também é a primeira pessoa trans a se tornar Doutora Honoris Causa em vida. A Marie Claire, conta que espera que outras travestis e pessoas trans também recebam a honraria. ‘Extremamente feliz’

Por Camila Cetrone

Keila Simpson, ativista LGBTQIA+ e presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), alcançou um feito histórico ao se tornar a primeira travesti Doutora Honoris Causa causa no país. Ela é a primeira pessoa trans a receber o título em vida, que foi aprovado por unanimidade no Conselho Universitário pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

A honraria é atribuída por universidades a personalidades que se destacaram devido a suas contribuições à cultura, educação ou humanidade. A notícia foi divulgada nos perfis das redes sociais da ANTRA nesta quinta-feira (15) após os conselheiros outorgarem o título à Keila.

“Que felicidade e satisfação foi para mim receber esse título pela minha atuação no Brasil com a população LGBTQIA+”, conta Keila a Marie Claire. “Acho que é um reflexo positivo em toda população trans, especialmente para as travestis, de dizer que essa atuação nos movimentos, a construção de políticas públicas de buscar sempre o melhor para uma população cada vez mais vulnerabilizada é um caminho certo”, complementa.

A ativista afirma que a ação para receber o título foi movida pela educadora Sara Wagner York e pela militar e ativista Bruna Benevides, em agosto deste ano. Documentações, artigos e publicações sobre a trajetória de ativismo de Keila foram apresentados e avaliados pela universidade, passando ainda pela reitora da UERJ, Catia Antonia da Silva, e, por fim, pela aprovação unânime do Conselho da instituição.

O psicólogo e escritor trans João Nery também recebeu o título em 2021. Ele se tornaria Doutor Honoris Causa em outubro de 2018, mas morreu quatro dias antes da cerimônia, aos 68 anos, em decorrência de um câncer. Portanto, Keila se tornou a primeira pessoa trans a receber a honraria em vida, o que tornou o feito ainda mais emblemático.

“Que bom que foi enquanto estou viva, lúcida e atuando para continuar experimentando a importância dessa outorga. Agradeço ao universo por iluminar e abrir a cabeça desses docentes que decidiram que uma travesti de 57 anos de idade, que só conseguiu estudar até o segundo ano do Ensino Médio, merecia receber esse título. Estou extremamente feliz, honrada, lisonjeada e agradecida”, celebra.

O reconhecimento não apenas valida sua atuação, mas a faz querer continuar em frente. Ao lado da ANTRA e de sua equipe, ela espera poder contribuir cada vez mais na luta para a criação de políticas públicas e de garantias da existência digna e plena de toda comunidade LGBTQIA+.

Apesar da honra de ser a primeira, ela diz que não quer ser a última e quer que a sua conquista abra portas para que outras pessoas trans, travestis e transmasculinas não só recebam o título, mas se percebam pertencentes de todos os espaços.

“Espero que esse seja apenas o início de uma longa trajetória e que tantas outras travestis como eu, que também têm esse notório saber e essa atuação honrosa dentro das ações que a gente desenvolve, também possam receber esse título; tanto lá no campus acadêmico, atuando, estudando e pesquisando diretamente, ou por esse outro caminhar que também é tão importante quanto esse da Academia em si”, finaliza Keila.

Quem é Keila Simpson

 

Travesti, negra e prostituta, Keila Simpson nasceu em Pedreiras, no interior do Maranhão, e é uma das ativistas LGBTQIA+ mais importantes do Brasil. Ela também é reconhecida por atuar na linha de frente no combate e prevenção ao HIV.

Em entrevista à Plataforma MROSC, Keila conta que entendeu sua “condição predisposta biologicamente” aos 14 anos de idade. Atuava como empregada doméstica em Teresina até os anos 1980, ano em que teve contato com a prostituição. Ao longo dos anos, morou também em Recife, em Pernambuco, e Salvador, na Bahia, onde ficou ainda mais imersa na comunidade trans.

Em 1991, ela conheceu Luiz Mott, o fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB), outra importante organização LGBTQIA+ do país. Foram os dossiês do GGB, feitos ao agrupar casos de mortes por LGBTfobia que saíam na mídia, que confirmaram que o Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo.

Começou a militar de fato em 1995, quando, no auge da pandemia do HIV e da Aids, criou a Associação de Travestis de Salvador. Criou a ANTRA três anos depois ao perceber a necessidade de se existir uma rede que representasse e falasse das demandas da população trans brasileira. A associação foi registrada como pessoa jurídica em 2002 e se trata até os dias de hoje de uma das mais importantes dentro do movimento.

Keila também foi vice-presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), primeira organização a representar a população LGBTQIA+ em solo nacional; e coordenou o Centro de Promoção e Defesa dos Direitos de LGBT (CPDD LGBT), que recebe denúncias de violações de direitos da população LGBTQIA+ na Bahia.

Ela também atuou em 2013 como presidente do Conselho Nacional de Combate à Discriminação de LGBT. No mesmo ano, ela recebeu o Prêmio Nacional de Direitos Humanos das mãos da então presidente Dilma Rousseff pelos serviços prestados à comunidade LGBTQIA+ no Brasil.

Em abril deste ano, Keila passou a integrar a Diretoria Executiva da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG) para representar a Bahia e o Sergipe.

Revista Marie Claire


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