Índios \"gays\" são vítimas de preconceito em Barra do Bugres

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Raoni Ricci
Redação 24HorasNews

No início do século XX, na região de Barra do Bugres (160 KM de Cuiabá), os índios Umutinas, um subgrupo Bororo, eram conhecidos como “barbados”, pois usavam barbas, na maioria das vezes postiças. Feitas com pelos de animais e cabelos das índias da tribo, as barbas fortaleciam a imagem do “macho”, da força indígena. Mas os tempos mudaram. Sem nenhum compromisso com os rituais dos seus ancestrais, os novos representantes Umutinas não fazem mais questão de usar as “barbas”, não querem mais passar Jenipapo na garganta para engrossar a voz e não se preocupam mais com a imagem do “homem”. Hoje, na “Barra”, como é carinhosamente chamada a cidade, a coisa mais comum é ver um índio homossexual. 
      
Isso mesmo. Em Barra do Bugres, os índios da antiga tribo “Barbados” estão se redescobrindo e assumindo uma opção sexual não muito normal entre os povos indígenas. Neste carnaval, com roupas justas, cabelos e unhas pintadas, bolsas a tira colo e sem medo de serem apontados, os índios gays saíram de suas aldeias e desfilaram nas ruas da cidade.
     
Alguns moradores parecem ter se acostumados com a situação, mas os mais antigos deixam a mostra o preconceito. “Já é uma vergonha homens que não honram as calças, agora temos até índios gays”, esbravejou um conhecido bugrensse. “Eu já estou acostumada, tem muito índio gay aqui em Barra do Bugres e eles são divertidos, não vejo problemas em conviver com isso”, afirma outra moradora da cidade, que com bom humor, ainda completa: “Tem muita mulher preocupada em perder o marido aqui”, disse entre risadas.
     
O preconceito dentro das aldeias é o que mais chama a atenção e preocupa. O Umutina M.C.Y, de 17 anos, conta que já foi agredido várias vezes por ser gay, até por irmãos. “Não posso andar sozinho na tribo, já me batem, gritam, xingam. Meu irmão até jogou pedra em mim”, revelou o jovem Umutina, que desde os 13 anos comunicou a família sobre sua opção. Para alguns especialistas, o preconceito com os índios gays pode gerar mais problemas sociais, como o alcoolismo, que já atinge grande parte das tribos em Mato Grosso.
     
A comunidade indígena gay da cidade do interior de Mato Grosso pode ser a primeira no estado, já que a Fundação Nacional do Índio não apresenta nenhum registro de homossexualismo entre os índios que vivem mato-grossenses. Mas segundo o antropólogo Darcy Ribeiro, há registros de homossexualidade entre índios desde ao menos o século 19. Em Mato Grosso, ele estudou os Cadiuéus, que chamavam o homossexual de kudina, que significa: “que decidiu ser mulher”. No estado do Amazonas, já foram detectados inúmeros casos de índios que assumiram a homossexualidade e hoje também sofrem preconceito dentro e fora das aldeias.
 
 

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