Gênero, sexualidade e racismo: escolas cada vez mais inseridas no debate e na desconstrução

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Por: Alice Albuquerque

O primeiro princípio fundamental do artigo 2º da Constituição Federal de 1988 do Brasil é a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, que deveria nortear a base da gestão dos estados e municípios. No entanto, a liberdade acaba sendo, por vezes, cessadas, como aconteceu com um professor da rede de Criciúma, em Santa Catarina. Após exibir o clipe “Éterea”, que tem uma temática LGBTQIA+, do rapper Criolo para alunos do 9º ano, com idade entre 14 e 15 anos, o prefeito Clésio Salvaro (PSDB) afirmou ser um conteúdo “inapropriado para os alunos da rede municipal” e demitiu o educador por “não permitir” e “não tolerar” a atitude.

A Pesquisa Nacional sobre estudantes LGBTQIA e o Ambiente Escolar realizada em 2015 (mais recente) mostrou que 73% dos jovens entre 12 e 21 anos identificados como LGBTQIA foram agredidos verbalmente nas escolas por conta da orientação sexual, sendo o maior índice entre os cinco países que participaram do estudo.

Seguindo o princípio da liberdade, autoconhecimento, aceitação e inclusão, a rede pública de ensino de Pernambuco trabalha com Grupos de Pesquisa de Prática Pedagógica de Gênero nas escolas distribuídas nas 16 Gerências de Educação do Estado. Como bem explicou a gestora de Educação Inclusiva e Direitos Humanos Vera Braga, equipes que trabalham com gênero e sexualidade se reúnem nas escolas e montam um grupo de pesquisa com os estudantes, que é liderado por dois professores. “O trabalho é com rodas de diálogos sobre gênero, enfrentamento à LGBTfobia, violência contra mulher, importância da identidade de gênero. Os grupos também têm parcerias com universidades, ONGs, que trabalham com gênero e sexualidade. Também temos o projeto Andanças, os estudantes fazem vídeos nos celulares com alguma atividade na direção de gênero e sexualidade para garantir os direitos de todos os estudantes serem respeitados a partir da identidade de gênero”. Braga falou que o trabalho também é feito com os docentes através de uma formação continuada, que acontece com encontros com palestras e debates – que passaram a ser feitos por plataformas digitais por conta da Covid-19 – sobre temáticas de gênero, sexualidade e racismo.

Professora de história do Ginásio Pernambucano (GP) e coordenadora do Núcleo de Estudos de Gênero da escola, Gabriela Borba, especificou que o grupo é um subprograma da Secretaria da Mulher em parceria com a Secretaria de Educação com o objetivo de reduzir a violência nas escolas, além de proporcionar um lugar seguro para discutir temáticas que ainda são consideradas tabus pela sociedade. “O projeto é autônomo de cada núcleo e atende as necessidades do público estudantil. No GP, os estudantes sentem necessidade de discutir temáticas atuais. Utilizamos twitter como fonte dos assuntos semanais ou algum que esteja em discussão na sociedade. Agora, estamos dialogando o marco das terras indígenas. Também utilizamos o texto base com linguagens simples, como a série de ‘Feminismos Plurais’, ou os da bell hooks, Ailton Krenak, Chimamanda Adichie, sem falar de Paulo Freire. Realizamos Tertúlias Dialógicas, método mais comum nos núcleos e o que mais gosto de trabalhar, porque os coloca para debater sem a minha intervenção”.

O Núcleo do Ginásio Pernambucano trabalha em parceria com o programa de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) da Universidade Católica de Pernambuco. Os bolsistas e voluntários, segundo Gabriela, desenvolvem projetos de ensino que abordam as metodologias inovadoras.

No GP, a disciplina é colocada como eletiva para os estudantes como uma maneira de aprofundar os temas com os mais interessados no assunto. “Sou professora de história e dependendo do ano letivo, também atuo como professora de sociologia. Abordo esses temas dentro do conteúdo das minhas aulas curriculares. Preciso salientar que não faço nada fora do permitido, o Governo do Estado me dá liberdade de cátedra e minhas aulas são todas embasadas nos Parâmetros Curriculares de Pernambuco e, no caso do vestibular, os descritores do Enem”, explicitou Gabriela.

De acordo com a coordenadora, o conservadorismo e resmungos de alguns alunos não a impede de passar o conteúdo. “Quando a situação não se resolve em sala de aula levamos até a coordenação, que faz a mediação com a família e estudante”. Das poucas vezes que precisou usar a mediação, Borba descreveu ter sido uma “quebra de gelo inicial”, e que mostrou que o diálogo é fundamental. “A mediação foi necessária por ele se recusar a dialogar no começo. Quando isso acontece prejudica a aprendizagem do estudante. Um educador precisa entender que mesmo que parar uma aula e ir com um estudante atrás de uma mediação não é perda de tempo e sim, ganho”.

Matéria completa Diário de Pernambuco


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