Gays são alvo de violência

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ARTHUR GUIMARÃES, arthur.guimaraes@grupoestado.com.br

 

Foi um chute só, mas a sola do coturno foi dura demais para o rim direito de Sérgio Pessoa, 29 anos. O cabeleireiro, homossexual assumido, teve que extrair o órgão espatifado em uma cirurgia na Santa Casa, em Santa Cecília, no último 31 de dezembro. Perdeu uma parte do corpo e seu amigo foi espancado pela intolerância de um grupo de oito rapazes, todos de preto, que os agrediram sem motivo e cvardemente, em um novo episódio envolvendo ataques contra gays na Praça da República, região central de São Paulo – em fevereiro de 2000, o adestrador de cães Edson Neris da Silva morreu em ação similar.

Apesar de grotesca, a história com os mesmos personagens – homossexuais e homens de preto, vestindo botas – está sendo contada de forma cada vez mais comum em São Paulo. Autoridades, freqüentadores e lideranças do segmento assumiram ao Jornal da Tarde que a situação vem se repetindo e está sem controle. A reportagem visitou por mais de um mês vários locais típicos da ocorrência do crime. Ouviu dezenas de relatos parecidos, felizmente nem todos tão trágicos, no Centro, Jardins e Vila Madalena.

O enredo mais bizarro se passa, sem dúvida, no quarteirão da Alameda Itu entre a Avenida Rebouças e Rua da Consolação, nos Jardins, Zona Sul. Preparado para os ataques de \’quase todo final de semana\’, o Bar do Bocage, ponto de encontro de gays e lésbicas que chega a reunir mais de mil pessoas na porta, criou um sistema de segurança contra os grupos de intolerância. \’A gente já reconhece de longe. Até a polícia sabe. Quando eles estão chegando, descemos a porta de ferro. Todo mundo corre para dentro. Desses, eu cuido. Mas o resto fica na rua\’, explica Alcides Andrade, 62 anos, proprietário do estabelecimento há 15.

Testemunha ocular de um problema que acontece \’sempre\’, como diz, o comerciante crava sua opinião sobre o quadro atual. \’Tá largado. Tá havendo um descaso por parte das autoridades. Deveriam policiar mais, ajudar mais. No final de 2006 piorou muito\’, conta Alcides. \’Chamo os policiais. Eles aparecem. Mas é sempre tarde.\’

No fim de semana passado, aliás, o proprietário do Bocage disse ter evitado uma tragédia. \’Vi os rapazes com uma garrafa de vidro quebrada na mão, vindo para cima, do outro lado da rua. A gente gritou que iria chamar a polícia, então eles foram embora\’, lembra. Alcides também reclama da falta de responsabilidade de seus clientes. \’Eles ficam se beijando como se fosse o último dia do mundo. E ninguém presta atenção se está chegando alguém. Sobra para a gente\’, diz.

PARA LEMBRAR

O adestrador Édson Neris da Silva, de 35 anos, foi atacado e morto por um grupo de skinheads na noite de 7 de fevereiro de 2000, enquanto passeava com um amigo pela Praça da República, região conhecida como ponto de encontro de homossexuais.

Silva foi espancado até a morte por um grupo de 25 pessoas, entre elas sete menores e duas mulheres.

Mesmo caído, Edson continuou a ser surrado, a golpes de coturno e de soco inglês. O grupo foi preso.

 
Cabeleireiro perdeu o rim, após ser agredido por grupo de rapazes de preto na região da Praça da República


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