Por Artur Rodrigues
Pelo terceiro ano consecutivo, o ex-jogador da NFL Esera Tuaolo organiza a Super Bowl Inclusion Party, uma festa que acontece na cidade sede do Super Bowl, neste ano em Miami, para atrair fãs da liga que pertencem à comunidade LGBT. O evento, que acontece nesta quarta-feira (29), é feito pela Hate Is Wrong, uma organização sem fins lucrativos que é presidida pelo ex-atleta.
“O objetivo da festa é quebrar os estereótipos esportivos que envolvem as pessoas da comunidade LGBT. Queremos aproximar essas pessoas das comunidades esportivas”, falou Tuaolo.
O futebol americano é um esporte historicamente dominado pelo conservadorismo. As mulheres até têm conseguido conquistar um pouco de espaço na NFL nos últimos anos, mas o caminho para os homossexuais e bissexuais ainda apresenta inúmeras barreiras. A liga completou 100 anos na temporada 2019/20 e até agora apenas 12 ex-jogadores assumiram suas homossexualidades, David Kopay, Jerry Smith, Roy Simmons, Ray McDonald, Esera Tuaolo, Kwame Harris, Ryan O’Callaghan, Wade Davis, Dorien Bryant, Brad Thorson, Michael Sam e Jeff Rohrer. Todos esses atletas se abriram após suas respectivas aposentadorias. Ou seja, em um século de existência, nunca se viu alguém abertamente gay jogar na NFL.
Esera Tuaolo, 51 anos, é um exemplo de quem não conseguiu expor sua sexualidade enquanto jogador profissional, muito por conta do clima hostil que o esporte oferece para membros da comunidade LGBT. Ele chegou na NFL em 1991, quando foi escolhido pelo Green Bay Packers na segunda rodada do draft daquele ano. Jogou na liga por nove temporadas e defendeu a camisa de cinco times. Além dos Packers, passou por Minnesota Vikings, Jacksonville Jaguars, Atlanta Falcons, equipe com a qual disputou o Super Bowl contra o Denver Broncos, e Carolina Panthers. Se aposentou em 2000 e se abriu sobre sua homossexualidade apenas dois anos mais tarde.
“Quando se pensa em futebol americano, tende-se a pensar em todos os estereótipos existentes sobre a masculinidade, um homem musculoso, alto, forte e agressivo. E quando as pessoas pensam em alguém gay, tendem a pensar em alguém frágil, fraco, que não pratica esporte, que tem medo de se sujar e é apaixonado por moda e maquiagem. É por isso que os atletas LGBTs se calam sobre sua sexualidade”, disse.
Em 2017, ele fundou a Hate Is Wrong e desde 2018 tem promovido a Super Bowl Inclusion Party para espalhar a diversidade no mundo do futebol americano. “Nossa organização acredita firmemente que a única maneira de lidar com a falta de inclusão é batendo de frente. A Festa da Inclusão é o único evento que leva a comunidade LGBT para o maior jogo dos esportes nos Estados Unidos, o Super Bowl”, falou o ex-jogador.
Algumas equipes abraçaram a causa desde o início, como o Atlanta Falcons, Green Bay Packers e o Minnesota Vikings. Treinadores e jogadores de diversos times da NFL também marcaram presença nas duas primeiras edições do evento, como Bill Cowher, ex-técnico dos Steelers, Scott Pioli, ex-GM dos Chiefs, e Robert Smith, ex-running back dos Vikings. Porém, Tuaolo questiona o motivo de algumas empresas se recusarem a patrocinar a festa e fala sobre o sonho de ver times da NFL e a própria liga divulgando-a. “Ainda parece haver um medo de apoiar um evento em prol da comunidade LGBT. Esperamos chegar ao momento em que, todos os anos, a equipe da NFL cuja cidade ou estado está sediando o Super Bowl, patrocine a Inclusion Party para mostrar seu compromisso com a inclusão na liga. Para que assim, com o tempo, a festa traga todas as franquias da NFL e seus torcedores”, concluiu.
A edição de 2020 contará com as participações dos DJs Lady Bunny, Tracy Young e Alex Ramos e terá Green Bay Packers e Minnesota Vikings como apoiadores. O dinheiro arrecadado com o evento será doado para instituições de diversidade e organizações anti-bullying da cidade anfitriã.