EUA: Texas promove ‘rodeio gay’ em meio a leis que tentam limitar direitos LGBTQIA+

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Evento misturas disputas em modalidades tradicionais com competições não convencionais, envolvendo vestidos e perucas

Por AFP — Denton, EUA

No estado americano do Texas, durante o tradicional rodeio em Denton, John Beck galopa com seu cavalo Diamond pela arena, deixando uma nuvem de poeira como rastro. Ele é um dos cerca de 50 cowboys que competem em modalidades clássicas do evento, como a montaria em touro e o laço de bezerro. Mas, no show do fim de semana passado, competidores também participaram de desafios não convencionais, como “Wild Drag Racing”, espécie de corrida de bois que dá lugares a vestidos brilhantes e perucas extravagantes. Este é o chamado “rodeio gay”.

Mesmo enquanto o estado avalia retirar uma série de leis de proteção para cidadãos LGBTQIA+, o grupo de cowboys gays, lésbicas e transgêneros orgulhosamente se juntaram a uma das tradições mais famosas do Texas, realizada nos dias 15 e 16 deste mês. Beck, que diz saber que era gay desde criança, nem sempre foi capaz de se abrir ao mundo do rodeio como um cowboy profissional.

— Eu tinha que me esconder. Para cada pequena coisa que eu fazia, eu tinha que me esconder — relembra o homem de 73 anos, vestindo jeans, botas e chapéu de cowboy adornado com uma enorme pena azul.

Responsável pelo show, a Associação Gay de Rodeio do Texas (TGRA, na sigla em inglês), organiza esses eventos há 30 anos, mesmo enquanto a legislatura estadual em Austin, capital do estado, debate dezenas de projetos de lei — 140 ao todo, de acordo com a ONG Equality Texas — que buscam limitar os direitos das pessoas LGBTQIA+, tendência observada em estados conservadores em todo o país.

Apesar da ameaça iminente, a pequena multidão nas arquibancadas de metal em Denton, perto de Dallas, está entusiasmada. Eles riem e comemoram mesmo quando as drag queens caem de seus precários poleiros nas costas dos touros. Alí, ao contrário do mundo real lá fora, o perigo faz parte da diversão.

‘Viver meu sonho’

A TGRA foi foi fundada há 40 anos para arrecadar dinheiro para apoiar pessoas que vivem com HIV, quando ainda não existia assistência governamental para os afetados pela doença no sul do estado. O grupo depende de doações para dar vida à sua versão de rodeio, de acordo com Jim Gadient, membro da associação, para pessoas que amam o estilo de vida “ocidental”, mas podem não se sentir em casa na cultura tradicional texana.

O espaço para ser diferente é mais relevante do que nunca para muitos dos participantes, já que os legisladores debatem projetos de lei que restringiriam a discussão sobre identidade de gênero nas escolas, limitariam ou proibiriam shows de drag queens, livros e tratamento hormonal para menores de idade transgêneros.

O competidor amador de “Wild Drag Race”, o paramédico Sean Moroz afirmou que seus amigos e familiares foram “muito receptivos” quando ele se assumiu gay. Ele lembra queria se envolver no que considerava o mundo “hipermasculino” dos cowboys desde criança. — Ter um rodeio gay tornou tudo um pouco mais fácil e confortável para mim. Eu tenho que fazer parte disso é meio que viver meu sonho — avalia.

O vice-governador do Texas, Dan Patrick, um aliado político do ex-presidente americano Donald Trump, criticou os esforços para “sexualizar e doutrinar as crianças do Texas” com eventos como este. Mas para Delilah DeVasquez, de 50 anos, que se juntou a outras drag queens dançando entre mesas cheias de participantes adultos para arrecadar dinheiro para caridade, essas preocupações são irrelevantes no rodeio.

— Conhecemos nosso público. Portanto, se estamos entretendo crianças, obviamente vamos entreter adequadamente, em vez de entreter adultos — explicou ela. — São duas coisas diferentes. Não é “perigoso”. São pessoas usando um vestido e se divertindo — disse Moroz, por sua vez.

Alguns participantes do rodeio disseram que o governo do Texas deveria se concentrar em questões como violência armada ou direitos de voto, em vez de visar a comunidade LGBTQIA+. — É importante que esses direitos não sejam revogados — opinou o vaqueiro Charlie Colella, 63, enquanto alimentava seu cavalo. — Demorou muito para chegar aqui — ponderou.

O Globo


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