Empresas oferecem apoio para funcionários trans durante a transição

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Companhias como Accenture, Grupo Boticário e BD contam com equipes multidisciplinares de saúde para dar apoio aos colaboradores transgêneros.

“Oportunidades salvam vidas.” Essa é a frase que Rafael Rocha usa para explicar sua jornada dentro da BD, multinacional de tecnologia médica que é uma das principais fornecedoras de seringas para os programas de vacinação do país. Ele entrou na companhia em 2019, como um jovem aprendiz; logo virou estagiário e foi efetivado como analista de qualidade. Mais do que uma simples oportunidade de emprego, a vaga na BD representou uma mudança de vida: foi graças ao apoio da companhia que ele pôde iniciar sua transição de gênero.

Antes de entrar na empresa, ele já tinha se assumido como um homem trans e usava o nome social, mas não havia feito ainda nenhum tratamento hormonal ou cirurgia, pela falta de oportunidades. “Nunca tinha conseguido trabalhar formalmente”, conta. “Participar do processo seletivo e ser aprovado já foi uma grande vitória.”

Rafael Rocha, analista de qualidade da BD (Foto: Divulgação/BD)
Rafael Rocha, analista de qualidade da BD (Foto: Divulgação/BD)

Realizar a transição sempre foi um propósito distante para Rafael. Quando entrou na BD, descobriu que o convênio oferecido cobria despesas hospitalares e uma porcentagem do valor de cirurgias como a mastectomia. Conversou com seu chefe e concluiu a transição ainda como jovem aprendiz. “O apoio financeiro e emocional da empresa e da equipe foi fundamental para todo o processo.”

Na BD, a pauta de inclusão e diversidade é trabalhada como tema estratégico há 5 anos, e conta com um comitê específico. “Queremos trazê-la para a vida real, conscientizar os times e não ficar só no discurso”, diz Stella Fornazari, diretora de RH da companhia no Brasil. “Trabalhando junto com o comitê, mapeamos os passos seguintes e elaboramos um plano de ação para incluir as cirurgias de redesignação no convênio.”

Stella Fornazari, diretora de RH da BD no Brasil (Foto: Divulgação/BD)
Stella Fornazari, diretora de RH da BD no Brasil (Foto: Divulgação/BD)

Segundo a diretora, a implementação dessa política só foi possível após a escuta à comunidade trans em diversos níveis hierárquicos. Stella conta que a BD também se conecta com outras organizações para aprender as melhores práticas. “Não temos uma fórmula mágica, é uma evolução constante.”

Uma empresa que passou pelo mesmo processo de escuta dos colaboradores foi a Accenture. “Trabalhamos com diversidade há bastante tempo”, afirma Beatriz Sairafi, diretora de RH da multinacional no Brasil. “Iniciamos um movimento importante com a comunidade trans em 2018, a partir do caso de uma transgênero que quis fazer a transição. Ela não tinha apoio dentro de casa e buscou ajuda no trabalho. Foi um aprendizado para ela e para nós.”

Beatriz Sairafi, diretora de RH da Accenture no Brasil (Foto: Divulgação/Accenture)
Beatriz Sairafi, diretora de RH da Accenture no Brasil (Foto: Divulgação/Accenture)

A diretora relata que, inicialmente, a Accenture deu apoio com uma equipe multidisciplinar, formada por psicólogo, psiquiatra, endocrinologista e neurocirurgião. Em 2020, a companhia percebeu que a cirurgia era uma questão importante e negociou a inclusão com a operadora do plano de saúde. Outro esforço foi o de preparar as equipes para receber a colaboradora de volta, após a operação.

“O que mais me chamou atenção na época foi a realização de um workshop para conscientizar o time sobre como funciona a transição de gênero, para evitar qualquer tipo de constrangimento”, conta Fernanda Mayr Ferreira, consultora de negócios em TI da Accenture Brasil. “Se não fosse por campanhas como essa, o processo seria muito mais difícil, ou até impossível, por já envolver muita incerteza e receio.”

Emília Ferraz, diretora de Talentos, Conhecimento e Cultura do Grupo Boticário (Foto: Divulgação/Túlio Vidal/GB)
Emília Ferraz, diretora de Talentos, Conhecimento e Cultura do Grupo Boticário (Foto: Divulgação/Túlio Vidal/GB)

No caso do Grupo Boticário, que criou no ano passado uma plataforma com psicólogos para pessoas trans, a estrutura interna foi importante para acolher os profissionais. “O primeiro ponto é ter uma cultura organizacional confortável para o colaborador se abrir”, diz Emília Ferraz, diretora de Talentos, Conhecimento e Cultura do grupo.

“Isso significa gerir seus indicadores psicológicos, de engajamento e transparência”, completa Emília. A longo prazo, a expectativa é gerar um impacto em cadeia. “Se essas medidas frutificarem, vamos ter mais pessoas trans ocupando cargos de liderança”, acrescenta.

Liz Camargo, gerente de Educação, Comunicação, Viagens e Log de Treinamento do Grupo Boticário, durante convenção da empresa (Foto: Divulgação/Grupo Boticário)
Liz Camargo, gerente de Educação, Comunicação, Viagens e Log de Treinamento do Grupo Boticário, durante convenção da empresa (Foto: Divulgação/Grupo Boticário)

No Brasil, a população trans é exposta a um alto grau de violência. Apenas em 2021, foram registrados 140 assassinatos de pessoas trans no Brasil, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Ao fornecer apoio à comunidade, as empresas não apenas ajudam seus funcionários, mas também contribuem para mudar a sociedade.

“Ser aceita sempre foi a minha maior preocupação”, conta Liz Camargo, gerente de Educação, Comunicação, Viagens e Log de Treinamento do Grupo Boticário. “Ter esse apoio me deu muita força para tomar a decisão de fazer a transição.”

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