Empresas baianas começam a descobrir turismo GLS

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Clarissa Borges

O setor turístico baiano começa a abrir os olhos para um segmento promissor e até pouco tempo esquecido por essas bandas: o turismo especializado no público GLS. Segundo especialistas, homossexuais e bissexuais estão ávidos por diversão, gostam de viajar e gastam cerca de 30% mais do que os heterossexuais por terem menos despesas familiares.

No rastro de lançamentos específicos para o chamado pink-money (dinheiro rosa), como seguros de vida e condomínios residenciais, as agências de turismo oferecem além dos pacotes especiais, cruzeiros, fornecedores sintonizados com o mundo gay, como hotéis exclusivos e guias homossexuais. A segmentação possibilita o atendimento personalizado, aposta dessas empresas para garantir a fidelidade da clientela.

Para auxiliar os proprietário de agências que querem inserir o público GLS em sua clientela, a seccional baiana da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abrav) deve oferecer em novembro um curso dirigido para o setor. Segundo o presidente do órgão, Pedro Manuel da Costa, o turismo GLS encontra-se em franca expansão. “É um turismo de qualidade e ao mesmo tempo de quantidade”, garante.

De olho no potencial de Salvador – como uma das cidades brasileiras mais visitadas por estrangeiros – o Grupo Gay da Bahia pretende apresentar à Bahiatursa, em 2007, um projeto de incentivo ao turismo GLS. O presidente Marcelo Cerqueira diz que o objetivo é incentivar a divulgação em publicações e feiras especializadas espalhadas pelo mundo.

\”Vamos buscar também apoio para convidar grupos de jornalistas e formadores de opinião especializados para vir à Bahia”, explica. A idéia é vender para este segmento eventos importantes, como o carnaval e festas tradicionais.

Para Nilton Paiva, sócio-proprietário da Inter-Rainbow, uma das mais antigas agências especializadas em turismo GLS do Brasil, que atua há 13 anos em São Paulo, o grande diferencial que tem a oferecer é pessoal treinado para atender ao público alvo. Os preços cobrados pelos pacotes são equivalentes aos praticados por agências tradicionais.

“O turista gay vai encontrar o que quer. Se quiser uma viagem tradicional, vai ter, mas com atendimento voltado para ele”, explica. Segundo o empresário, as dificuldades com o preconceito sofridas no início do negócio já abrem espaço para um bom rendimento. O público GLS já corresponde a 55% do público da agência de turismo tradicional da qual a Inter- Rainbow faz parte.

Suporte – Foi viajando e conhecendo hotéis e agências de turismo especializadas no segmento GLS que o orientador e agente de viagens baiano Fernando Bingre detectou um campo de trabalho carente de oferta e com demanda de sobra. “Sendo gay e viajando, eu percebi que aqui em Salvador não tinha alguém que desse suporte a esse segmento”, conta.

O suporte a que se refere pode evitar que homossexuais passem por situações constrangedoras como a que viveu o professor de judô Antônio Marcos*. “Viajei a passeio a Recife e no hotel fui discriminado porque levei um companheiro para o hotel”. Ele conta que o recepcionista ligou para o gerente antes de liberar sua ida ao quarto. “Acredito que se tivesse comprado um pacote em uma agência GLS não teria tido esse problema”, opina.

O principal objetivo das agências especializadas é deixar o público GLS mais à vontade e munido de informações valiosas, como onde encontrar locais e serviços com qualidade e segurança. Segundo Bingre, as reclamações partem inclusive dos próprios clientes. “Às vezes eles passam quatro, cinco dias perdidos e aí me procuram”, revela.

Um dos primeiros clientes de Fernando, o americano William, diz que procurou seus serviços em busca de tratamento personalizado. Bingre acredita tratar-se de uma marca do turista gay. “Eles buscam exclusividade e não se importam em pagar um pouco mais por um bom atendimento”, completa.

William, que preferiu não revelar o sobrenome, conta que já se hospedou em hotéis exclusivos do público GLS na África e no Caribe, em busca de liberdade para agir como quiser e não ser importunado. A garantia de levar um companheiro ao quarto de hotel sem receber olhares surpresos ou reprovadores ou paquerar à vontade no bar valem o investimento no serviço especializado.

Aos clientes – que encontram seus serviços em uma página na internet ou em anúncios em publicações especializadas no exterior – Bingre oferece um passeio que inclui o acompanhamento por 4 ou 8 horas. “Geralmente exploro a parte histórica e cultural da cidade, junto com a parte GLS”, explica. Ele cobra US$ 50 pelo tour de meio turno e US$ 75 pelo turno inteiro por pessoa. “Os principais lugares que visitamos são Barra, Centro Histórico, Cidade Baixa e bares e boates GLS”, diz. Grande parte de seus clientes são afroamericanos interessados, além do convívio em ambientes GLS, na cultura africana latente na Bahia.

Instruções sobre locais seguros para paquerar ou até contratar garotos de programa também fazem parte do serviço. “Atrás do Farol da Barra, por exemplo, é um lugar conhecido de encontro, mas é perigoso, então eu indico algumas boas saunas da cidade”, explica. Ele garante que o público oferece boas condições de trabalho. “É um segmento muito bom de se trabalhar, porque é gente que quer conhecer”, opina.

O condutor acredita, entretanto, que uma das principais dificuldades enfrentadas pelo turista gay não é específica do segmento. “O turista sente falta de alguém que fale seu idioma, o que ainda é difícil em Salvador”,garante o condutor, que trabalha como professor de inglês na baixa estação.
Em Salvador, uma das poucas agências que dispõem de serviços especializado é a Lunatour. Em busca do segmento em crescimento, o proprietário José Paulo Caldas prepara seu negócio para a ampliação da oferta de produtos específicos. Um pacote especial para, por exemplo, oferece ao público GLS um “reveillon gay” em uma pousada exclusiva em Porto Seguro.

Para Caldas, o que o público gay procura não é muito diferente daquilo que busca todo turista. “O público GLS quer conforto, qualidade, segurança e privacidade”, resume. Ele explica que o segmento exige acima de tudo boa formação dos funcionários. Em sua agência, designou um empregado para tratar exclusivamente do público GLS e pretende criar um departamento especial.

O empresário revela que a idéia de oferecer o serviço veio depois de conhecer, no ano passado, a Associação Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes (Abrat GLS). Segundo ele, turistas estrangeiros que queriam visitar a Bahia faziam todos os contatos em agências especializadas de São Paulo. A Abrat GLS nasceu com o objetivo de fortalecer o segmento.

Preferências A idéia de ter empresas voltadas para o público GLS agrada até mesmo àqueles que não usam e não sentem necessidade do serviço. “Eu nunca usei esse tipo de agência e não é o meu caso porque não faço turismo interessado nos ambientes gays”, revela o jornalista Eugênio Afonso. Entretanto, ele apóia o surgimento de agências GLS na Bahia.

“Acho esses pacotes de turismo gay super interessantes, o gay tem que ter o direito de escolha. Se ele quiser fazer uma viagem para um ambiente gay, tem todo direito”, opina. Para o jornalista, a separação dos homossexuais em guetos é resultado da falta de opção. Em locais públicos, por exemplo, um casal homossexual não tem a mesma privacidade que um casal hetero. “Por isso, os gays procuram lugares onde possam ficar mais à vontade”, diz.

Na rota do turismo que interessa ao público GLS, Rio de Janeiro e São Paulo são cidades privilegiadas. Além da fama internacional das metrópoles devido às belas praias e intensa vida cultural, respectivamente, as duas têm a oferecer serviços especializados de empresas já consolidadas.

Para Eduardo Lima, um dos propr
ietários da Rio G, agência de viagens direcionada ao público GLS aberta em 2005, o mercado vai de vento em popa. “Uma boa mostra é que estamos em Ipanema, uma das áreas mais caras do Rio, de frente para o mar”, ressalta.

Depois de trabalhar em uma agência tradicional que tinha um departamento de turismo GLS, e perceber o mercado aberto para o segmento, Lima resolveu investir e não se arrepende. A Rio G atende, por mês, cerca de 100 clientes. Destes, cerca de 80% são homens. “As mulheres homossexuais buscam passeios mais simples, já os homens querem mais badalação”, compara.

O número se refere apenas a pacotes, porque, segundo o empresário, a procura por passagens e hospedagens avulsas também é grande. Eduardo Lima elege o atendimento como o grande carro-chefe do negócio. “Para começar, nossos guias são gays”, revela. Segundo ele, o detalhe faz com que o turista esteja à vontade desde o começo do passeio. Um guia hetero pode saber onde estão os lugares, mas não saberá os detalhes, quais são os melhores lugares por exemplo”.

Mas o negócio exige outros diferenciais de quem pretende investir na segmentação, além da preparação dos funcionários. “É preciso sempre buscar destinos novos”, conta, referindo-se à dificuldade de encontrar points gays fora do eixo Rio-São Paulo para montar pacotes.

“Os bares e estabelecimentos GLS abrem e fecham muito rápido, então precisamos estar sempre buscando”, explica o empresário, que inclui nos pacotes um city tour gay. Segundo Lima, a maioria dos turistas que procuram a Rio G são americanos.
No Brasil, os destinos mais procurados fora de Rio e São Paulo não fogem ao tradicional: Florianópolis, Recife, Fortaleza e Salvador estão na dianteira.

* Nome fictício a pedido do entrevistado

Serviço
Veja onde encontrar informações turísticas específicas para o público GLS
Associação Brasileira de Turismo para Gays Lésbicas e Simpatizantes – (Abrat GLS) – www.abratgls.com.br
Guia Gay Brasil – www.guiagaybrasil.com.br
International Gay and Lesbian Travel Association – www.iglta.org
Balada GLS – www.baladagls.kit.net
UK Gay Hotel and Travel guide – www.gaytravel.co.uk
Agências de viagem que oferecem serviço especailizado
G Brasil – Rio de Janeiro (21) 3813 0003
Inter Rainbow – (11) 3214 0044
Lunatour – Salvador (71) 3271 0188

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