Diretor Rosa von Praunheim ganha retrospectiva no Brasil

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Precursor do movimento gay, Von Praunheim é um dos mais
polêmicos e prolíferos diretores do cinema alemão. Em comemoração aos
seus 70 anos, ele realiza um grandioso projeto e ganha extensa
retrospectiva no Brasil.

 


Política e humor são duas das principais características que permeiam a
longa e extensa filmografia do diretor alemão Rosa von Praunheim. Em
comemoração aos seus septuagésimo aniversário, o polêmico cineasta ganha
extensa retrospectiva em São Paulo e no Rio de Janeiro. "Imagens
engajadas – uma homenagem a Rosa von Praunheim" mostra as várias facetas
de um artista que transita facilmente entre o documentário e a ficção.

 


Nascido Holger Mischwitzky em 1942 na prisão central de Riga, durante a
ocupação nazista na Letônia, ele foi adotado e passou seus primeiros
anos na Alemanha Oriental, fugindo para o lado ocidental em 1953. Na
metade da década de 1960, passou a usar o nome artístico Rosa von
Praunheim. Rosa é uma referência à cor do triângulo que os homossexuais
eram obrigados a usar nos campos de concentração. Praunheim é um bairro
em Frankfurt, cidade onde viveu.

 


Em seus filmes, o diretor promove a diversidade social, retrata
mulheres fortes e apresenta diversas formas do homossexualismo. O
polêmico Não é o homossexual que é perverso, mas a situação em que ele vive (1971) deu início ao movimento gay na Alemanha Ocidental. Sua produção mais cara, O Einstein do sexo, conta a história de Magnus Hirschfeld, que no século 19 abordou o tema sexualidade de maneira revolucionária e científica.

 


Ativista fervoroso, Rosa foi um dos primeiros cineastas a se engajar na
luta contra a Aids, dedicando vários filmes ao tema, o que o levou a
atos polêmicos e controversos. Em conversa com a DW Brasil, o cineasta
falou sobre seu método de trabalho, cinema político e um ambicioso
projeto em comemoração aos seus 70 anos.

 

 

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Diretor foi um dos pioneiros do ativismo gay

DW Brasil: Você produz diversos filmes por ano…

Rosa von Praunheim: Nem sempre. Produzo um ou dois por
ano. Faço filmes de baixo orçamento. Quando você trabalha com mais
dinheiro, o controle é maior e você precisa de mais tempo.

 

É mais fácil fazer cinema hoje?

 


Com certeza. Comecei a trabalhar com 16mm nos anos 1960. Costumava ter
só uma cópia dos meus filmes porque era muito caro fazer outra. Hoje é
tudo digital.

 

Quando começou seu interesse por cinema?


Eu queria escrever e pintar, considerava o cinema uma arte menor. Com
25 anos andava com um grupo de artistas e excêntricos e costumávamos
fazer sessões de fotos. Em 1967 alguém roubou algumas latas de filme
16mm e eu fiz meu primeiro curta. Vendi o filme para a televisão e fiz
meu segundo filme, uma paródia dos filmes da esquerda. Meu terceiro
filme, já em 1969, tinha temática gay, pois a lei havia sido banida
naquele ano.

 

A lei que descriminalizava o homossexualismo?


Sim, nos anos 1950 e 1960 o número de homossexuais presos foi duas
vezes maior do que no período nazista. Eu ficava muito bravo, pois as
pessoas não lutavam pelos seus direitos. Sentia-me muito sozinho, não
encontrava ninguém para lutar contra essa situação de repressão.

 

Você costuma rever seus filmes?


Não tenho interesse pelos meus filmes. Gosto de realizá-los. No momento
estou trabalhando numa história de amor entre Jesus e Hitler. Adoro o
processo da pesquisa e também de improvisar com atores. Divirto-me
muito, mas, quando acaba, passo para o próximo projeto.

 

 

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Praunheim foi atrás de suas raizes no filme "Duas mães"

 

Há uma diferença de processo entre fazer um documentário e uma ficção?


Desenvolvi uma maneira de fazer ficção de uma maneira muito simples.
Convido as pessoas para o meu apartamento e fazemos um filme. É assim
que desenvolvo minhas histórias. Nunca tenho uma ideia do que eu quero
fazer antes de começar, mas geralmente eu já conheço os atores. Não
gosto de roteiros.

 

O que mais te interessa ao mostrar a vida de pessoas reais?


A história de alguém não pode ser inventada. Acho fascinante o processo
de pesquisar, fazer entrevistas, ler livros. Não gosto muito de
inventar, prefiro descobrir.

 

Seus filmes são políticos, mas cheios de humor. Como é equilibrar esses dois elementos?


O humor sempre ajuda. Meu primeiro grande filme de temática gay, Não é o homossexual que é perverso, mas a situação em que ele vive (1971),
foi um grande escândalo, pois usei o humor para atacar os gays por sua
passividade, que eu entendia como masoquismo. Queria criticar a maneira
como eles se escondiam e só se interessavam por sexo e glamour. Fui
muito atacado pela maioria da comunidade gay, mas com uma pequena
parcela de direita formamos o primeiro grupo gay de Berlim Ocidental.
Outros 50 grupos foram formados, em diferentes cidades, por causa do
filme.

 

A comunidade gay hoje é pouco politizada?


Não só os gays, mas os heterossexuais também. Vivemos num país rico. Se
você é mal acostumado, não tem interesse em lutar. É muito fácil ser
gay aqui, mas a situação no Leste Europeu, na China e em outros lugares é
difícil. Ainda temos muito pelo que lutar. É muito importante ter
orgulho de ser gay e ser aberto às diferenças. Se falássemos de nossa
vida como os heterossexuais falam das deles, as pessoas seriam mais
familiarizadas com nosso estilo de vida.

 

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Cena do filme "New York Memories"

 

O cinema gay perdeu a importância que tinha no passado?


Gays não assistem a filmes gays, eles basicamente assistem a
pornografia. Geralmente esses filmes não têm sucesso comercial e são
exibidos apenas no circuito de festivais. Como artista, acredito que
existe uma estética gay que é muito interessante.

 

Há algum cineasta gay que você admire?


Um ex-aluno meu, Axel Ranisch, fez um filme muito interessante chamado Dicke Mädchen, que deve estrear em novembro. Gosto muito também de Shortbus, do John Cameron Mitchell, e Tarnation, do Jonathan Caouette.

 

Você já teve problemas sérios por fazer filmes ou ser tão provocativo?


Tive mais dificuldades com gays poderosos da mídia do que com
conservadores. Quem não é assumido tem medo da associação e geralmente
tem ideias muito estranhas do que é ser gay. O que é muito triste.

 


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Rosa von Praunheim comemora 70 anos com 70 filmes

 


O seu trabalho é sempre tão pessoal?


Como artista é importante olhar para a própria vida e experiências e
colocar isso em seu trabalho. Eu já fiz três autobiografias e descobri
muitas coisas sobre meu passado no filme Duas mães, no qual fui atrás da minha mãe biológica, que até o ano de 2000 eu não sabia que existia.

 

Como é comemorar sue aniversário de 70 anos realizando 70 filmes?


Algo incrível. Estou terminando a pós-produção desses pequenos filmes
que são retratos de diversas pessoas e diversas fases da minha carreira.
São 70 filmes entre 10 e 40 minutos que realizei nos últimos dois anos e
que totalizam mais de 20 horas. Entre os filmes há animações com
desenhos que eu fiz. Eles serão exibidos na íntegra no festival da
cidade de Hof, no dia 23 de outubro. Em novembro, doze horas desses
filmes serão exibidos no canal de televisão RBB, e vou lançar um livro
com 70 poemas e 70 desenhos meus.

 

Quais são seus próximos projetos?


Tenho sempre vários projetos. Não faço muito dinheiro com os meus
filme, então tenho que continuar filmando para sobreviver. Mas acho isso
bom. Se você tem muita segurança, acaba sendo pouco produtivo.

"Imagens Engajadas – Uma Homenagem a Rosa Von Praunheim" está em
cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo até 7 de outubro e
no Rio de Janiro de 23 de outubro a 4 de novembro.

 


Autor: Marco Sanchez
Revisão: Alexandre Schossler

DW

 


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