Crô, de \'Fina Estampa\', sela as pazes entre a Globo e o movimento gay

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Crodoaldo Valério (Marcelo Serrado) caiu no gosto do público

 

Caricato ao extremo, Crodoaldo Valério (Marcelo Serrado), o mordomo de
Fina Estampa, tinha tudo para ser inserido na lista negra do movimento
gay. Ele, que invoca Lady Gaga em momentos de desespero, venera a
cantora Madonna em um altar particular e desmunheca o tempo todo,
parecia um retrocesso diante das conquistas que a causa gay vinha
obtendo nas novelas, com direito a união estável e merchandising social
pró-adoção de crianças por casais do mesmo sexo. Mas é justamente o
estereotipado Crô quem está selando as pazes entre a Globo e o movimento
gay, cuja relação andou estremecida no final de Insensato Coração,
quando a emissora brecou a dupla de autores Gilberto Braga e Ricardo
Linhares, que ia colorindo a novela tal qual um arco-íris. Crô caiu no
gosto do público e também conquistou os militantes, que veem nele o
retrato fiel de um tipo de gay bastante comum na vida real.

O autor da trama, Aguinaldo Silva, é categórico em defender que, na vida
real, há muito mais homossexuais pintosos e divertidos como Crô do que
gostariam os militantes mais ferrenhos da luta pelos direitos dos gays.
“Tem gay ativista dizendo que Crô presta um desserviço à causa por ser
pintoso!”, escreveu o autor em sua página no Twitter em dezembro. Mas a
verdade é que integrantes das principais associações do movimento gay –
incluindo aquela que protestou quando a Globo pôs freio em Braga e
Linhares – gostam de Crô. “Há muitos gays que se parecem com ele. Crô
faz a linha submisso, mas, na verdade, ele não é oprimido, sempre dá a
volta por cima. Temos respeito ao correto e não ao politicamente
correto”, diz Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Gays,
Lésbicas, Bissexuais e Transexuais (ABGLBT), a entidade que afrontou a
Globo em 2011.

Reis calcula que cerca de 20% do movimento homossexual seja contrário ao
personagem por seu tom afeminado e sua subserviência à madame Tereza
Cristina (Christiane Torloni). A afetação de Crô, de fato, tem sido
explorada à exaustão por Aguinaldo Silva. Que, aliás, desde antes de a
novela estrear avisava que colocaria no ar uma bicha caricata,
estancando o avanço do gay sério e politicamente correto no horário
nobre.

Atualmente, as cenas cômicas de Crô têm sido turbinadas pela sugestão de
que ele e o homofóbico motorista Baltazar (Alexandre Nero) guardam uma
paixão enrustida. “Eles já são um casal, embora não saibam. Aquela
implicância entre os dois, o fato de sempre encontrarem pretextos para
se agarrar, para mim significa que existe algo entre eles. Agora, se até
a novela terminar eles vão permitir que a luz se faça e eles percebam
que tipo de relacionamento vivem, eu não sei”, diz Aguinaldo Silva. Para
o autor, o tratamento bem humorado que dá à relação entre Baltazar e
Crô não o distancia do passado de militante gay. “O que eu quero dizer é
que não existem casais certinhos, e isso serve tanto para os heteros
como para os homos. Somos iguais nos sentimentos e também na forma de
expressá-los.”

Outros fãs – Leandro Rodrigues, diretor da Associação da Parada do
Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transexuais (GLBTT) de São
Paulo, diz ter receio de que Crô reforce o estereótipo de que o
homossexual é sempre o capacho da mulher poderosa – assim como Duda
Martins, assisente 24 horas da socialite Val Marchiori. Apesar da
crítica, Rodrigues vê evolução na maneira com que as novelas têm
retratado os homossexuais. “A televisão está mais aberta às causas gays e
passou a escutar mais as nossas reivindicações.”

O sucesso de Crô ajuda a pavimentar esse caminho. "O personagem tem uma
repercussão enorme e tem conquistado pessoas de diferentes mentalidades.
Ficamos felizes com isso."

Marcelo Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia, também vê avanço
nessa relação. “A TV caminha para fazer as pazes com o movimento gay.
Não por que ela quer, mas por causa da concorrência. O exótico sempre
chama mais atenção. O tema gay se fortaleceu nas novelas por causa
disso, mas um dia vai ser tratado da forma que a gente quer.”

Cerqueira também é a favor de Crô: "Ele é engraçado e, por isso, tem
mais facilidade de transmitir mensagens importantes de conscientização
contra a homofobia. O humor é um veículo de transformação."

Alguns militantes citam a personagem Ana Girafa (Luis Salém), a
transexual da novela Aquele Beijo, como um exemplo do respeito maior da
teledramaturgia às diferenças. “A novela dá um tratamento político
interessante ao transexual. A personagem trabalha num salão de beleza e é
aceita socialmente. Até o fato de ela ser rejeitada pela mãe é
positivo, pois mostra o cotidiano real dessas pessoas”, diz Marcelo
Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia.

 

Surgiu.com.br


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