Conversa na Varanda – Prostituição gay

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Regina Navarro Lins
Especial para o Diário
 

Silvio, carioca da zona Oeste do Rio de Janeiro, descobriu sua homossexualidade durante a investida de um primo, quando ele tinha apenas 12 anos. Nunca teve uma convivência harmoniosa com os garotos de sua rua e quando os pais descobriram seu namoro com meninos da vizinhança passou a ser mais discriminado ainda. Aos 15, depois de enfrentamentos pouco amistosos com seu pai, acabou saindo de casa. A formação escolar deficiente e a falta de experiência profissional o relegaram aos piores tipos de trabalho.

 

Servindo como auxiliar de cozinha num restaurante, acabou se envolvendo com um dos colegas que se tornou seu amante. A indiscrição do parceiro sexual fez com que logo ele se tornasse motivo de chacotas no grupo de pouca educação formado pelos auxiliares de cozinha. Mas por outro lado, Silvio se tornou objeto de desejo de alguns deles. Tentaram seduzi-lo pela chantagem, mas ao resistir, lhe ofereceram dinheiro. Muito pouco, mas ele descobriu que seu favorecimento sexual era uma forma de se manter.

 

Um dos seus novos clientes, costumeiro freqüentador de prostitutos masculinos lhe falou do aeroporto. Próximo à pista do Santos Dumont, haveria um ponto de “viração” de homens. A primeira visita de Silvio ao local lhe rendeu horror e alívio. Se, por um lado, compreendeu que não estava só em sua atividade, por outro ficou chocado com a marginalidade dos que se expunham ali. Homens jovens se exibiam sob um elevado que, ao cair da noite, era cenário soturno. Calças abaixadas, mostrando as nádegas ou o pênis para a clientela motorizada, os prostitutos eram capazes de qualquer ato na disputa de seu ganha-pão.

 

A sua ingenuidade o fez alinhar-se aos outros sem negociar o espaço, o que lhe rendeu o afrontamento de alguns prostitutos, que não deveriam estar contentes com o crescimento da concorrência. Foi salvo por sua boa aparência. Um dos rapazes que tinha ascendência sobre os demais o adotou. Durante um tempo foi obrigado a atendê-lo sem custo, mas através do amante conheceu os ardis da profissão e até local para residir, na Lapa, dividindo apartamento com colegas de ofício.

 

A prostituição homossexual foi sempre violentamente reprimida, ou melhor, duplamente reprimida. Em nome da homofobia (aversão à homossexualidade) e da própria prostituição. Durante a Idade Média, os homossexuais foram queimados nas fogueiras pela Inquisição, mas nenhuma repressão impediu que alguns séculos depois eles estivessem arrecadando clientes nas ruas.

 

No final do século XIX, em Nova York, funcionava o Golden Rule Pleasure Club, na rua 3, West, onde os interessados poderiam contratar um jovem disposto a tudo para satisfazer a sua clientela. Em Paris, não era menor o movimento de homossexuais se prostituindo. O que mais irritava as conservadoras autoridades francesas era a captação de soldados para entreter os gays endinheirados. Os rapazes da Garde Imperiale eram os preferidos desses senhores, que não confessavam o nome de seu amor. Na atualidade existem saunas masculinas em todo o mundo. Aí é possível encontrar prostitutos gays.

 

O Brasil exporta travestis que se prostituem na Itália, Espanha, França e muitos outros países em todo o mundo. No Brasil, é claro, eles disputam os melhores pontos com as mulheres. A avenida Atlântica, ponto turístico no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, é rigidamente dividido em zonas de mulheres e de travestis. “Quando quero fazer sexo ativo (atuando como homem para gays ou bissexuais) fico na zona Sul, mas se é para dar (atuar como gay) vou para a zona Norte”, diz o travesti Paula, em depoimento a um documentário sobre prostituição.

 

A zona Sul concentra a população de maior poder aquisitivo e muitos homossexuais não assumidos procuram os travestis em busca de seu prazer reprimido. Pagam caro. Na zona Norte, o mesmo “traveco” cobra mais barato, mas obtém mais prazer encontrando fregueses que o tratam como mulher.

 

A prostituição masculina, que se confunde com o comércio sexual de travestis, também está nas ruas, desfilando em busca de clientes. Os pontos preferidos dos homens que se oferecem para sexo são periféricos e menos iluminados, assim como os de mulheres. Avenidas largas, que possuam motéis para receber os casais são as preferidas. Em Roma, na famosa via Áppia, conhecida e festejada nas décadas de 60 e 70, até a periferia de Hamburgo, e a avenida Brasil, no Rio de janeiro, podem ser encontrados os rapazes que aguardam em poses lânguidas seus clientes passarem de automóvel.

 

As saunas, que desde Roma Antiga ocupam espaço importante no imaginário erótico gay, também são locais onde é possível encontrar homens se prostituindo. Elas existem em todo o Ocidente, dos Estados Unidos à Europa. A prostituição masculina em Nova York foi registrada brilhantemente, no filme Midnight Cowboy (EUA, 1969), de John Schlesinger, com Dustin Hoffman. O fetiche do caubói é um dos preferidos do universo gay, ao lado de motociclistas e homens uniformizados. Os prostitutos que fazem sexo com gays atuam como ativos e passivos.

 

As tragédias envolvendo rapazes que durante a relação, movidos pela culpa homofóbica, assassinam seus parceiros são comuns na prostituição masculina. Isso se constitui num dos maiores riscos nesse tipo de envolvimento.

 

Regina Navarro Lins, psicanalista e sexóloga, é autora de O Livro de Ouro do Sexo (Ediouro). E-mail para a coluna: [email protected]. Site: www.camanarede.com.br


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