Coletivo Tibira: indígenas LGBTQIAP+ criam rede de resistência, acolhimento e informação

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A homofobia um problema estrutural da cultura brasileira. Até bem pouco tempo atrás, grande parte da população não via integrantes da comunidade LGBTQIAP+ como seres humanos dignos de respeito. Contudo, ao contrário do que algumas pessoas pensam, a existências de integrantes da “máfia do alfabeto” não é um “fenômeno” recente. Para termos uma ideia, o primeiro caso de homofobia no Brasil aconteceu em 1614, com o assassinato de Tibira, indígena do povo Tupinambá.

Tibira foi executado em praça pública e seu caso foi o registro de crime homofóbico mais antigo do país. Ele reflete a violenta imposição dos ideais cristãos na sexualidade dos povos indígenas desde a época da invasão, além de reforçar o fato de que corpos indígenas LGBTQIA+ sempre existiram.

Em homenagem à sua resistência e história e pela necessidade de criar um ambiente de acolhimento e informativo, surgiu o Coletivo Tibira. Considerada a primeira mídia do Brasil especialmente voltada à pauta indígena LGBT, ele é composto por jovens de diversas etnias, como Tuxá, Boe Bororo, Guajajara, Tupinikim e Terena e tem como objetivo dar visibilidade às narrativas de indígenas gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros de todo o país.

Realidade do Brasil

Ainda somos o país que mais mata pessoas trans no mundo, além de registrar uma morte por homofobia a cada 23 horas. Sendo assim, falar da existência de corpos indígenas LGBT é falar de sobrevivência. “Um dos objetivos do nosso projeto é tornar mais visível a questão da sexualidade no contexto indígena, porque a falta de representatividade faz a gente se sentir estranho e errado. Mostrar para os indígenas que a gente existe é fundamental para que ninguém se sinta desencaixado”, explica o integrante do Coletivo Tibira, Danilo Tupinikim, em entrevista a Hysteria.

© Divulgação/ Coletivo Tibira

Seu seu perfil no Instagram, o coletivo publica vivências e experiências de pessoas indígenas LGBT, informações sobre política, cultura e resistência, como o caso Uketê de 29 anos, da etnia Javaé. Mulher indígena transexual, a educadora dá aulas de língua indígena para crianças e adolescentes da aldeia Txuode na Ilha do Bananal, em Lagoa da Confusão. “Me assumi quando tinha 18 anos e nem minha mãe me aceitou. Agora dentro da aldeia é normal. Fora da aldeia ninguém nota que eu sou trans.”

 © Divulgação/ Coletivo Tibira

Uketê de 29 anos, da etnia Javaé.

Ou como a do jovem Samuel Luz, de 20 anos. Do interior do Maranhão, ele explica que a sexualidade não é um assunto que costuma ser debatido entre os indígenas da comunidade. Ainda assim, ele considera que as pessoas de lá são “mais abertas às relações homoafetivas”. O estudante diz que sempre teve clareza sobre a própria sexualidade, e lembra que não foi difícil entender quem era – “mas minha realidade não se aplica a de todos”, pondera.

© Gabriela Rassy

Samuel Luz, de 20 anos

Preconceito que mata

A presença do preconceito dentro e fora das comunidades e a ausência de um espaço seguro e acolhedor está diretamente ligada aos casos de homicídio e suicídio da juventude indígena LGBT. Apesar de dados comprovarem que a taxa de suicídio entre jovens indígenas é três vezes superior à média nacional, ainda não há uma contagem que indica ou especifica a presença de indígenas gays, lésbicas, bi ou trans. Neimar Kiga, indígena do povo Boe Bororo e integrante do Coletivo, fala sobre essa realidade. “Sempre existiram LGBT’s indígenas e temos até muitos relatos de suicídio ligados à dificuldade de lidar com o assunto. Hoje, tem gente dando a cara a tapa para levantar essa discussão tão importante”, explica, também em entrevista a Hysteria.

Discussões e a formação de coletivos como o Tibira são cada vez mais necessárias para romper estereótipos, atacar o preconceito e garantir uma vida digna à juventude indígena LGBT.

Gabriela Rassy

MSN


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