Da editoria de Cidades
Um casamento entre duas mulheres foi realizado ontem à noite em Goiânia. Ana Paula Silva, 25, e Katiane Freire da Silva, 23, receberam as bênçãos de um pastor e assinaram também um contrato de união estável. A cerimônia acontece justamente em um mês especial para o Grupo Lésbico de Goiás (GLG), que organiza até o final de agosto uma série de eventos para comemorar o Mês da Visibilidade Lésbica no Estado.
As leis brasileiras não permitem o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mesmo assim, em todo o Brasil, casamentos homossexuais são realizados. A forma encontrada é o contrato de parceria civil. Segundo a advogada Helena Caramaschi, que trabalha com homossexuais que querem se casar, o contrato de união civil, assinado ontem pelas noivas, é aceito pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e planos de saúde. “Ele é um documento que serve para fins de previdência e herança”, explica.
O documento serve também para prevenir problemas após separação ou morte de um dos cônjuges. “Muitas famílias que nem consideravam a pessoa como filho, por ser homossexual, após a sua morte, querem ter o direito sobre seus bens”, explica a advogada.
Helena conta que já realizou dez casamentos de homossexuais com este tipo de contrato em Goiânia, 90% entre homens. Segundo ela, todos foram feitos nos dois últimos anos e a tendência é de que existam mais. “As pessoas estão realmente buscando o que querem”, diz.
De acordo com o pastor Patrick Thiago, da Igreja Comunidade Cristã (ICM), de Brasília, que celebrou a cerimônia ontem, a maioria dos casamentos acontece mesmo entre homens. “Esta é a primeira vez que celebro para mulheres”, conta.
Katiane explica que isso se deve porque as mulheres têm mais medo de magoar a família. “Eu mesmo passei muito tempo assim. Mas chega uma hora que não dá mais”, acredita. Sobre sua relação com a família, ela conta que foi preciso manter uma certa distância. “Eles não me visitam e eu não visito eles”, diz. Mas nem por isso ela se sente sozinha. “Tenho ao meu lado uma companheira ótima e isso é o que vale”, atesta.
Vestida de fraque e muito nervosa antes da cerimônia, Ana Paula dizia estar realizando um sonho. “Penso nisso desde quando começamos a morar juntas, o que aconteceu um dia após nos conhecermos”, revelou.
De acordo com a tradição 30/07/2006
Sobre o fato de fazer parte do primeiro casal de lésbicas que se une em Goiás, Ana Paula diz não ter medo de retaliações. “Não me importo com o que os outros falam.” Ela ainda não sabe dizer se a atitude dela e de Katiane irá fazer com que outros casais também oficializem seus relacionamentos. Mas acha que sua união deixa uma mensagem. “Cada um deve viver da melhor maneira possível”, afirma. A cerimônia acabou seguindo a tradição dos casamentos e uma das noivas se atrasou para chegar. Ela foi realizada em uma boate GLS de Goiânia.
Marcha – A programação do GLT este mês contará com palestras, shows, competições esportivas e oficinas e será encerrada com uma marcha no dia 29 de agosto, no Centro de Goiânia. A presidente do GLT, Dani Lima, 32, afirma que a realização de casamentos como o de ontem e de eventos como o que acontece mês que vem é importante por quebrar preconceitos. “Sofremos uma discriminação dupla: por sermos homossexuais e por sermos mulheres”, explica.
A Câmara de Vereadores da Capital aprovou, este ano, um projeto de lei (102/2005) que prevê a criminalização de ações homofóbicas. O projeto foi vetado pelo prefeito Iris Rezende este mês.