No mês da visibilidade trans, o Metrópoles conta como cinco brasilienses enfrentaram o preconceito e conquistaram espaços de destaque.
O ano de 2019 foi significativo para o último e mais vulnerável elemento da sigla LGBT. Se, antes, travestis, mulheres e homens trans ocupavam um espaço modesto na mídia, geralmente para falar sobre o cenário de violência em que estão inseridos, nos últimos anos a luta desse público por identidade promoveu vários nomes aos holofotes. Muitos deles, do Distrito Federal.
Apesar de reconhecerem as conquistas recentes, os transexuais entrevistados pelo Metrópoles são unânimes ao afirmar que, 16 anos após a instituição do mês da visibilidade trans, comemorado em janeiro, ainda há muito o que avançar em políticas voltadas para a inserção dessas pessoas no mercado do trabalho e em posições de destaque.
Nas telonas
Maria Luiza Silva, 59 anos, é uma das personalidades do DF a inaugurar a luta contra o preconceito nas instituições militares. Primeira mulher reconhecida como transexual na história das Forças Armadas Brasileiras (FAB), a cabo travou uma extensa batalha para reverter sua aposentadoria, expedida de forma compulsória e precoce.
Em 1997, com 37 anos, mais de 20 deles dedicados à carreira militar, vários elogios na ficha e nenhuma punição, ela achou que estava na hora de comunicar ao comando sobre o desejo de se assumir transexual e fazer a cirurgia de mudança de sexo. Diante da informação, foi instaurado um processo que envolveu médicos e superiores. Ao final, Maria recebeu o parecer de que era “incapaz, definitivamente, para o serviço militar”.
“Desde criança, eu gostava muito de aviões. Quando cresci, me formei em mecânica de aeronaves. Era feliz na FAB e meus colegas me apoiaram muito. No entanto, algumas pessoas queriam me ver longe. E isso foi um golpe pra mim”, lembra Maria.
Ela procurou a justiça para reaver os direitos. Embora o ingresso de mulheres na FAB tenha ocorrido a partir de 2003, somente sete anos depois foi expedida decisão definitiva a favor de sua reintegração. Porém, já com 49 anos idade, Maria Luiza foi direto para a reserva. “A justiça brasileira tem muitos recursos. Ela reconhece nossos direitos, mas não é capaz de efetivá-los”, lamenta.