Bissexualidade & Fajutices – Será que o homem bissexual existe?

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Por Ricardo Rocha Aguieiras – [email protected]
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O título acima parece uma provocação. É mesmo uma. Mas, antes que me xinguem, quero deixar claro que trato aqui da minha visão, do meu mundo, opiniões e vivências com a bissexualidade masculina, com o meio gay onde vivo e sempre vivi e que é o meu meio e meu universo.
E não com a bissexualidade feminina, que não conheci em minha rotina de vida. De todo o modo, a mulher sempre me pareceu muito mais resolvida emocionalmente que o homem e observo que elas transitam com maior tranquilidade entre os dois sexos mostrando-se capazes de amar, de se envolverem emocionalmente com seus objetos amorosos ou sexuais, sejam parceiros ou parceiras. Elas se entregam. Ao contrário do homem. Também devo explicar agora que não acredito na bissexualidade masculina, que sempre se apresentou na minha já longa vida como algo muito duvidoso.
O triste e limitador “politicamente correto” e, também, os(as) líderes gays e todo o Movimento Homossexual nos obrigam a aceitar a bissexualidade, colocando inclusive a sigla “B” , de “Bissexual” no nome das Paradas Gay que acontecem no Brasil inteiro e em particular em São Paulo, por sua dimensão e repercução. No entanto, sei que não temos que aceitar nada. Aceitar é diferente de respeitar e eu respeito todo aquele que se coloca como “bissexual”, porém esse respeito não me impede de não aceitar ou de não questionar. Respeitar é, inclusive, questionar. Eu mesmo, como sou, não sou aceito por muitos e muitas. Mas exijo respeito, o mesmo que eu sempre ofereço.
Tentei inúmeras vezes em todas as ong’s gays que participei, também em grupos de luta homossexual ou, ainda, em ong’s/aids, levantar na lebre da bissexualidade masculina as minhas dúvidas e nunca obtive uma resposta satisfatória, nem de pessoas que se diziam bissexuais e nem de estudiosos da sexualidade humana, todos sempre com uma resposta pronta ou com o discurso politicamente correto, que eu já citei acima, sempre pregando para os já convertidos. Na maioria das vezes mandavam eu calar a boca, já que esse tipo de discussão não era conveniente e não ficava bem alguém falar que não acredita na bissexualidade masculina.
Só que esse discurso não me interessa, o que confirma as minhas impressões é o meu dia-a-dia. Nunca conheci um “bissexual masculino” bem resolvido. Os muitos e muitos que conheci eram sempre homens carregados de conflito. Não importa o local ou o meio, seja numa sauna ou num dark Room, seja numa universidade ou numa igreja, seja nas organizações ou nas empresas em que trabalhei ou militei. Como sou um cara que se dá à vida, um andarilho que vive por aí colhendo impressões e me entregando, já teria tido a oportunidade de cruzar com um único bissexual verdadeiro, afinal são mais de 50 anos…acompanhei tantos bissexuais por décadas, que depois confessaram que, na verdade, eram gays. Nunca encontrei um só que provasse , com o seu cotidiano e seu histórico de vida, que tinha a capacidade de amar igualmente os dois sexos. Eles casavam com mulheres – que juravam amar. E trepavam com homens – que juravam sentir tesão. Não tinham com o outro homem a mesma disponibilidade afetiva que tinham com a mulher. Para a mulher, o amor. Para o homem, o sexo.
Várias coisas me incomodam: A palavra “bissexual” não representa nada, nada, nem ao menos carrega uma sonoridade poética. Não é carregada de nenhum estigma. Nunca vi alguém xingar o outro de “Bissexual”. Preferem viado, bichona, boiola, maricas e etc. , por exemplo. E, além dela não vir acompanhada de nenhum ódio ou preconceito de quem a profere, ainda dá ao auto-proclamado bissexual uma “aura de modernidade” e admiração, passa a imagem de alguém antenado com o seu tempo, “pessoa de visão”, como se falava quando eu era jovem. Se o cara falar que é “pansexual” então, é capaz de aplaudirem mais do que se aplaude a Fernanda Montenegro.Se eu me levantar num bar dos Jardins ou de Moema e falar alto que eu sou bicha, gay ou viado provavelmente ocorrerei em alguns riscos , de um mero desprezo até perder a minha vida lá. Mas se eu falar que sou “bissexual” nada disso acontecerá, receberei até sorrisos de minha platéia. E, se for num boteco da periferia seus frequentadores provavelmente não entenderão o que eu quis dizer com “bissexual”, já que o povão brasileiro não tem acesso a uma coisa chamada educação e cultura. Igualmente, nunca ouvi falar de um bando de skinheads tenha matado algum “bissexual” na Praça da República… ou num pai militar que deu ao filho bissexual um revólver carregado para o mesmo se matar. Politicamente falando, e levando em conta o país em que vivo, eu penso que mesmo que eu fosse um bissexual eu me assumiria publicamente como gay, por uma questão de solidariedade e de luta. Nas ruas, um bissexual não é discriminado por ser bissexual. Mas um gay é por ser gay. Sou mais pálido que a Branca de Neve, mas não hesitaria em assumir minha negritude em nome de uma luta contra o racismo e pelos direitos iguais dos negros. Um bissexual pode até sofrer críticas e questionamentos discriminatórios dentro do gueto gay, mas, me desculpem, ele não sofre discriminação social por ser bissexual. Se sofrer alguma agressão será pela evidência eventual da sua homossexualidade e não outra coisa.
Inúmeros bissexuais que eu conheci eram “bissexuais” aos16, 17 anos, mas aos trinta “se tornaram” gays, seja por um processo de aceitação provocada pelo amadurecimento individual, seja por conscientização por participação em grupos homossexuais. O Orkut, por exemplo, está cheio de perfis de meninos em fim de adolescência que colocam “bissexual” na sua orientação. Tristemente, aprenderam já a apresentar aos pais as suas namoradinhas e a esconder de todos os seus namoradinhos. Aí reside uma confusão: fazer o pênis ficar duro e penetrar numa vagina é muito fácil, existem uma série de “mecanismos” e apoios para isso -taí o Viagra e similares, por exemplo…- mas não é isso que define a minha heterossexualidade ou “bissexualidade”. O que definiria seria a real capacidade de se envolver emocionalmente e amorosamente tanto com homens como com mulheres, não apenas a questão sexual em si. Agora, o mau-caratismo se apresenta mesmo nos homens mais velhos que se dizem bissexuais, todos, repito, todos os que eu conheci não abriam mão de nenhuma das inúmeras vantagens que o nosso mundo e a nossa sociedade proporciona à heterossexualidade, mas não queriam nem saber do cruel e horrendo desprezo que é reservado aos gays. Portanto, no meio de heterossexuais eles se diziam heterossexuais ( conseguindo assim seus seguros, suas festas, suas promoções, suas casas de praia, o amor paterno, amigos para o chop e etc.) e, no meio de gays se diziam gays, conseguindo assim suas paqueras sexuais. Usavam a própria orientação sexual de acordo com as conveniências dos ambientes em que circulavam… se adaptavam.
O bissexual masculino vive um outro conforto, conforto esse que é negado aos meros mortais gays ou heterossexuais: Parece que é dado a ele o “direito de trair”. Como ele é bissexual, no imaginário dos outros e outras “ele tem a necessidade de transar com um homem, mesmo estando com uma mulher”. Ou vice-versa. Acho que é o único momento que a nossa sociedade cristã e moralista adimite o “regime aberto” de casamento… É muito cômodo, por que é como se eu, homossexual masculino que sou, por gostar tanto de brancos como de negros tivesse a “permissão” do meu parceiro branco e de todo o mundo para ter sexo com um outro que fosse negro. A palavra “compromisso” não se aplica aos bissexuais. Mas que ninguém entenda isso como um moralismo de minha parte, o que me incomoda é a mentira, as coisas escondidas, o jogo onde a mulher é sempre a enganada e não os relacionamentos abertos onde esse acordo é discutido e admitido entre as pessoas envolvidas. Quantas vezes, em saunas ou clubes de sexo que eu ia, o cara me pedia que “pelo amor de Deus, não deixasse marca nenhuma no corpo dele, por que a mulher não poderia desconfiar…” Eu pulava fora na hora. Tem muito homem por aí, não preciso colaborar com isso.
Eu fico ainda mais assustado e perplexo com a sordidez desse jogo por perceber que muitos gays colaboram com ele. Continuam machistamente vendo a mulher como um ser inferior, com a função ser enganada e traída sempre, para a manutenção da família, dos filhos, do bem-estar social, como se esse( o ser enganada) fosse o papel principal da mulher. Alimentam a frágil fantasia de que o sujeito que transa com mulher é mais másculo, carrega uma virilidade maior, um “macho de verdade” por que “come buceta” também. Como, acima de tudo e até acima de Deus, a masculinidade é valorizada, é o ideal maior, pensam que tal fulano é mais homem por ser casado ou por ser envolvido com mulheres também. Infelizmente, muitas mulheres colaboram com esse embate, ou por estarem magoadas e desiludidas demais com o machismo ou por carência ou por não quererem enxergar o óbvio. Ou ainda, mais triste: por também serem machistas.
Nunca também me responderam se o sujeito casado que fica nos banheiros públicos se masturbando olhando para o pau de outro ou fazendo mais que isso é um “bissexual”… O que ele seria? Em que estatística ele se encaixa? Penso que a verdadeira bissexualidade só teria a ganhar com esse tipo de debate, se ele fosse permitido e bem-vindo nos grupos e no Movimento Homossexual. Espero não ter que morrer com essas indagações e que algum dia eu conheça o verdadeiro bissexual masculino, capaz também de amar um outro homem e de constituir um projeto de família com ele, da mesma maneira como faz com uma mulher.


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