Nuno Botelho
O português António Simões foi escolhido pelo Santander para para liderar operações europeias – incluindo Portugal. Em 2015, o Expresso entrevistou: na altura tinha 39 anos e preparava-se para deixar a presidência do HSBC britânico de forma a assumir a liderança executiva do mesmo banco a nível europeu. Era a história de um português “baixinho e careca”, como o próprio se apresentava, e que é porta-voz da diversidade. António foi o primeiro CEO assumidamente gay na conservadora city londrina. Esta é a republicação dessa entrevista marcante.
António Simões é muitas vezes descrito nas páginas financeiras da imprensa inglesa como um “big shot” do mundo da banca. Depois de passagens fulgurantes pela McKinsey e pela Goldman Sachs, entrou para a administração do HSBC – o segundo maior grupo bancário do mundo, em termos de ativos – em 2007.
Em 2012, com apenas 37 anos, Simões foi nomeado presidente do HSBC UK, a divisão britânica deste banco, responsável por quase 50 mil empregados e 25% das receitas do grupo. Apesar de ter passado quase metade da vida no estrangeiro, António Simões, de 39 anos, continua a afirmar-se como “claramente português”.
“Não tenho qualquer crise de identidade.Tenho imenso orgulho em ser português”, diz ele.
Nos últimos anos, este lisboeta apaixonado pela praia de Aljezur e “obcecado” por Ilha e Lamu, os seus dois labradores – e que costuma apresentar-se de forma descomplexada como “um português gay, baixinho e careca” -, tornou-se igualmente num campeão da diversidade, premiado pelos European Diversity Awards e distinguido como o “mais inspirador gay executivo de topo” pela OUTStanding in Business/“Financial Times”.
António Pedro Simões recebeu o Expresso na sede mundial do HSBC, um arranha-céus de 42 andares no centro financeiro de Canary Wharf, em Londres. A entrevista foi publicada em janeiro na revista E e é agora republicada no dia em que se soube que vai presidir ao HSBC Europa, o maior banco do continente e um dos maiores do mundo.
Acompanha de perto o que se passa em Portugal?
Do ponto de vista pessoal, sim, acompanho imenso. Continuo a ter a minha família em Portugal – os meus pais, a minha irmã, etc. – e muitos amigos, obviamente. Continuo de alguma forma relacionado com Portugal e tento contribuir e manter essa ligação muito profunda. Tenho muito orgulho em ser português.
Isso traduz-se em quê?
Vivi em Portugal até aos meus 22 anos. Quase outro tanto no estrangeiro, é certo, mas é diferente. Se tivesse saído de Portugal aos 10, 14 anos ou mesmo aos 17 ou 18, teria sido diferente. Fiz a universidade em Portugal. Toda a base da minha formação – não só académica mas, especialmente, a minha formação pessoal – foi feita em Portugal.
Sinto-me claramente português. Não tenho qualquer crise de identidade. Não sinto que sou um cidadão do mundo. Sou um português que já viveu em muitas cidades – em Nova Iorque, em Milão, em Hong Kong, etc. – e agora sou um português que vive em Londres. Acho que muitas das minhas perspetivas sobre o mundo e sobre a vida em geral são influenciadas pela forma como fui educado em Portugal e por valores que de alguma forma são portugueses: a humildade, alguma simplicidade de vida, uma espécie de understatement que tem muito que ver com os portugueses.