DOMINGO: Casal gay celebra 1º Dia dos Pais após gestação de filha em barriga de irmã

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Eles curtem paternidade de Helena, de seis meses, após fertilização in vitro

FOLHA DE SÃO PAULO

Este domingo (12) de Dia dos Pais terá um colorido especial na vida do casal David Fernando Marcelino, 33, e Hugo Olavo da Silva, 25.

Será a primeira vez que os dois irão comemorar a data como pais oficiais de Helena, de 6 meses e meio, que nasceu após uma fertilização in vitro e uma gestação que ocorreu na barriga da irmã de David, Célia, que, com quase meio século de vida, ofereceu seu útero para o sonho do casal morador da cidade de Marília, no interior de São Paulo.
A barriga de aluguel é proibida no Brasil. O Conselho Federal de Medicina autoriza a realização do útero de substituição (barriga solidária) só entre parentes de até quarto grau: mãe, irmãs, tias e primas. Caso não haja nenhum grau de parentesco, os pedidos são analisados caso a caso pelo Conselho Regional de Medicina de cada estado.

No caso de David e Hugo não foi necessário, já que Célia é irmã de um deles.

David é bancário e lembra que desde adolescente teve vontade de ser pai, especialmente por vir de uma família grande, formada por cinco irmãos e 11 sobrinhos, que se reuniam com frequência nos fins de semana. “Sou caçula dos cinco filhos e fui acostumado a viver com a casa cheia. A Célia, que emprestou seu útero para gestar a Helena, foi quem praticamente me criou”, lembra David.

Hugo, agente de turismo, também sonhava com a paternidade, mas, sem conhecer as possibilidades de reprodução assistida, achava um sonho distante —situação que mudou ao conhecer David.

“Quando nos conhecemos ele tinha acabado de perder gêmeos da primeira gravidez que a Célia tentou para ele. Ele estava muito abalado e eu percebi que a paternidade que eu tanto queria era algo real e possível”, conta.

David ouviu falar em barriga de substituição pela primeira vez em sua própria casa, num almoço de domingo com a família toda reunida. Uma de suas irmãs descobriu ter problemas para engravidar. Célia, que já era mãe de uma menina, se ofereceu para gestar a criança da irmã.

“Aquilo me marcou muito. Eu tinha 14 anos e não fazia ideia de que isso era possível. Mas guardei aquela informação comigo. E foi isso que meu deu forças para criar coragem e perguntar se a Célia faria a mesma coisa por mim”, afirma o bancário.

Ainda solteiro, David decidiu levar adiante o sonho de ser pai e perguntou se a irmã Célia toparia. O sim foi imediato. “Eu sempre soube da vontade dele de ser pai. Quando ele me perguntou, fiquei um pouco receosa por causa da minha idade [estava com 48 anos]. Mas fizemos todos os exames e o médico atestou que minha saúde estava perfeita”, afirma a servidora pública Célia Aparecida Marcelino, hoje com 50 anos.

David então foi se preparar para ser pai. Fez dois cursos de gestantes, nos quais era o único homem da sala de aula, e também um curso de paternidade responsável. Foram nessas aulas teóricas que aprendeu a segurar um bebê, trocar fraldas, dar banho, identificar problemas de saúde.

Também leu cerca de 25 livros sobre maternidade, paternidade e criação de filhos.

Nessa época, David e Célia fizeram a primeira tentativa com material genético (espermatozoides) de David e de uma doadora anônima de óvulos. Foram implantados dois embriões, que vingaram, mas pararam de se desenvolver com oito semanas, confirmando o aborto espontâneo.

Mesmo abalado, David não desistiu. Nesse período, conheceu Hugo, com quem se casou. Na nova tentativa, a fertilização in vitro usou material genético de Hugo e da doadora de óvulos.

Célia conta que a gestação foi tranquila e que ela não teve nenhuma das intercorrências preocupantes na sua idade —como pressão alta, diabetes gestacional e parto prematuro. “Foi uma gravidez que eu curti muito, era paparicada o tempo todo”, brinca, reforçando ter ciência dos riscos de uma gestação tardia.

Hoje mãe de três filhas, Célia disse que conversou com as meninas e que elas entenderam que aquele bebê na sua barriga era do tio David.

No dia do parto, David ficou do lado de fora e Hugo acompanhou a cunhada. Helena nasceu saudável, após 39 semanas de gestação, pesando 3,790 kg e medindo 48,5 cm.

Apesar dos cursos preparatórios, David, Hugo e Helena passaram os primeiros 30 dias na casa de Célia para se adaptarem à rotina com a bebê. Por três dias, a tia amamentou Helena com o colostro, mas assim que o leite desceu de verdade os pais optaram por amamentar a filha com fórmulas especiais.

“Não queríamos estender um laço que já existia entre as duas. A amamentação cria um vínculo muito forte e não queríamos que Helena nem Célia sofressem depois”, diz David.

Foi nesse período que Célia sentiu o instinto materno dar sinais em seu corpo, recém-parido. “Eles estavam em casa, mas os cuidados com a bebê era total responsabilidade deles. Às vezes eu a ouvia chorar e, por instinto, tinha vontade de pegar no colo e embalar. Mas não fazia isso para não passar por cima deles.”

Já em casa, David e Hugo se revezam nos cuidados da pequena Helena. Nas ruas, o casal diz que nunca foi vítima de preconceito explícito, mas que são vítimas de olhares curiosos. “Sempre que estamos nós três as pessoas nos olham com cara de dúvida. Não entendo isso como preconceito, mas há uma curiosidade embutida em cada olhar”, diz Hugo.

Para comemorar este Dia dos Pais, David e Hugo farão um almoço em família. “Essa semana recebemos presentinhos feitos na creche. Sou babão, com certeza no domingo vou chorar”, afirma Hugo.

O casal ainda quer mais filhos. Eles têm embriões congelados, que poderão ser usados em outro processo de útero de substituição, e também cogitam adotar uma criança um pouco mais velha.

Os dois ainda não decidiram qual rumo seguir. Se depender de Célia, ela cederia sua barriga de novo —mas Hugo também está conversando a respeito com sua mãe, que é mais jovem. A única certeza, para eles, é a de que a família ainda vai aumentar.

 

http://www.rondoniaovivo.com/geral/noticia/2018/08/11/domingo-casal-gay-celebra-1-dia-dos-pais-apos-gestacao-de-filha-em-barriga-de-irma.html


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