Revista Época – O Brasil sai do armário

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O país oferece mais opções “gay friendly” e entra no circuito mundial do turismo GLS

FABRÍCIO ESCANDIUZZI

Atentos aos bons resultados mundiais de uma fatia de mercado que não pára de crescer, hoteleiros, agentes de viagens, donos de bares, restaurantes, casas noturnas e até mesmo a Embratur começaram a se voltar para o público GLBT – sigla para Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transexuais. As estatísticas mostram que os integrantes desse grupo, geralmente com boa renda e sem filhos, costumam viajar acompanhados de três a cinco vezes por ano, são bons gastadores e gostam de qualidade naquilo que consomem, da hospedagem às comprinhas. Para ter uma idéia, somente em 2003 a economia americana faturou cerca de US$ 54 bilhões com o turismo gay. Por aqui, esse nicho vem crescendo mesmo sem nenhum investimento do governo na promoção do Brasil como destino \’\’gay friendly\’\’.

Fotos: Eduardo Marques/ÉPOCA
\’\’Ser isolada em um hotel unicamente para gays é uma forma de preconceito velado\’\’

SAMRA MOUGRABI, web designer

Há três anos o país não aparecia em nenhuma listagem da International Gay and Lesbian Travel Association (IGLTA), mas atualmente está em terceiro na preferência dos turistas americanos dentro da América Latina, atrás do México e do Caribe. Segundo a associação, o mercado nacional teria potencial para movimentar US$ 5 bilhões por ano. Um bom indicador dessa força é a Parada Gay de São Paulo, que reuniu 1 milhão de participantes no ano passado e deve se mostrar ainda mais poderosa na próxima edição, em 13 de junho. Pacotes de viagem para participar do evento vêm sendo vendidos desde dezembro e muitos hotéis paulistanos estão praticamente lotados para a data. O governo federal incluiu em seu Plano de Metas até 2007 o fomento e desenvolvimento do turismo segmentado. Vários departamentos foram criados, entre eles um voltado para o turismo GLS. Entretanto, cortes no Orçamento da União fizeram com que os projetos permanecessem engavetados. \”Houve apenas uma identificação do setor\”, explica Marcos Niemeyer, da Embratur. A falta de dados e de ações para lidar com o público gay dificulta o trabalho da iniciativa privada. Investir em mídia no exterior sem antes capacitar e treinar funcionários seria um erro imperdoável na opinião de Franco Reinaudo, dono da Álibi, agência de viagens voltada exclusivamente para o público GLBT.

Fabiano Accorsi/ÉPOCA
\’\’Não adianta vender o Brasil lá fora como destino gay friendly se o turista chega aqui e é tratado de forma diferente\’\’

FRANCO REINAUDO, dono da agência Álibi

Reinaudo criou a Álibi há sete anos e hoje tem 6 mil clientes cadastrados. Vende cerca de 70 pacotes por mês e ainda é convidado a dar cursos como o Sensibilizando para a Diversidade, relacionado à receptividade e à implementação do turismo gay no Brasil. \”Não adianta vender a imagem de uma cidade ou do país se o turista chegar aqui e perceber que está sendo tratado de maneira diferente. O turista gay quer se sentir à vontade e ser considerado uma pessoa comum\”, explica. Segundo Reinaudo, cerca de 26% dos visitantes de São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, Salvador e Fortaleza são GLBT.

O executivo Clóvis Casimiro, de Fortaleza, acha que o preconceito ainda é um grande obstáculo para que o Brasil se torne um pólo de visitação. \’\’Temos estruturas fantásticas, além de locais com uma beleza incomparável, mas o preconceito, ainda que velado, é um ponto que nos deixa atrás da Europa, dos Estados Unidos e do Canadá\’\’, diz. \’\’Há até pouco tempo, se dois homens ou duas mulheres pedissem uma cama de casal num hotel brasileiro, era o fim do mundo.\’\’

O Brasil
poderia faturar
US$ 5 bilhões
por ano com
turismo gay

A web designer Samra Mougrabi, de 32 anos, de São Paulo, é contra um rótulo gay de produtos ou serviços. \’\’Criar um hotel unicamente gay não é uma boa alternativa. Ser isolada num local só para homossexuais também é uma forma velada de preconceito\’\’, explica. \’\’O gay é sensível e não quer ser tratado como uma pessoa diferente. As pessoas precisam conviver, respeitar e entender que a opção sexual é uma coisa íntima e que isso não modifica a personalidade de ninguém.\’\’ Samra diz que o certo seria criar locais gay friendly, isto é, que também aceitam homossexuais. No Brasil já existem cerca de 6 mil desses estabelecimentos cadastrados nas agências de viagens especializadas e, principalmente, nos sites dirigidos ao público gay, que são a maior fonte de informação para os viajantes. Eles recebem um adesivo com um arco-íris, símbolo mundial do movimento gay.

\’\’Criei um local aberto a todas as tribos. Todo o mundo gosta de ser bem tratado\’\’

TALMIR DUARTE DA SILVA, dono de uma pousada gay friendly em Florianópolis

Samra criou o Athos GLS (www. athosgls.com.br) para divulgar locais gays e gay friendly em todo o Brasil, além de orientar e assistir diversas pessoas. Passados sete anos, o empreendimento se transformou num portal com 380 mil usuários e 26 milhões de páginas acessadas por mês. Ali as pessoas trocam informações sobre viagens, mostram locais interessantes para visitação e dispõem de um grande roteiro para turismo gay no Brasil. Segundo pesquisas disponíveis no portal, São Paulo e Rio de Janeiro são os destinos favoritos, seguidos por Salvador, Florianópolis, Fortaleza e Paraty. \’\’As pessoas procuram locais com belezas naturais, boa gastronomia e atividades culturais\’\’, destaca a web designer. Floripa, por sinal, foi a capital que mais cresceu nesse segmento: 45%.

#Q#

Drausio Joca/ÉPOCA
\’\’Temos estruturas fantásticas e muitas belezas, mas o preconceito ainda nos deixa para trás\’\’

CLÓVIS CASIMIRO, executivo, de Fortaleza

Assim que se formou como engenheiro agrônomo em Viçosa, Minas Gerais, Talmir Duarte da Silva perambulou pelo mundo como mochileiro. Voltou para o Brasil, trabalhou e depois decidiu montar uma pousada na Praia do Campeche, na capital catarinense. Há três anos, cadastrou-a como estabelecimento gay friendly e investiu pesado para receber seus hóspedes. Primeiro, contratou uma empresa para treinar seu pessoal. Depois, criou uma ala holística, com serviços de massagens e terapias com florais, além de remodelar vários quartos. Hoje, em sua pousada, convivem tranqüilamente visitantes GLS, público de terceira idade e adeptos de esportes radicais e ecoturismo. \’\’Criei um local friendly e aberto a todas as tribos. Todo o mundo, não apenas o visitante gay, quer tratamento especial\’\’, defende.

Florianópolis
será sede do 1º
Congresso
Brasileiro GLBT

As autoridades locais também estão se esforçando para incrementar o turismo gay. Com um investimento de R$ 80 mil, Florianópolis conseguiu muito destaque entre a comunidade GLBT no Carnaval passado, por exemplo. \’\’Não tratamos o turista gay de forma diferente. Queremos que todos os visitantes se sintam à vontade, independentemente de opção sexual, idade ou motivo da visita\’\’, destacou o secretário de Turismo do município, Paulo Rosa. Os resultados foram tão bons que Floripa lutou para desbancar São Paulo e ser a sede do 1o Congresso Brasileiro GLBT, na primeira quinzena de dezembro. Prova de que, pelo menos nesse segmento do turismo, quem seguir o arco-íris encontrará seu pote de ouro.

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG64590-6014,00.html


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