Segundo teólogos, esse tipo de presença nas paróquias mostra como, em geral, a Igreja Católica no Brasil tem entendido o discurso de acolhimento do papa.
O casal reúne documentos e junta economias para custear o processo de nulidade do matrimônio dele para, então, se casar na Igreja e comungar. “É claro que dá vontade de comungar, mas já ficamos felizes de poder servir na Igreja. Pensei que, como a gente mora junto sem ser casado, nunca deixariam. Mas assim que Francisco se tornou papa, veio o convite”, diz Joana à reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.
Segundo teólogos, esse tipo de presença – como a de divorciados e de casais homossexuais – nas paróquias mostra como, em geral, a Igreja Católica no Brasil tem entendido o discurso de acolhimento do papa. “O que ele prega é que, antes de vermos o que há de diferente, a Igreja se firme no que nos une, que é o amor ao próximo. É a grande reviravolta”, analisa Francisco Borba Ribeiro Neto, do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “No fundo, ele não propõe valores ou ideias diferentes dos antecessores, mas um posicionamento diferente”, afirma.
O grande desafio, diz Borba, é fazer com que toda a comunidade se converta ao posicionamento do papa. “É uma questão de reler os conflitos de outra forma. Onde essa capacidade já está dada, o caminho flui com facilidade. Mas há um grupo minoritário – mais barulhento do que numeroso – que se contrapõe a isso, porque fez a própria trajetória na linha da relação agressiva com o diferente.”
Primeiro passo
Quem sente as sutilezas da segregação torce para que o acolhimento seja só um primeiro passo para a aceitação irrestrita, mesmo que isso leve tempo. “Não há acolhimento pela metade. Se você deixa a pessoa participar da missa, mas não da comunhão, está segregando, discriminando”, diz Loreano Goulart, um dos coordenadores da Pastoral da Diversidade Sexual de São Paulo.
O grupo existe há quase dez anos. É formado por cerca de 200 pessoas – entre gays, lésbicas, transexuais e transgêneros – que se reúnem quinzenalmente para reuniões e missas, em que todos podem comungar.
“Frequento a mesma paróquia desde criança e sempre fui o mais religioso de casa. Na adolescência me dei conta de que era gay, mas só assumi mesmo aos 22 anos”, conta o supervisor de operações Tyago Queiroz, hoje com 31 anos. “Nesse tempo, passei por longo processo de autoaceitação e, pasmem, quem me ajudou nisso foi o próprio padre”, diz ele, que frequenta uma igreja na zona leste.
Posição do papa aumenta aceitação a gays e divorciados na Igreja