Paradas do Orgulho GLBT são livres

0

O movimento homossexual gaúcho está dividido. Junho promete ter duas paradas em Porto Alegre para marcar o Dia do Orgulho Homossexual. Uma, no dia 5 de junho, que leva o nome de Parada Livre, proposta por dois grupos (Nuances e Igualdade) e outra no dia 19 de junho, intitulada Parada do Orgulho GLBT, proposta, em forma de consórcio, por seis grupos que compõem o Fórum LGBT de Porto Alegre (Outra Visão GLBT, SOMOS Comunicação, Saúde e Sexualidade, Desobedeça GLBT, Integração Vivência GLBT, Contestação, LEGAU – Lésbicas Gaúchas).
A data que gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros saem às ruas para mostrar seu orgulho e sua cidadania iniciou em 1970 nos Estados Unidos, um ano depois da revolta de Stonewall.
Em 28 de junho de 1969, no bar Stonewall Inn, um bar gay, localizado no bairro Greenwich Village, em Nova Iorque, uma batida policial habitual agressiva não acabou como as outras. Os freqüentadores responderam à violência com indignação, atirando garrafas, pedras e moedas contra os agentes policiais e a resistência durou alguns dias e noites.
No ano seguinte, um pequeno grupo de pessoas que estava presente naquela ocasião organizou uma caminhada pelas ruas de Nova Iorque para marcar a denúncia, dar um basta à violência e mostrar que não há motivos para clandestinidade ou para sofrerem agressões caladas. Nos anos seguintes, com o crescimento do movimento homossexual na década de 70, os grupos de todo o mundo começaram a replicar a manifestação e esta data ficou referendada como a data do moderno movimento homossexual. Uma data de todos e todas, que deve ser realizada em todos os lugares, por todos os grupos e pessoas. Uma data para agregar, sem donos.
As paradas no Brasil
No Brasil as paradas surgem com maior ênfase em 1995, ao final do último EBGLT – Encontro Brasileiro de Gays, Lésbicas e Travestis em Curitiba, quando os presentes ao Encontro, após fundarem a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros – a ABGLT, saíram às ruas centrais da cidade para realizar a manifestação, gritando palavras de ordem e dando ênfase a construção de uma Lei Federal que reconhecesse a união estável entre pessoas do mesmo sexo. No mesmo ano aconteceu a Conferência Internacional da ILGA – uma organização internacional que congrega grupos GLBT do mundo todo, no Rio de Janeiro, e lá aconteceu uma grande parada pela avenida Atlântica, saindo da frente do Copacabana Palace e indo até à frente do Forte de Copacabana. Nesta parada também estavam presentes militantes de Porto Alegre que hoje militam em grupos como o SOMOS e Nuances.
Movimentos são feitos por pessoas e estas são móveis, mudam de lugares, de pensamentos e de instituições.
Paradas em Porto Alegre
Em Porto Alegre a Parada iniciou somente em 1997 pelo único grupo homossexual existente na época – o Nuances, Grupo Pela Livre Orientação Sexual. A história nunca foi negada, e sempre fora reconhecida pelos demais grupos, porém, as instituições que surgiram depois não compartilham com a idéia de que o grupo mais antigo deva ser o único a realizar o evento pelo resto da vida. Para os grupos, realizar um evento com este caráter significa realmente trabalhar de uma forma transversal e com a participação de todos os grupos. Há pelo menos três anos, os grupos que compõem o Fórum LGBT de Porto Alegre tentam uma aproximação com a coordenação da Parada e não vêm obtendo sucesso nas negociações, pois não são respeitados e sofrem discriminação por parte do Nuances.
Somente em 2003 os grupos conseguiram participar da coordenação do evento, com a promessa de que, no ano seguinte (2004), realizariam a coordenação de forma transversal. O acordo foi rompido, conforme relato dos participantes e conforme parecer do Ministério Público Federal, que já se manifestou sobre este tema em 2004.
Por diversas vezes o Nuances utilizou o seu jornal, que é financiado com verbas públicas pelo Ministério da Saúde, para atacar os outros grupos existentes. Em seu editorial de dezembro de 2002 afirma que os grupos são ligados a partidos políticos: “Até criam grupos laranjas para vender a idéia de movimento social” ou no editorial de maio de 2004, no qual afirma: “as ervas daninhas crescem no jardim, até que alguém pise em cima. Esse é um recado para aqueles e aquelas oportunistas de plantão que querem faturar em cima do nosso trabalho”.
O Nuances continua a divulgar inverdades e a distribuir na mídia e através de sua lista eletrônica injúrias e difamações contra os grupos que compõem o Fórum LGBT de Porto Alegre. Estas serão as bases para as medidas judiciais que os grupos estão tomando visando barrar as arbitrariedades e as acusações infamantes contra eles proferidas, pelo referido grupo, afirma Gustavo Bernardes, advogado do SOMOS Comunicação, Saúde e Sexualidade.
Os grupos que compõem o Fórum LGBT consideram estas atitudes como típicas de quem está desesperado e acredita que o “filho é seu”, negando toda a história desta data, construída pelo movimento. Quem não lembra da cena, onde crianças que trazem a bola para jogar futebol resolvem acabar com o jogo quando são contrariadas porque a bola é sua!
A pergunta mais pungente é: antiguidade é sinônimo de maior legitimidade? Quem começou a trabalhar com prevenção à aids em Porto Alegre, por exemplo, foi o GAPA/RS. Então só este grupo deve trabalhar com o tema e receber verbas públicas por serem os primeiros? Não! Todos os outros grupos que surgiram depois são laranjas, buscam faturar em cima do trabalho construído pelo GAPA? Não! Se fosse assim, nem o próprio Nuances ou a Igualdade, que começaram depois não deveriam trabalhar com prevenção à aids.
O 28 de junho é para os homossexuais, o mesmo que o 8 de março para as mulheres. Uma data que é do movimento, ou seja, de todos os grupos, diverso e plural e acima de tudo, os grupos reafirmam, uma data sem donos!
Um espaço de articulação
A pluralidade é importante para o crescimento de qualquer grupo social e os mesmos precisam trabalhar juntos e de forma articulada para dialogar e buscar construir estratégias comuns.
É com este espírito que surgiu, referendado pelo Congresso da Cidade e pela Conferência Municipal de Direitos Humanos, o Fórum Municipal de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros e todos os grupos começaram juntos, inclusive o Nuances. Mas este último retirou-se do Fórum porque não aceitava participar de um processo coletivo e viu-se como minoria num coletivo maior.
O Nuances ataca periodicamente a ABGLT, a maior organização GLBT da América Latina e Caribe, o Fórum LGBT de Porto Alegre, o projeto Somos, um projeto estratégico da Coordenação Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, que visa capacitar e fortalecer os grupos GLBT já existentes e fomentar a criação de novos grupos. Será medo de dividir o poder ou apenas uma dificuldade de trabalhar em conjunto?
A partir da criação do Fórum LGBT, o Nuances passou a atacar os outros grupos, com maior freqüência, e diz que os mesmos são “tendências partidárias”. Mais uma mentira! Tem muitos militantes que são filiados a partidos, como em qualquer outro movimento, mas seus grupos são apartidários. O próprio Golin, membro fundador do Nuances, fez parte do Conselho Político de Tarso Genro, quando o mesmo era Prefeito de Porto Alegre. O Nuances é partidário por isso? O fato do Nuances ter procurado gabinetes de Deputados Estaduais para buscar apoio junto ao Ministério da Cultura foi um ato político partidário?
Fórum LGBT recebe apoio
Os grupos que compõem o Fórum LGBT chegaram a buscar a mediação do conflito através da Coordenação Estadual de DST/aids e da Secretaria Municipal de Direitos Humanos. No processo, o Fórum aceitou trocar a data da parada, continuar a chamá-la de Parada Livre e a dividir o financiamento público para o evento, desde que houvesse uma coordenação coletiva, mas o Nuances não aceitou dividir a responsabilidade. Esta foi uma das razões pela qual a Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul emitiu parecer técnico favorável ao Fórum LGBT. No parecer consta que: “… esta coordenação Estadual entende como relevante à formação de redes locais e a instituição que contempla este aspecto no momento é o grupo SOMOS, devendo este ter o financiamento público do Programa Nacional de DST/aids para realização do evento em 2005”.
O Nuances fala de uma independência e autonomia que não existe. Parecem estar leiloando o movimento para o atual governo, pois de forma não transparente buscam articular-se rapidamente para continuar a receber verbas públicas sem querer participar de concorrências, editais ou através de disputas legítimas do orçamento público, como o orçamento participativo.
Parecem querer continuar sendo privilegiados em detrimento de outros grupos também legítimos. Por isso negam a legitimidade de uma disputa orçamentária feita através do orçamento participativo e sempre se negam a reivindicar recursos públicos, através de instâncias legítimas na cidade.
É assim que dizem que vão fazer a parada sem financiamento. Afirmam porque já receberam a confirmação do apoio financeiro da atual Secretaria Municipal da Cultura para que a mesma banque sua infra-estrutura.
Os grupos que compõem o Fórum também têm apoio da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa e de diversas casas noturnas da cena gay porto-alegrense, como o Venezianos, a My Way, Abala Gravataí e Calígula e não vão aceitar sentar na sede do Nuances, que se acha dono da Parada, para receber ordens e para encher balões.
Por isso o Fórum LGBT de Porto Alegre está construindo uma Parada do Orgulho GLBT, onde os grupos, pessoas independentes, empresários da noite LGBT e quem mais deseje participar, possam se reunir na Assembléia Legislativa, todas às terças-feiras, às 19h para juntos decidirem os rumos de uma Parada realmente livre e, acima de tudo, uma Parada do Orgulho GLBT feita pelo conjunto da comunidade gaúcha.
FORUM LGBT DE PORTO ALEGRE


Deixe um comentário ou dica do que gostaria que pudéssemos trazer de novidade para vocês. E se curte nosso CANAL faça uma doação de qualquer valor para que possamos continuar com esse trabalho.

PIX: (11) 98321-7790
PayPal: [email protected]

TODO APOIO É IMPORTANTE.

Compartilhar.

Sobre o Autor

Comments are closed.