O GRANDE CASO DE AMOR LÉSBICO DE ROSE CLEVELAND

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Em cartas, a antiga primeira-dama dos Estados Unidos demonstra uma paixão visceral por Evangeline Simpson

JOSEANE PEREIRA

Nos anos de 1880, quando não se falava sobre homossexualidade e não existia o conceito de orientação sexual que temos hoje, a cadeira de primeira-dama dos Estados Unidos foi ocupada por uma mulher lésbica.

Rose Cleveland tornou-se a primeira-dama em 1885 ao lado de seu irmão, o presidente norte-americano Grover Cleveland. Ao que parece, em 1880 o executivo-chefe do país exigira uma mulher ao seu lado para servir como anfitriã da Casa Branca. Inteligente, bem-educada e uma autora respeitada, Rose era a escolha perfeita. E, claro, ninguém desconfiava de sua orientação sexual.

Um grande amor

Após Grover se casar com Frances Folsom, o mandato de Rose como primeira-dama estava concluído. Em 1886, ela começaria um relacionamento com a viúva Evangeline Simpson Whipple, conhecida por seu trabalho filantrópico na Cruz Vermelha Americana. Como Rose vivia em Nova York e sua amada em Massachusetts, as duas se relacionavam por afetuosas cartas.

“Você é minha e eu sou sua”, dizia Rose, “nós somos uma, e nossas vidas são uma daqui pra frente. Eu ouso dizer isso, orar e viver para isso. Sou muito ousada, Eve… Eu vou para a cama, Eve – com suas cartas debaixo do meu travesseiro”.

Publicadas no livro intitulado Preciosa e Adorada: As Cartas de Amor de Rose Cleveland e Evangeline Simpson Whipple, esses documentos permitem remontar o caminho trilhado pelas duas. Para a especialista em história e literatura LGBTQ Lilian Faderman, o caso retrata “uma das mais notáveis ​​relações amorosas entre mulheres da história norte-americana”.

Rose encontrava barreiras para designar o que sentia, como podemos ver pelas frases “não consigo encontrar palavras para expressar isso” e “a palavra correta não será dita”. Para Lizzie Ehrenhalt, co-editora do livro, o conflito se colocava por não existir um conceito de orientação sexual como temos hoje. “Na década de 1890, época em que elas escreviam as cartas, a sexologia se iniciava como campo de estudo.”

Rose Cleveland em 1918 / 
Créditos: Wikimedia Commons

As cartas sugerem que o casal não era discreto sobre seu relacionamento amoroso. Fizeram viagens frequentes ao exterior, possuíam propriedades em conjunto e até contaram às famílias sobre o amor que sentiam uma pela outra.

Relação conturbada

Após seis anos juntas, em 1896 Evangeline abruptamente decide se casar novamente. O noivo era um pregador episcopal de Minnesota chamado Henry Whipple, 35 anos mais velho e também adepto das causas humanitárias.

Mas Rose não desistiria facilmente: “Acho que agora você não precisa de mim. Mas eu peço que você considere o que eu disse esta manhã: eu desistirei de tudo caso você tente mais uma vez estar satisfeita comigo. Você não tiraria seis meses para essa experiência? Poderíamos nos afastar de todos”.

As cartas de amor voltaram após a morte do segundo marido de Evangeline. Finalmente, Rose Cleveland fez o que talvez fosse o mais próximo de uma proposta de casamento entre mulheres lésbicas: “Eu preciso de você e a vida não é longa o suficiente para estar sempre esperando”, disse ela. As duas fizeram as malas para a Itália e nunca mais voltaram, vivendo juntas até o fim na aldeia toscana de Bagni di Lucca.

Hoje, podemos conhecer a história de Rose e Evangeline graças a um descendente do falecido Henry Whipple, que doou documentos de família à Sociedade Histórica de Minnesota em 1969.

Quando descobertas, as cartas foram escondidas do público, até que em 1978, pesquisadores exigiram a publicação integral desses textos, que tanto revelam sobre a história LGBTQ norte-americana.

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