O amor lésbico visto como um ato de desafio

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por Carol Alves

Rachel Weisz e Rachel McAdams são um casal em ‘Desobediência’; filme tem história honesta sobre paixão e perdão

Representação lésbica nos cinemas sempre foi um assunto complicado. Durante anos, as personagens que se envolviam em um relacionamento com alguém do mesmo sexo estavam sob um fenômeno chamado de “male gaze”, ou seja, o olhar masculino em cima de uma coisa que o mundo dos homens nem sempre – ou quase nunca – entendia completamente. É exatamente por esse motivo que filmes como “Azul é a Cor Mais Quente” e suas pesadas cenas de sexo são tão criticadas. As duas protagonistas, vividas por Léa Seydoux e Adèle Exarchopoulos, são o centro de uma cena caricata e que foi praticamente forçada pelo diretor Abdellatif Kechiche. Para evitar que isso acontecesse em “Desobediência”, que entra em cartaz nos cinemas nesta quinta (21), a atriz Rachel Weisz editou a longa sequência de sexo que existe na produção.

No primeiro ato do filme, conhecemos a família de Ronit (Weisz), que é judia e – muito – convencional. O casamento “tradicional” (entre um homem e uma mulher), inclusive, é parte importante da constituição daquele ambiente familiar.

Foi no começo de sua vida adulta que Ronit decidiu abandonar as tradições judaicas para ir morar em Nova York, onde vive como fotógrafa, com um estilo de vida pouco aprovado por seus parentes.
O pontapé inicial da história acontece quando Ronit precisa voltar para sua família, após a morte de seu pai, e encontra seu irmão casado com Esti (McAdams), com quem ela teve um caso há anos.
As protagonistas, que se mostram incapazes de ficar longe uma da outra, compartilham um amor reprimido por ambiente que ainda carrega raízes patriarcais, mas que não se mostra tão forte quanto a disposição das duas em se amarem.

O relacionamento não é fácil, e existe uma honestidade brutal no filme em relação a isso. A personalidade delas é muito diferente, mas cada uma tem uma forma de lidar com a opressão diária.
Mas não existe nada que desafie mais o sistema em que elas estão inseridas do que a forma como elas se amam e continuam se amando, mesmo após tantos anos separadas. Cada momento de afeto é um pequeno triunfo, e a química sensacional entre as duas protagonistas dá ainda mais credibilidade à trama.

Na tão comentada cena de sexo, não existe decepção. A visão do diretor Sebastián Lelio é deixada completamente de lado e a presença da câmera naquele ambiente passa praticamente despercebida.
Durante o ato, as protagonistas não tiram a roupa, e o sexo em si capta bem o sentimento intenso que envolve as duas, com mais delicadeza. Para muitos que estão de fora, o relacionamento é algo “anormal”. Para elas, não existe nada mais comum.

Vale lembrar que casais lésbicos precisam ser normalizados no cinema. Ou seja, a história de “Desobediência” é necessária, incrível e honesta, mas uma visão mais “leve”, como as de Callie e Arizona, casal retratado em “Grey’s Anatomy”; Cosima e Delphine, em “Orphan Black”; e até mesmo as adolescentes Karolina e Niko, em “Fugitivos”, também são mais do que bem-vindas.

“Desobediência” é uma história de amor, mesmo que não recorra a uma narrativa que a aproxime de um final “feliz”. Também se mostra um filme sobre perdão e recomeço, à medida que as protagonistas se tornam otimistas para encarar o futuro. De fato, o “amor é um ato de desafio”, como diz o pôster.

DestaqueDepois de “A Noite do Jogo”, uma ótima comédia em que Rachel McAdams se destaca com uma protagonista leve e divertida, a atriz americana encara, em “Desobediência”, um papel dramático que não deixa nada a desejar. Entre os dois filmes, ela vai da água para o vinho e prova que é uma das melhores em Hollywood hoje, justamente por saber escolher seus projetos com mais atenção e cuidado.

 

http://www.destakjornal.com.br/diversao—arte/cinema/detalhe/o-amor-lesbico-visto-como-um-ato-de-desafio

 


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