Marco Pigossi viveu 8 anos com ex escondido e relembra medo de ‘sair do armário’

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Ator conta ainda que se afastou do pai após voto deste em Jair Bolsonaro

O ator Marco Pigossi, de 32 anos, contou que viveu oito anos com um ex-namorado antes de finalmente ter coragem de assumir sua orientação sexual. Agora, ele namora o cineasta italiano Marco Calvani, ao lado de quem aparece em uma foto na praia que foi a primeira vez em que apareceu em um relacionamento gay publicamente.

Em depoimento à revista Piauí, Pigossi falou de sua jornada até esse momento e disse que se afastou do pai, Oswaldo Pigossi, eleitor de Jair Bolsonaro, depois das eleições. Atualmente, o ator mora em Los Angeles, nos EUA.

Marco contou que na adolescência não tinha referências gays em casa e que acreditava que os sentimentos que experimentava eram passageiros. “Nas novelas ou nos programas de humor, quase sempre os gays eram retratados de forma caricata, pejorativa. Então, me sentindo solitário e sem amparo, me restava torcer para que fosse apenas uma fase”, disse.

Ele entrou para o teatro aos 15 anos. Em 2009, teve seu primeiro papel de destaque, na novela Caras & Bocas, de Walcyr Carrasco, vivendo um gay afeminado. Ele disse que ficava aterrorizado pensando em dizer que era homossexual. “Na minha cabeça, não havia nenhuma margem de chance para eu me assumir. Se fizesse isso, todas as portas se fechariam para mim de forma automática”, conta.

Calvani e Pigossi (Foto: Reprodução)

Depois disso, ele conta que foi chamado para viver galãs, por ter uma “aparência heteronormativa”, mas vivia infeliz. ” Seguia me escondendo. Na verdade, eu me fazia passar por um heterossexual por pura e simples manifestação de medo”, diz.

Em 2010, ele conta que leu uma entrevista do então diretor de dramaturgia da Globo, Silvio de Abreu, afirmando que um ator que assumisse que era gay era um “bobo”, porque isso iria prejudicar a carreira. Isso aumentou seu medo.

Em todo período como ator conhecido, ele diz que manteve um relacionamento de oito anos com outro homem, dividindo casa, e que fazia de tudo para esconder a situação.

Em 2012, uma notícia se espalhou que ele viveria um affair com Rodrigo Simas, ator da novela em que estava, Fina Estampa. “Era mentira absoluta. A matéria não dava os nossos nomes, mas deixava claro de quem se tratava. Chegava a dizer que nós nos ‘pegávamos’ nos bastidores das gravações. Era tudo invenção, mas as pessoas acreditam no que querem acreditar”, afirma.

Nessa época, ele conta que teve uma crise de pânico. “Fui para o banheiro do aeroporto, me tranquei em uma cabine e comecei a vomitar. Liguei para meu parceiro, chorando. Eu dizia para mim mesmo que minha carreira tinha acabado. Não conseguia sair dali. Meu companheiro teve que pegar um voo de São Paulo ao Rio para me buscar”, diz.

Ele fazia terapia semanalmente, o que foi ajudando a lidar com sua história. Em 2018, com a eleição, acabou se afastando do pai por conta do voto em Bolsonaro. “Meu pai votou em Bolsonaro. Durante os oito anos do meu namoro com um homem, minha família sempre soube. Mas meu namorado e eu nunca jantamos com meu pai, que jamais perguntou sobre meu relacionamento”, afirma ele.

O ator diz que os dois já não tinham uma relação tão boa, e o voto em Bolsonaro aprofundou a distância. “Minha vida amorosa era um não assunto. E, quando meu pai votou em Bolsonaro, senti uma dor profunda, uma tristeza profunda (…) Meu pai e eu ficamos sem nos falar durante o ano da eleição – e até hoje temos contatos apenas esporádicos. O abismo, que já era grande, tornou-se ainda maior”, explica.

Pigossi diz que o relacionamento com Marco já dura há um ano e meio. Ele conta que o namorado avisou que ia postar os dois juntos no Instagram. Pigossi aceitou, mas começou a sentir apreensão e frio na barriga. “Recebi mais parabéns do que no dia do meu aniverário”, diz.

Ele finaliza: “Foi uma libertação. Uma festa. Nada como viver às claras, ser o que se é em privado e em público. Talvez os futuros galãs não sintam o mesmo medo que eu senti de perder minha carreira. Bolsonaro trouxe uma onda de ódio inacreditável, mas o efeito colateral foi fortalecer todos nós, gays. Naquele feriado, as respostas foram um alento imenso, o acolhimento de um mundo inteiro. Marco e eu convidamos uns amigos para comemorar. Tomei um porre. E hoje me sinto invencível”.

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