Mãe, sou gay!

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Não é fácil, claro que não é. Assumir-se gay é uma tarefa árdua para a maioria das pessoas, e isso ocorre por diversos fatores. O mais importante, na minha opinião, é o medo da rejeição. Vamos e venhamos, os pais querem que seus filhos casem na igreja, de véu e grinalda, com festão e docinho gourmet, um padre com um discurso bacana e 300 convidados como testemunha: “Minha filha casou!”.

Quando descobrimos que não somos a Eva e nem sequer simpatizamos com o Adão, as dúvidas começam a assombrar: devo contar aos meus pais? Aos meus amigos? Será que minha família vai aceitar? As respostas variam a cada minuto. Ora você pensa que todos acharão tudo muito tranquilo, afinal de contas, estamos em 2018, novos tempos e a televisão fala disso cada dia mais. Porém, logo adiante vem aquela nuvem cinza e nos pinga pensamentos pavorosos como “minha mãe vai enfartar”, “meu pai vai me expulsar de casa” e tantas outras coisas que realmente acontecem por aí.

Bom, depois de ter passado por todos esses caminhos que muitos começam a trilhar agora, entendo que “se assumir” não é necessariamente um problema. Não se você estiver de bem com o espelho, gostando daquilo que vê e sabendo que nada, nem ninguém pode interferir na sua vida, menos ainda na sua orientação sexual.

Na minha época, olha que louco, a única novela que tratou do tema – acho que era Torre de Babel (1998),  matou o casal interpretado por Silvia Pfeifer e Christiane Torloni em uma explosão terrível. Dizem as más (e certas) línguas que esse final foi por conta da rejeição do público, que era imenso. E tem mais, pouco antes da minha decisão de assumir para os meus pais, o Globo Repórter fez uma matéria gigante sobre a violência contra gays, lésbicas e travestis. Uma coisa terrível!

Enfim, não é fácil para ninguém, com raras, raríssimas exceções. Mas, voltando ao espelho, assumir o que somos é uma processo que acontece naturalmente (ou deveria ser assim), no seu tempo, quando você estiver certa de que é isso mesmo e madura o suficiente para enfrentar o possível corte do “cordão umbilical” – que nos une à família de uma forma diferente, com a dependência emocional que nos prende mais do que deveria, que nos torna prisioneiros dos sonhos e desejos dos pais.

Tenho uma amiga que reuniu a família em um domingo qualquer e apresentou a namorada. O churrasco acabou na hora e todos foram embora, é óbvio. Ela tinha 16 anos e talvez essa não seja a melhor forma de contar isso. Também li que uma tal de Barbara Hosking assumiu sua homossexualidade aos 91 anos. Está tudo bem, não tem idade certa, não tem protocolo!

Qualquer guia que lhe dê uma data certa para que esse momento aconteça está apenas querendo vender livros, nada mais. Isso é pessoal e intransferível, juro que é. O momento certo é aquele que você achar que é certo e pronto, e ponto! Acontece quando você se olha no espelho (de novo o espelho, né) e sente orgulho de ser quem é.

Não tem preço andar de mãos dadas com a sua namorada, apresentar a moça para os colegas de trabalho, juntar os trapos, adotar um gato junto, comprar a primeira geladeira com ela e mais um milhão de outras coisas. A dica que dou, claro, baseada na minha experiência, é: “assuma-se” antes de “se assumir”, saca isso?

Assuma-se para você intimamente, goste de quem você é e se fortaleça o máximo possível para que tenha coragem de dizer ao mundo que você ama uma mulher e que está de boas com isso. Depois disso, e quase sempre é assim, fica mais fácil lidar com os outros, por mais importantes que eles sejam.

Leva um tempo, mas seus pais entenderão que não se trata de escolha, mas de orientação. A única escolha que você fez foi não se esconder da vida. Eles compreenderão que ninguém muda por conta disso, que a ética não se transforma, nem se desalinha. E o abraço esperado nesse momento vai acontecer no tempo deles.

É tudo uma questão de tempo. Respeite-o.

E seja muito feliz!

Juliana Farias 

Jornalista

MTB 13.400

[email protected]


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