‘LGBTLolla’: Sam Smith, Liniker, Troye Sivan, Years & Years, St. Vincent, Silva e outros defendem diversidade no festival

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Lollapalooza acompanha nova geração do pop que ‘não tem que escolher entre carreira e sair do armário’, como explica Troye. Conheça artistas gays e héteros que defendem causa LGBT.

Por Rodrigo Ortega, G1

Duas semanas antes do Lollapalooza 2019, Sam Smith disse que “não é homem e nem mulher”, e se identifica como pessoa não binária. Sam, que também é gay, não está sozinho nesta edição: várias outras atrações do festival representam e defendem a diversidade sexual e de gênero.

A cantora trans Liniker, os cantores gays Troye Sivan e Olly Alexander (Years & Years) e a guitarrista e cantora de “sexualidade fluida” St. Vincent são todos ícones de uma nova geração da música pop que não hesita em se identificar e abraçar a causa LGBT.

A edição ainda tem vários artistas que, mesmo que não sejam gays ou transgêneros, fazem músicas que defendem um mundo tolerante com todas as orientações e identidades, como o rapper americano Macklemore, a cantora carioca Letrux e a banda inglesa The 1975.

Troye Sivan

Aos 23 anos, Troye Sivan desponta no primeiro time do pop mundial com uma etapa já vencida. A “saída do armário”, evitada ou adiada por vários astros pop do passado, não foi um drama para o cantor que se assumiu gay em um vídeo no YouTube aos 18 anos.

Um perfil do jornal “The New York Times” no ano passado colocou o cantor sul-africano criado na Austrália como exemplo de um “novo tipo de popstar”: aquele que incorpora o fato de ser gay em sua música com naturalidade.

Passou a era de Ricky Martin, George Micheal, Freddie Mercury, Elton John e outros ídolos que tiveram que ficar anos sob a sombra do preconceito. É a vez de homens que já chegam ao topo fora do armário, como Sam Smith, Frank Ocean e… Troye.

Ao G1, ele disse: “Antes parecia que eu tinha que escolher entre a minha carreira de cantor e sair do armário. E eu quero mostrar para as pessoas que você não tem que fazer essa escolha. Seja gay, o que for, você pode fazer o que quiser.”

Troye é cantor e ator desde criança. Em 2009, fez a versão criança de Wolverine em “X-Men Origens”. No ano passado, atuou em “Boy erased”, filme sobre um adolescente que passa por tratamento de “cura gay”, em que ele atuou com Lucas Hedges e Nicole Kidman.

Troye Sivan em 1 Minuto: Lollapalooza 2019

Troye Sivan em 1 Minuto: Lollapalooza 2019

“Aprendi muito com esse filme, acima de tudo sobre paciência. Minha coisa favorita é que ele não demoniza ninguém, porque mostra uma experiência familiar muito difícil. Entendi que é melhor ter paciência, buscar um jeito mais efetivo de se comunicar”, ele disse ao G1.

Nas músicas, Troye usa pronomes masculinos para falar de seus interesses amorosos e, ao falar de sexo, usa imagens que remetem a relações gays. É a tal naturalidade descrita pelo “New York Times”.

O hit “Bloom” fala sobre a abertura de uma flor para remeter à perda da virgindade. Sobre a composição, Troye admitiu ao G1: “Deu um pouco de medo. Tipo: será que a gente pode fazer isso? Mas justamente porque eu achava que a música não iria para frente, pensei: ah, vamos ver no que dá…”

Sam Smith

O inglês de 26 falou publicamente sobre ser gay já nos discursos dos prêmios que ganhou pelo disco de estreia, “In the lonely hour” (2014). No disco seguinte, “The thrill of it all”, deixou isso claro na música “HIM” (“ELE”, em caixa alta mesmo): “É ele que eu amo, é ele”.

Sam já ganhou quatro Grammys, um Globo de Ouro e um Oscar, e emplacou hits como “Stay with me” e “Too good at goodbyes”.

Em uma entrevista duas semanas antes do Lollapalooza 2019 em SP ele revelou que, além de ser gay, se identifica como pessoa de gênero não binário. A declaração foi para um programa em vídeo da atriz Jameela Jamil no Instagram.

‘Não sou homem nem mulher. Eu acho que flutuo em algum lugar entre os dois’, disse Sam Smith.

“Sempre estive um pouco em guerra com meu corpo e minha mente”, disse Sam. “Eu penso como mulher às vezes, na minha cabeça. Algumas vezes me questionei: ‘Eu quero uma mudança de sexo? (…) É algo em que eu ainda penso. ‘Será que eu quero?'”.

Sam Smith: Lolla em 1 minuto

Sam Smith: Lolla em 1 minuto

Sam Smith disse que ouvir conversas sobre pessoas não binárias levou à percepção de que essa é a sua identificação de gênero, e que se sente “feminina de várias maneiras”.

“Sou novo nessa discussão sobre gênero não binário e vou ler o máximo possível de livros, e virar uma esponja humana. Estou animado e pronto para aprender mais sobre mim mesmo e sobre todos os incríveis seres humanos que estão lutando a boa luta por tantos anos.”

Liniker

A cantora de 23 anos já é experiente em defender a diversidade em grandes festivais no Brasil. Em 2017, protagonizou um dos momentos mais comentados do Rock in Rio: um beijão em Johnny Hooker. Em 2018, a artista trans planejava um “show de resistência” no festival paulistano:

“É muito foda poder, por uma hora e meia, ocupar aquele palco e mostrar que a nossa existência está ativa.”

Só que Liniker teve um problema técnico no Lolla do ano passado. A cantora se despediu chorando após seu show com a banda Os Caramelows no Lollapalooza ser interrompido por um problema técnico.

O show neste ano, então, é uma nova chance para ela, e ainda com outro trunfo: o novo disco “Goela abaixo”, em que eles expandem seus horizontes e desfilam luxúria musical e sexual.

Liniker no Lollapalooza em 1 minuto: retorno com novo disco

Liniker no Lollapalooza em 1 minuto: retorno com novo disco

Em entrevista ao G1, Liniker dá uma pista de como essa nova geração ficou cada vez mais forte no Lolla:

“Esses festivais, com os anos, têm corrido atrás do futuro e do que está sendo dito agora, sem ficar reproduzindo um padrão de festivais que já aconteceram. Na arte hoje, a gente precisa ser um pouco mais ousado e estar atento aos movimentos.”

Olly Alexander (Years & Years)

Quando o trio Years & Years emplacou na Inglaterra o hit electropop “King”, em 2015, o vocalista Olly Alexander, 28 anos, já beijava seu namorado em cima do palco – o fato de ele ser Neill Amin Smih, então membro do Clean Bandit, dava ainda mais destaque ao casal de novos popstars.

No ano passado, ele refletiu sobre música e homossexualidade em uma entrevista à revista “Paper”:

“De várias formas, essa é a melhor época de todas para ser um artista gay. A gente não estaria aqui sem os gays que vieram antes e quebraram tantas barreiras. Mas as barreiras não se foram. Ainda mais para os membros da comunidade ‘queer’ menos privilegiados. Há uma homofobia sutil e casual em todo lugar, inclusive na indústria musical”, disse Olly.

Years and Years em 1 minuto: Lollapalooza 2019

Years and Years em 1 minuto: Lollapalooza 2019

“Gravadoras e pessoas em posição de poder dão voz e apoio a artistas LGBTQ. E isso é ótimo (…) Mas na minha experiência pessoal, ainda tem muitos comentários do tipo: ‘Ah, isso é muito gay’, ‘isso vai assustar algumas pessoas’, e isso é um problema.”

Alexander diz à “Paper” que isso o motivou a usar pronomes masculinos e linguagem explicitamente gay com mais cautela no primeiro disco, “Communion” (2015). Já em “Palo Santo” (2018), ele buscou uma forma mais ambiciosa, honesta e transparente de expressar sua homossexualidade.

St. Vincent

Anne Clark, 36 anos, não costuma falar de maneira pessoal sobre sexualidade em suas músicas ou em entrevistas. Ela é mais misteriosa e oblíqua. Tudo passa por imagens fantásticas, a começar pelo nome artístico, uma espécie de personagem, St. Vincent.

Porém, o fato de Anne, na vida real, já ter namorado outras artistas conhecidas, como a atriz Kristen Stewart, a modelo e atriz Cara Delevigne e Carrie Brownstein, vocalista do Sleater-Kinney e atriz do seriado “Portlandia”, a levou a se abrir na revista “Rolling Stone” sobre o tema.

“Eu não penso sobre essas palavras (gay ou hétero). Eu acredito em fluidez de gênero e fluidez sexual. Eu não me identifico como nada.”

St. Vincent no Lolla em 1 minuto

St. Vincent no Lolla em 1 minuto

St. Vincent liga essa sua ideia de fluidez com o da cidade em que ela mora, e que deu o nome a uma das melhores músicas de seu último disco: “New York”.

“Nova York é para todos os esquisitos de todos os lugares convergem. Eu tive noites loucas em que você termina no Box [uma boate com dançarinos nus homens e mulheres no centro da cidade].”

“Eu acho que você pode se apaixonar por qualquer pessoa. Eu não tenho nada a esconder, mas prefiro dar ênfase à música”, ela explicou à “Rolling Stone”.

Silva

“É porque você não viu a gente na cama”. Foi com essa resposta em 2017 a um seguidor no Twitter que tinha elogiado a beleza do seu namorado, Fernando Sotele, que o cantor capixaba Silva, de 30 anos, deixou bem claro para quem ainda não sabia de sua orientação sexual.

Ele já tinha dado sinais sobre isso em clipes e letras, mas não de forma direta. Em entrevistas, ele explicou que é bissexual.

“Eu sempre gostei dessa coisa ambígua e nunca escondi nada sobre a minha vida. Apesar de achar que as pessoas deveriam se conhecer mais. Sou muito sincero nisso, se acho uma pessoa bonita, não me importa se seja homem, mulher ou transgênero. Beleza é beleza. Na verdade, se um dia surgisse a oportunidade de namorar um homem e uma mulher eu não negaria”, ele disse em 2018 ao site Híbrida, voltado ao público LGBT.

Silva no Lollapalooza em 1 minuto: MPB com barulho do mar

Silva no Lollapalooza em 1 minuto: MPB com barulho do mar

Ele ainda apontou na entrevista que músicas como “Sou desse jeito”, de 2015, já eram uma forma de “se assumir” musicalmente. Ele canta nessa música: “Em dia eu percebi que era o meu jeito / tão diferente assim do seu conceito / é o que existe em mim não é defeito”.

Odes à diversidade: Macklemore, Letrux, The 1975…

No Lollapalooza em São Paulo também vai aparecer uma música que embala a luta recente pelo casamento gay nos EUA. “Same love”, do rapper americano Macklemore, marcou a campanha pela legalização da união de pessoas do mesmo sexo no estado de Washington, em 2012.

A capa mostra um tio dele ao lado do marido, e a letra critica a homofobia em diversas situações, inclusive no meio do hip hop. É um dos maiores sucessos de Macklemore – até com a crítica, que não costuma se encantar muito pelo seu rap mais comercial.

Macklemore não é gay, e era noivo de uma mulher, mas só se casou com ela no dia em que a Suprema Corte dos EUA deu o mesmo direito às pessoas homossexuais. “Parece um bom dia para se casar”, ele comemorou.

Outra música que foi abraçada pela comunidade LGBT, essa no Brasil, é “Que estrago”, da carioca Letrux. A música foi composta em parceria com a poeta Bruna Beber.

“E que estrago que cê fez lá na minha cama / Garota, toma tenência / Garota, me põe pra jogo / E que olhada que cê deu aqui na minha cara / E que milagre que cê fez com as duas mãos / Cuidado, o farol tá aceso”, canta Letrux.

Também ao site Híbrida, ela comentou: “Fico muito grata quando mulheres lésbicas dizem que essa é a música delas com uma crush ou namorada, acho o máximo isso.”

Outro defensor dos direitos LGBT em destaque no Lolla é Matty Healy, vocalista da banda inglesa The 1975.

Um dos shows mais importantes da carreira da banda foi no festival inglês Latitude, em 2107, o primeiro grande evento em que foram atração principal. Um discurso dele marcou a noite.

Matty, que não se identifica como gay, falou antes de tocar a música “Loving someone”: “Nós vamos tocar uma música sobre amor universal e compaixão (…) Em particular, queria dar uma força a todas as comunidades que são marginalizadas. A comunidade muçulmana, a LGBT. Eu quero dizer que estamos com vocês e que amamos vocês (…) Levantem as bandeiras.”


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