Nas palavras dos organizadores, “ver as bichas fecharem a rua” em Campo Grande para fazer Carnaval LGBT é muita alegria.
Thailla Torres
Na balada gay não pode faltar close, com looks e maquiagens célebres. No Carnaval LGBT não foi diferente. Neste sábado estreou com brilhos e cores o Carnaval LGBT, no Bairro Chácara Cachoeira, em Campo Grande. Bloco CarnaVrau liderado pela comunidade se dedicou ao axé, funk e músicas que animam as casas noturnas, mas não deixou de lado os discursos de resistência.
Apesar do ventinho nas primeiras horas do dia ontem, o clima ficou quente no período da tarde com sol forte, mas ninguém prestou muita atenção.
Na Rua Dr. Zerbini, cerca de 300 foliões só olhavam para o meio da rua e as bandeiras coloridas que alegravam a festa e demonstravam o amor à comunidade LGBT. O respeito a esse público também foi uma constante.
Cantora sertaneja, DJ, drag queen e bandas animaram o público com clássicos do axé, música eletrônica e muito pop que foram intercalados com discursos de resistência, como o do proprietário da casa noturna Pink Lemonade Deko Giordan, um dos organizadores, que não escondeu a alegria de ver uma rua em bairro nobre fechar com a bandeira LGBT para fazer folia de rua.
“Meu amor, as bichas fecharam uma rua nessa cidade e nem é parada gay, só tenho motivos para ficar feliz e continuar lutando ao lado dos outros blocos e movimentos que são organizadores deste Carnaval pela nossa folia. Ter um bloco de rua, com artistas de expressão e corpos LGBT é muito importante. É o real sentido de liberdade no Carnaval”, explicou ele ao Lado B.
E bom humor é um dos lemas do Carnaval LGBT, e teve grupo que levou a sério e aproveitou o nascimento do bloco para mudar o roteiro, como foi o caso do psicólogo Rafael Barros, 27 anos, e os amigos que até ano passado só levavam o bloco “A Casa Caiu” para a Esplanada Ferroviária. “Esse é o quarto do nosso bloco, criado entre amigos, e quando descobrimos sobre o bloco de LGBT pensamos que era uma oportunidade de curtir em ambiente diferente e falar com bom humor sobre os problemas da vida”, explica sobre o sentido do nome dado ao bloco.
“O que a gente quer dizer é que a casa cai pra todo mundo em algum momento da vida e a gente precisa vencer esses obstáculos, dividir com o outro, ser aberto ao diálogo para ter como se levantar”, completa o psicólogo.
Nascidas em Jardim, Larissa Ribeiro, de 20 anos, e Anny Marcele, de 17, namoram há três anos e disseram que se sentiram acolhidas na estreia no bloco. “Precisava muito de um Carnaval LGBT, nos sentimos mais respeitadas e representadas”. As duas escolheram como fantasia as famosas plaquinhas, uma delas dizia “problema” e a outra “casada com o problema”, uma brincadeira com o ciúme que uma tem mais que a outra. “É só uma brincadeira mesmo”, resumiram.
Também na onda das plaquinhas Vinicius Carvalho, de 21 anos, causou anunciando que ele era o que fazia macumba, e com orgulho, em homenagem às religiões de matriz africana. “Eu sou macumbeiro e Carnaval também é da macumba, nasceu na macumba. E eu queria estar aqui representando o meu povo de santo”, diz. Além disso, elogiou a festa com personalidade que destoa da fama de chato do campo-grandense. “O que eu mais gostei é que cheguei aqui sozinho e o pessoal da organização começou a dançar com todo mundo”.
E como Carnaval a prevenção é a melhor escolha, até o “demônio” apareceu no bloco LGBT descontruído e dedicado a fazer o bem. “Se preservar é a melhor coisa e eu achei muito bacana a iniciativa, por isso, resolvi aparecer de diabinho distribuindo camisinhas”, explica Arthur Miyashiro, de 33 anos.
Como parte da organização e rainha dos blocos, a drag queen Aurora BC, de 25 anos, amou a presença do público na estreia. “Eu percebi que as pessoas gostaram e abraçaram a nossa casa, independentemente da orientação sexual e esse é o foco do nosso Carnaval, ele está pronto para receber todos, mas com respeito à diversidade, com dedicação à diversidade que, normalmente, não tem tanta liberdade assim nos outros blocos”.