A DITADURA HÉTERO-MILITAR DE 64

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Foi Renan Quinalha quem primeiro utilizou a expressão “ditadura hetero-militar de 64” para se referir ao período de 21 anos que suspendeu as liberdades políticas no Brasil.

Assessor da Comissão Nacional da Verdade, Quinalha reuniu nos últimos anos uma série de arquivos e entrevistas que comprovaram que as perseguições que ocorreram durante o regime não estavam restritas a seus adversários mais conhecidos, os comunistas.

Foram perseguidos também artistas, feministas, ambientalistas, defensores dos povos indígenas, ativistas do movimento negro e, como restou irrefutável após os trabalhos por memória, justiça e verdade, a comunidade LGBT.

Peças de teatro que ousavam um pouco mais em suas cenas, foram censuradas. Revistas circulavam clandestinamente. O pornô passou a ser perseguido como se fosse propaganda criminosa. E quase não havia mulheres nos cargos do governo.

A década de 1960 passaria a ser conhecida na maior parte do Ocidente pelo momento de apogeu das liberdades individuais. Em Paris, mulheres saíram em grupos às ruas para queimar seus sutiãs em fogueiras coletivas. Em Londres, uma onda de rock alternativo se tornaria a trilha sonora de um movimento de liberação e experimentação do amor livre. E, nos EUA, Martin Luther King e Malcom X lideraram um gigantesco protesto pelos direitos civis dos negros até finalmente abolir a segregação racial.

No Brasil, ocorreu o oposto. As reformas sociais iniciadas por João Goulart, e apoiadas pela maioria da população, foram interrompidas por meio de um golpe cujo lema era a defesa da família tradicional brasileira.

O alardeado fantasma comunista, que era tão fake quanto o kit gay que Bolsonaro inventou para se tornar presidente, serviu não apenas para reconduzir ao poder a elite perdedora nas urnas, mas também para dar aparência de dever cívico a uma desejada exclusão de segmentos minorizados que ansiavam por um pouco mais de liberdade naquela época.

Os censores trabalhavam para banir Karl Marx, assim como a Aguinaldo Silva, Amélia Teles, Ana Maria Aratangy, Crimeia de Almeida, Darcy Penteado, Herbert Daniel, João Silvério Trevisan, Peter Fry, Rosely Roth, e outros.

E nunca tiveram a sorte de fazê-lo sem reação, é claro.

Juntos, ativistas LGBT lançaram O Lampião, publicação clandestina que cumpria o dever de informar a comunidade sobre a realidade das perseguições nos tempos em que soldados fiscalizavam cada artigo nas redações. Herbert Daniel, que depois participou do recém-formado Partido dos Trabalhadores com as cores do movimento LGBT, assumira um lugar de destaque na resistência armada. E, outros tantos, e ainda que a esquerda da época também fosse consideravelmente LGBTfóbica, atuaram ativamente na organização de protestos que enfraqueceram o regime até o seu fim.

É certo que, se podemos afirmar que a articulação com os quartéis foi uma marca da ditadura brasileira, a exclusão das minorias de gênero, também o foi. O resultado final do que os brasileiros receberam também era produto disso. Dos casos abafados de corrupção de Malufes e Sarneis, até a hiperinflação que matou centenas de fome, tudo naquele período também exaspera a eliminação da diversidade.

Em 1º de Abril não fazem festa só sádicos defensores da tortura. É uma festa hétero. Que eles, ressentidos, sempre comemoraram de coturno e fazendo golden shower.

Por: Rodrigo Veloso membro do Instituto Ser LGBT+

 

Jornalistas Livres

 


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