O requerimento foi feito Otoni de Paula, (MDB-RJ). Para ele, o brinquedo “servirá para confundir as crianças sobre a natureza dos gêneros”
Vitória Floro
Boneca é inspirada na atriz transexual Laverne Cox – FOTO: Reprodução / Mattel / Michel Jesus/Câmara dos Deputados
Na noite de quarta-feira (1º/6), primeiro dia do Mês do Orgulho LGBTQIA+, a Câmara dos Deputados aprovou um requerimento para a realização de uma audiência pública com objetivo de debater a nova boneca lançada pela empresa Mattel.
O brinquedo é uma Barbie em homenagem à ativista e atriz transexual Laverne Cox, conhecida por papeis marcantes em obras como a série Orange Is The New Black, da Netflix.
O autor do requerimento é o vice-líder do governo na Casa, o deputado bolsonarista Otoni de Paula (MDB-RJ).
Segundo o parlamentar, a audiência deverá “debater sobre as implicações psicossociais em crianças em decorrência da versão da boneca Barbie com órgão sexual masculino”.
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Na percepção de Otoni, o brinquedo “servirá para confundir as crianças sobre a natureza dos gêneros”. O deputado é pastor e integra a conhecida “bancada evangélica” do Congresso nacional, com intensa atuação nas “pautas de costumes”.
A audiência pública sobre a Barbie deve ocorrer na Comissão de Seguridade Social e Família da Casa. O deputado planeja convocar o “presidente, ou equivalente, da Mattel no Brasil” e um membro do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
A pasta em questão é liderada por Cristiane Britto, que assumiu o comando após a saída de Damares Alves.
No pedido, o político ainda indicou que ser trans “é uma opção tardia”, afirmação que vai contra preceitos científicos e comprovações médicas de especialistas nos assuntos relacionados as questões de gênero.
O vereador Filipe Martins (PL), membro do partido do presidente Jair Bolsonaro, também discursou na Câmara de Palmas sobre o brinquedo.
“Por que vocês querem mudar o entendimento e a ordem de Deus nas nossas crianças? O que fazem ou deixam de fazer em sua maioridade são consequências de cada um. Mas não, não pode se posicionar, é questão de homofobia”, falou.
Boneca com órgãos sexuais
A alegação do requerimento feito por Otoni não condiz com a tradição de modelagem dos bonecos produzidos pela empresa.
Tanto a Barbie quanto o seu namorado Ken, não possuem representação explícita de órgãos genitais em suas anatomias.
Até mesmo na versão da Barbie gestante, os bebês não nascem pela genitália da boneca, e sim, de forma lúdica, são removidos pela barriga.
Movimentos sociais
Na internet, o assunto chamou atenção de políticos e ativistas relacionados com a causa trans. A vereadora e presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de São Paulo Erika Hilton, usou o Twitter para criticar a decisão dos parlamentares.
“É sintomático do estado em que nosso país se encontra que a primeira notícia da Câmara relacionada à transexuais no mês do orgulho LGBTQIA+ seja perseguir uma boneca Barbie trans”, escreveu.