Resolução do CNJ que formaliza o casamento homoafetivo no Brasil completa cinco anos. Nesse período, 173 casais gays casaram em Rio Preto, 44 só no ano passado.
Uma das principais bandeiras do movimento LGBT em todo o mundo, o direito ao casamento homoafetivo completou cinco anos no Brasil nesta segunda-feira, dia 14. Em Rio Preto, desde a resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), aprovada em maio de 2013, foram formalizadas 173 uniões. O levantamento é da Arpen.SP (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo).
Entre 2015 e 2017, o número de casamentos homoafetivos avançou consecutivamente. O ano passado foi o período em que mais ocorreu casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo. Foram 44, um crescimento de 57%, em relação ao primeiro ano em que a resolução passou a garantir o direito. Com a resolução, tabeliães e juízes ficaram proibidos de se recusar a registrar a união.
O biomédico Marcell Sant’anna Camacho de Oliveira, 28 anos, se casou com o cabeleireiro Gilmar Alves dos Santos, 36 anos, em novembro de 2014. Marcell conta que ficou surpreso em como o processo é rápido e simples. “Foi um progresso muito grande. Nos deu a sensação de igualdade e respeito, sentimos isso no cartório, ninguém fez diferença.”
O relacionamento deles seguiu a tradição, desde o pedido romântico de “quer casar comigo?”, acompanhado de assinatura no cartório, festa e lua de mel em Cancún. Os dois se conheceram em uma festa em Ribeirão Preto, em 2012. Marcell morava em Rio Preto e Gilmar, em Catanduva. Por quase dois anos mantiveram um namoro a distância, até que veio o pedido. Era dia dos namorados, Gilmar tomou a iniciativa: durante o jantar entregou uma caixinha de bombons ao biomédico, no interior da caixa havia uma foto do casal em forma de coração e a famosa frase. Em seguida a garçonete entregou um buquê de flores e Gilmar, as alianças.
A resposta não poderia ser outra: sim. “Foi a realização de um sonho. Não imaginei que ele fosse fazer isso ainda mais num restaurante. Havia uns 12 casais héteros e os que estavam mais próximos nos parabenizaram”, conta Marcell.
O ator e produtor João Darte, 30 anos, e o ator Guilherme Hernandes, 34 anos, se conheceram em 2006 pela internet. Começaram a conversar pelo MSN, programa de mensagens instantâneas. Dois anos depois foram morar juntos. No mesmo ano que a legislação brasileira permitiu o casamento entre pessoas do mesmo sexo, eles decidiram oficializar a união.
Para o casal, o direito adquirido representa um passo “muito grande” tanto para os casais homoafetivos individualmente, como para o avanço dos direitos. “Foi um avanço que chegou bem atrasado. É até banal a gente ter que lutar para ter esses direitos no século 21. A gente sempre recorda que para ter esses direitos adquiridos muito casal homoafetivo apanhou, muito gay morreu na rua. Teve bastante gente que sofreu para a gente ter esses direitos”, diz João.
O preconceito e a falta de conhecimento da realidade LGBT perpetuam esteriótipos sobre o relacionamento homoafetivo. Os casos, segundo João, são velados e a cada dia menos frequentes. “Preconceito sempre existe, nada muito escancarado, que alguém fale diretamente. Mas às vezes a gente percebe um olhar, um comentário ou outro. Não é tão frequente, acho que por sermos independentes, social e financeiramente.”
O companheiro dele, Guilherme, diz que além dos direitos, o contrato também concede aos casais homoafetivos o reconhecimento social da união. “As pessoas criam muito problema onde não tem. Para gente sempre foi muito normal. Inclusive quando saiu a resolução a gente já morava junto, foi só uma forma de colocar no papel. A gente ganha outros direitos que qualquer outro casal tem. É até esquisito falar que a gente ganhou direitos, ou seja, esses direitos que qualquer um tem que ter.”
- 2013 – 28
- 2014 – 25
- 2015 – 25
- 2016 – 39
- 2017 – 44
- 2018* – 12
- Total – 173
*2018 até 10 de maio
Fonte: Arpen – SP (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo)
https://www.diariodaregiao.com.br/_conteudo/2018/05/cidades/rio_preto/1106153-cinco-anos-depois.html