Quitta Pinheiro, a produtora que impulsiona a cultura LGBT no Rio

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Ela mantém coletivo “Baphos Periféricos”, que coordena atividades culturais na região com foco no movimento artístico e empreendedor

O primeiro contato próprio de Quitta com a arte foi na Escola de Fotógrafos do Observatório de Favelas, no Complexo da Maré. Ali, ela conta, começou a ter um outro olhar, mais apurado, sobre o mundo e a própria cidade em que transitava. E foi durante aquele ano de curso, entre lentes e tripés, que ela iniciou sua vida na área artística. Por muitos anos, a produtora ficou no lugar de fotógrafa. Fotografou o Cineclube Buraco do Getúlio, que funcionou na sua cidade natal, Nova Iguaçu, por 12 anos, e lidar regularmente com todas as manifestações culturais que estavam ali presentes fez com que Quitta percebesse que aquilo era o que ela queria fazer. A pluralidade de manifestações do cineclube, destaca a fotógrafa, ia desde apresentações de bandas até performances circenses, sem restrição.

O contato mais próximo com a arte fez com que ela fizesse a sua primeira performance em um sarau, e foi ali que descobriu-se também artista. “Eu performei nesse lugar da transgressão, sendo que eu nem tinha começado minha transição ainda naquela época. Essa primeira performance tem um peso, porque foi a única que eu fiz aqui em Nova Iguaçu, e falava muito dessa explosão de se encontrar e do autoconhecimento. Minhas performances falam sobre mim, e o fato de eu conseguir falar sobre mim foi se desenvolvendo a partir daí”, relembra Quitta.

Minhas performances falam sobre mim, e o fato de eu conseguir falar sobre mim foi se desenvolvendo a partir daí.

Valda Nogueira/Especial para o HuffPost Brasil
Além do caráter artístico, os eventos que têm o dedo de Quitta e da Baphos não deixam de lado a necessidade de falar sobre empreendedorismo LGBT.

A veia artística da família não se restringe somente a ela. Sua irmã, Luana Pinheiro, é ex-coordenadora da Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu, e foi em uma das oficinas de produção de festivais, organizada pela escola, que a Baphos Periféricos foi gestada. “Era uma atividade para pensar um projeto de festival ou mostra, e meu grupo sentiu uma inquietação de debater sobre gênero e sexualidade, principalmente na Baixada Fluminense”, conta a fotógrafa.

Quitta contextualiza que a inquietação do seu grupo, formado por corpos plurais, como negros, gays, gordos e ela, travesti — termo que reivindica — tinha uma forte relação com o movimento pendular de saída da população LGBT da Baixada Fluminense que iria consumir cultura em outro lugar.

“A gente não queria só que os LGBT da região saíssem em direção à capital, mas que ficassem aqui, e também que gente de fora viesse para cá, conhecendo o que é oriundo daqui. Isso fala um pouco também sobre o mercado de trabalho, porque as cidades da Baixada Fluminense são cidades-dormitórios. É para além do movimento artístico, é um movimento da sociedade manter mais as pessoas aqui”, analisa.

A gente não queria só que os LGBT da região saíssem em direção à capital, mas que ficassem aqui.

Valda Nogueira/Especial para o HuffPost Brasil O primeiro contato próprio de Quitta com a arte foi na Escola de Fotógrafos do Observatório de Favelas, no Complexo da Maré.

Além do caráter artístico, os eventos que têm o dedo de Quitta e da Baphos não deixam de lado a necessidade de falar sobre empreendedorismo LGBT. A Baphos Periféricos, então, surge dessa atividade, primeiramente como a ideia de um festival de cinema, mas quando vai às ruas já organiza um evento multimídia. “Tinha rodas de conversa, oficinas. A gente ocupava a praça para colocar o movimento artístico ali. A partir disso, conseguimos abordar várias questões”, relembra a produtora, que afirma ter sido esse trabalho final o estalo necessário para ela perceber que também gostava de todas as etapas da produção artística, do pré ao pós.

“É um evento multimídia com total representatividade, tanto artística quanto empreendedora: no meio da praça tem o palco, e em volta dela a gente promove uma feira para empreendedores LGBT exporem seus produtos. É para que todos vejam que além de artista, a gente também está empreendendo em muitas áreas. A importância não é só de ter para o movimento artístico, mas para mostrar o quanto as pessoas trabalham”, afirma.

Ser a referência dentro de um movimento pode ser cansativo algumas vezes, reconhece Quitta, mas ela contextualiza que a sua trajetória pessoal foi o principal motivo de fortalecimento de sua identidade. É por isto, principalmente, que ela “dá a cara à tapa”.

É para que todos vejam que além de artista, a gente também está empreendendo em muitas áreas.

Valda Nogueira/Especial para o HuffPost Brasil Para Quitta, a arte é um importante meio de avanço da sociedade, principalmente em relação aos direitos LGBT.

Para Quitta, a arte é um importante meio de avanço da sociedade, principalmente em relação aos direitos LGBT: “Se a arte não estivesse no meio de tudo isso, a gente estaria muitos passos atrás. A arte é muito poderosa e muito disseminadora. Quando você vê, acontece coisas que você menos esperava”, define.

Alguns podem achar que a pouca idade de Quitta deveria ser um limitador da sua atuação, mas pelo contrário: seu diálogo com seus pares é fundamental para o fortalecimento do movimento cultural ao qual se dedica. Diante disso tudo, ela define seu sentimento simplesmente em “gratidão”: “Que bom que ao mesmo tempo em que estou ainda me encontrando, também posso fazer por outras pessoas”, finaliza.

Ficha Técnica #TodoDiaDelas

Texto: Lola Ferreira

Imagem: Valda Nogueira

Edição: Andréa Martinelli

Figurino: C&A

Realização: RYOT Studio Brasil e CUBOCC

Todo Dia Delas: Uma parceria C&A, Oath Brasil, HuffPost Brasil, Elemidia e CUBOCC.

 


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